A maioria dos principais canais de notícias internacionais acompanharam o caso do submarino que implodiu enquanto tentava explorar os destroços do Titanic, em maio de 2023. No entanto, poucas pessoas estão cientes de que o turismo marítimo é uma indústria em expansão que tem sérios impactos ambientais. Desde o século 20 até a virada do milênio, essa atividade cresceu descontroladamente, sem levar em conta os limites impostos pela natureza, começando antes mesmo do naufrágio do que era o maior navio do mundo, em 1912.
De acordo com Sidnei Raimundo, especialista em Geografia e Gestão de Recursos Naturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, “ o interesse estava pautado pela rentabilidade de hotéis e loteamentos de segunda residência e pela satisfação do turista”. As preocupações relacionadas ao impacto ambiental e aos benefícios para as populações locais surgiram apenas recentemente. Nesse contexto, a concentração de renda gerada por essa atividade econômica contribuiu significativamente para a marginalização da população mais vulnerável, que foi forçada a se deslocar para áreas de risco. Esse cenário resultou em um aumento dos impactos ambientais e a vulnerabilidade dessas comunidades.
Para Sidnei, “embora haja mudanças nos projetos turísticos, esse modelo ainda permanece”. A saúde do oceano continua sendo agravada pelo turismo desordenado. Construções de infraestruturas sem planejamento, aumento da produção de lixo e esgoto, alteração dos ecossistemas, consumo de souvenirs produzidos a partir de elementos naturais escassos e perda de valores tradicionais, todos contribuem para esse cenário.
Novas formas de fazer turismo surgiram apenas em 1990, o que hoje é chamado de turismo sustentável. Esse modo de turismo leva em conta fatores como a distribuição menos desigual entre investidores externos e as comunidades receptoras. Segundo o professor, “ a equidade entre gerações e o respeito aos modos de vida e costumes locais, um apelo estético, destacando a importância da diversidade de paisagens, inclusive as já urbanizadas na faixa litorânea, uma intrusão mínima em ambientes sensíveis; a avaliação da capacidade da natureza local em suportar interferências humanas e a modificação das atitudes e práticas dos turistas quando visitam ambientes frágeis”, também fazem parte dessa prática.
A partir do século 21, o Turismo de Base Comunitária avança com essas premissas, junto à participação efetiva da população anfitriã no planejamento e gestão das atividades. Alguns exemplos de turismo costeiro sustentável foram listados por Sidnei Raimundo: Praia do Canto Verde, no Ceará; Rede Nhandereko, no Rio de Janeiro; Praia de Castelhanos, em Ilhabela, São Paulo: e a Vila do Marujá, na Ilha do Cardoso, também em São Paulo.
Guilherme Castro Sousa *(estagiário) sob orientação de Márcia Avanza
Parceria: Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano - Instituto de Estudos Avançados, Instituto Oceanográfico, Rádio USP e Jornal da USP
Produção: Alexander Turra, Katharina Grisotti e Julia Lima Monteiro Carvalho
Coprodução: Cinderela Caldeira, Alessandra Ueno, Julia Galvão e Guilherme Castro Sousa Edição: Rádio USP E-mail: ouvinte@usp.br
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