A Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) promoveram na quarta-feira, 14 de agosto, um workshop de apresentação dos trabalhos dos Centros de Ciência e Desenvolvimento (CCDs) voltados para pessoas com deficiência.
Os CCDs são um programa da Fapesp, lançado em 2019, que busca identificar grandes desafios públicos enfrentados pelo governo e, a partir deles, articular diferentes atores na busca por soluções. Esse processo inclui o trabalho conjunto com diversas secretarias estaduais, que têm o papel de definição de problemas prioritários em suas respectivas áreas, e utiliza o modelo de cofinanciamento, no qual a fundação complementa valores das instituições parceiras, viabilizando estudos que tenham o potencial de promover o avanço no conhecimento e proporcionar a melhoria das políticas públicas. Em sua terceira edição, lançada em 2023, a iniciativa promoveu a constituição de 21 novos centros, com um investimento de R$ 130 milhões, e estendeu a parceria à SEDPcD, para a identificação de demandas na área de inclusão, contemplando quatro CCDs voltados para o desenvolvimento de tecnologias assistivas junto às universidades estaduais paulistas.
O secretário de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Marcos da Costa, celebrou: “Este é um momento extremamente marcante na área das tecnologias assistivas e representa um avanço importante no desenvolvimento das políticas públicas, que tem sido um dos principais eixos que a atual gestão tem buscado fortalecer. Esta secretaria tem um papel articulador e o trabalho com as universidades e institutos de pesquisa é fundamental. É uma grande satisfação ver como essas instituições abraçaram a proposta de união em prol da causa da pessoa com deficiência, buscando a efetiva transformação na realidade dessas pessoas”, afirmou.
Para o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Vahan Agopyan, os resultados deste tipo de trabalho extrapolam o âmbito acadêmico: “Este é o típico jogo do ganha-ganha, pois todos usufruem dos resultados. Falamos tanto sobre a chamada terceira missão das universidades, que é ligada à aproximação com a sociedade, e sobre como os institutos de pesquisa precisam estar próximos das universidades, mas não podemos esquecer que o Estado também precisa estar envolvido nessa interação. Neste caso, o que vemos hoje é um cenário onde o poder público levanta os problemas, a Fapesp financia os custos por meio de editais e os grupos de pesquisa apresentam as soluções. Ou seja, ciência, tecnologia e inovação a favor das políticas públicas”, comentou.
O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, traçou um panorama do sistema paulista de ciência e tecnologia e apresentou o programa dos CCDs. “O Estado de São Paulo é forte na área científica devido a um sistema robusto de instituições. Em 2023, revertemos uma tendência de queda de projetos apoiados que havia ocorrido durante a pandemia e investimos R$ 1,36 bilhões em 23 mil projetos, sendo cerca de 10 mil deles novos, o que incentiva o avanço do conhecimento, a inovação e o estudo de temas estratégicos, além de apoiar a infraestrutura, a difusão da pesquisa e o mapeamento da ciência produzida”, destacou.
Segundo Zago, o momento é de comemoração: “Ao ressaltar o sucesso desta iniciativa, estamos dando um exemplo e gerando repercussão para trazer ainda mais propostas e parceiros. Trata-se de um trabalho que vai além da academia e do governo; envolve também empresas e sociedade civil e aponta nichos comerciais, financeiros e um lado social importantíssimo”.
As universidades paulistas foram representadas no encontro pelo reitor da USP e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), Carlos Gilberto Carlotti Junior, que falou sobre a importância da atuação conjunta entre governo, Fapesp, universidades e entidades da sociedade civil, como empresas e organizações. “Ninguém resolve um problema sozinho, e esta metodologia de trabalho conjunto é a mais promissora para resultados efetivos. As universidades paulistas estão prontas para enfrentar qualquer desafio que seja apresentado pela sociedade visando à melhoria de sua qualidade de vida. Estamos comprometidos com a solução de problemas e com a inclusão de toda a população.”
Particularmente em relação à USP, Carlotti mencionou algumas ações mais recentes na área da acessibilidade, como a contratação de novos professores de Língua Brasileira de Sinais (Libras); a reformulação dos sites institucionais para adoção de ferramentas de inclusão; e a reforma do Museu do Ipiranga, que se destacou pela adoção, de forma muito ampla, de ferramentas de acessibilidade nos projetos expositivo e educativo.
Liderado pela USP, o Centro de Tecnologias Assistivas para as Atividades da Vida Diária (Tecvida), sediado na Escola Politécnica (Poli) sob coordenação do professor Arturo Forner-Cordero, irá desenvolver, em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do ABC (UFABC) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), tecnologias avançadas, como exoesqueletos e cadeiras de rodas motorizadas, para promover soluções que restaurem a capacidade de mobilidade e de realização de atividades cotidianas. O objetivo é gerar produtos assistivos modulares com custo mais baixo para o sistema de saúde. Um exemplo são as cadeiras de rodas modulares que permitem ajustes para acompanhar o crescimento de uma criança, além de se adaptar a vários modos de uso: ar livre, ambientes fechados ou atividades esportivas, de acordo com as necessidades de cada pessoa.
O Tecvida também vai atuar junto a diversos grupos de pesquisa para promover coletas de dados e os estudos da evolução de pacientes. Os outros três CCDs, que têm Unesp e Unicamp como sedes, também contam com a participação da USP como instituição associada.
Na Unesp, o Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistida desenvolverá e validará produtos, metodologias e serviços para promover a funcionalidade voltada às pessoas com deficiência. Atuará na formação de multiplicadores e alinhará suas pesquisas com as estratégias da SEDPcD, focando em novas tecnologias, redução de custos e acessibilidade, incluindo estudos em inteligência artificial (IA) e materiais pedagógicos para neurodivergentes.
O Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade em Libras, sediado na Unicamp, utilizará IA para a quebra de barreiras de comunicação. Ainda na mesma Universidade, o Centro de Ciência para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva para a Educação Bilíngue de Surdos visa desenvolver materiais didáticos acessíveis para o ensino de português a estudantes surdos, adotando uma abordagem bilíngue. O trabalho inclui pesquisa, análise de documentos, produção de materiais e formação de profissionais, em parceria com a secretaria de Educação de Campinas.
Edital conjunto
Durante o evento também ocorreu a assinatura do edital conjunto de pesquisas em tecnologia assistivas para pessoas com deficiência, lançado pela USP, Unesp e Unicamp.
A iniciativa é inédita e oferece um apoio financeiro que varia de R$ 100 mil a R$ 500 mil, por um período de dois anos. O edital visa promover colaborações interinstitucionais, com projetos envolvendo pelo menos dois docentes da USP e dois pesquisadores de outras instituições. As propostas podem abranger diversas áreas, desde acessibilidade digital até suportes para autonomia e reabilitação.
No ato da assinatura, o reitor da USP comentou o significado da iniciativa: “Este edital mostra a vontade e o apoio político das universidades para esta causa. Vamos trabalhar juntos para cumprir os objetivos da Universidade de gerar conhecimento e transferi-lo rapidamente para a sociedade”.