Desde indústrias mineradoras até o lixo doméstico, diariamente, diversas atividades humanas liberam metais pesados na natureza. São raras as localidades livres dessa contaminação, e o oceano acaba absorvendo uma grande parcela desses poluentes. Sua toxicidade representa um perigo não apenas para a vida marinha, mas também para os seres humanos.
O professor Rubens Figueira, especialista em Oceanografia Química do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, explica que o termo “metais pesados” não se refere necessariamente a metais, mas sim a “elementos químicos potencialmente tóxicos, entre os quais se destacam o arsênio, cádmio, cromo, cobre, mercúrio, níquel, chumbo e zinco”. Embora sejam encontrados naturalmente no meio ambiente, em grandes quantidades esses elementos tornam a água e os alimentos impróprios para o consumo, podendo causar disfunções no sistema nervoso e aumentar a incidência de câncer.
Quando ingeridos, os metais pesados tendem a se acumular nos tecidos, como no fígado, nos rins e nos músculos. Dessa forma, quando um ser vivo na base da cadeia alimentar serve de alimento para outro animal, esse predador também fica contaminado. Como os predadores precisam se alimentar de várias presas, acabam desenvolvendo níveis mais elevados de contaminação. “O mercúrio, por exemplo, destaca-se entre esses elementos como um metal que pode aumentar sua concentração ao longo da cadeia alimentar, impactando predadores do topo da cadeia, como peixes, aves e mamíferos, incluindo nós, que também nos alimentamos desses organismos”, explica Figueira.
Indústrias de tintas, cloro, plásticos PVC, metalúrgicas, incineradores de lixo e mineradoras podem despejar grandes quantidades de metais pesados na natureza, caso não haja um sistema adequado de tratamento desses resíduos. Acidentes e desastres ambientais envolvendo essas indústrias também podem ter um impacto significativo. O caso do rompimento da barragem de Brumadinho, por exemplo, afetou severamente a população local. De acordo com a Fiocruz, mais da metade das crianças de 0 a 6 anos apresentava pelo menos um metal acima do valor de referência. Além disso, o lixo doméstico pode incluir metais pesados quando ocorre o descarte inadequado de tintas, pilhas, fertilizantes, pesticidas, canos de água, termômetros e lâmpadas.
As correntes oceânicas atuam como dispersores desses poluentes pelo oceano, tornando praticamente impossível sua remoção. Dessa forma, Figueira destaca que “a instalação de aterros sanitários e industriais, sistemas de filtragem do ar e estações de tratamento de esgoto, entre outras estratégias, têm o potencial de reduzir significativamente a contaminação do ambiente marinho”. O professor explica que, associadas a políticas públicas, educação ambiental e à reciclagem, é possível diminuir ou até mesmo eliminar a propagação de metais pesados na natureza.
Parceria: Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano - Instituto de Estudos Avançados, Instituto Oceanográfico, Rádio USP e Jornal da USP
Produção: Alexander Turra, Katharina Grisotti e Julia Lima Monteiro Carvalho
Coprodução: Cinderela Caldeira, Alessandra Ueno, Julia Galvão e Guilherme Castro Sousa Edição: Rádio USP E-mail: ouvinte@usp.br
Edição: Rádio USP
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