O engenheiro agrônomo Marcos Jank assume a Cátedra Luiz de Queiroz

Marcos Sawaya Jank é o segundo titular da cátedra e substitui o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues

 18/01/2019 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 21/01/2019 às 17:12
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O organizador do livro Agro é paz: análises para o Brasil alimentar o futuro, Roberto Rodrigues (segurando um exemplar), o catedrático Marcos Jank (ao fundo, de gravata azul) e os autores dos artigos – Gerhard Walle/Divisão de Comunicação da Esalq

O engenheiro agrônomo Marcos Sawaya Jank é o novo titular da Cátedra Luiz de Queiroz de Sistemas Agropecuários Integrados. O evento de transmissão da titularidade da cátedra foi realizado no dia 17 de janeiro e integrou a cerimônia de posse dos novos diretores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Em seu discurso de posse, o novo titular da cátedra abordou a proposta para o ciclo 2019, quando desenvolverá temática voltada para projetos e propostas de políticas e ações públicas e privadas que ampliem a inserção internacional competitiva e sustentável dos Sistemas Agropecuários Integrados brasileiros no mundo.

“Nossa intenção é promover um debate sobre novos paradigmas do agro, trazendo especialistas para a Esalq. Além disso, pretendo me dedicar à publicação de um livro sobre a relação Brasil-China nesse setor, algo que, tenho certeza, poderá e deverá ser ampliado. Precisamos maximizar essas sinergias entre os dois países”, afirmou Jank.

Engenheiro agrônomo formado pela Esalq em 1984, Marcos Sawaya Jank é presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil, iniciativa que reúne entidades exportadoras com o objetivo de aprimorar a representatividade do agronegócio brasileiro nos países asiáticos.

Foi diretor de Assuntos Corporativos da BRF para a região Ásia-Pacífico, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), presidente do Instituto de Estudos do Comércio e das Negociações Internacionais (Icone) e especialista em Integração e Comércio no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington. Atualmente, integra o Conselho do International Food Policy Research Institute (IFPRI), também em Washington.

Cátedra Luiz de Queiroz

A Cátedra Luiz de Queiroz de Sistemas Agropecuários Integrados é uma cadeira voltada para discussão e realização de atividades abertas à participação de professores e estudantes de graduação e pós-graduação da instituição.

Em seu discurso, o reitor Vahan Agopyan ressaltou a importância desse novo modelo de cátedra. “A cátedra traz em sua essência o olhar externo de especialistas sobre questões que são focos de estudo na USP. Essa abordagem externa da Universidade colabora para a construção do conhecimento de forma inovadora. O modelo deu certo e tem envolvido grande quantidade de estudantes, que estão engajados em iniciativas como essa que ocorre aqui na Esalq e em outras unidades da USP”.

Instalada em 2017, durante a cerimônia de Abertura do Fórum EsalqShow, a Cátedra Luiz de Queiroz teve como primeiro titular o ministro da Agricultura de 2003 a 2006, Roberto Rodrigues.

Em um emocionado discurso de despedida, Roberto Rodrigues agradeceu à Esalq pela iniciativa. “Foi uma honra ter assumido esse desafio e agora entrego essa tarefa com tranquilidade ao Marcos Jank, ciente de que ele também honrará esse chamado na nossa escola”, afirmou.

Roberto Rodrigues entrega o primeiro exemplar do livro para o reitor Vahan Agopyan – Gerhard Walle/ Divisão de Comunicação da Esalq

Agro é paz

Durante a cerimônia também aconteceu o lançamento do livro Agro é Paz: análises e propostas para o Brasil alimentar o mundo. A obra é o resultado do trabalho da Cátedra Luiz de Queiroz no ciclo 2017/2018 e aponta caminhos estratégicos para o Brasil assumir um papel mais proeminente no fornecimento de alimentos para a população mundial.

Organizado pelo primeiro titular da cátedra, Roberto Rodrigues, o livro é composto de 14 capítulos temáticos sobre macroeconomia, política agrícola, indústrias do agronegócio, defesa agropecuária, tecnologia e inovação no agro, competitividade internacional do agronegócio brasileiro, logística, segurança jurídica, sustentabilidade de sistemas de produção agrícola, gestão do agronegócio, agroenergia, cooperativismo e comunicação.

Os artigos são assinados por um grupo de especialistas que se reuniram com o propósito de compor um plano de Estado para que o País assuma o protagonismo no cenário internacional.

Seguem dois trechos do livro:

 “Não haverá paz onde houver fome”                  

 Trecho da apresentação do livro Agro é paz escrita pelo seu organizador, Roberto Rodrigues

“Na virada deste século XXI, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou estudo segundo o qual em 2050 haveria mais de 9,5 bilhões de habitantes na Terra, sendo necessário, até lá, aumentar a produção de alimentos em mais de 60% para garantir a segurança alimentar de todos. Sendo a ONU a guardiã da paz universal, por trás de sua preocupação está a ideia de que não haverá paz onde houver fome.

Estudos posteriores seguiram a mesma temática, entre os quais o realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que, olhando um lapso de tempo menor, igual a dez anos, previu a necessidade de aumentar a oferta global de comida em 20% neste período. Nesse trabalho já era apontado o papel essencial do Brasil, que deveria ampliar sua oferta em 40%, o dobro do que o mundo deveria crescer.

Mais recentemente, em 2017, essa expectativa foi ratificada em estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), segundo o qual se espera que a contribuição brasileira à produção alimentar deva ter um incremento de 41%, uma vez que os grandes países ou grupos de países produtores ficariam muito aquém dessa demanda: nos Estados Unidos, o crescimento seria de 10%; na União Europeia, 12%; no Canadá, 9%; na China, 15%; na Rússia, 7%; na Oceania, 9%. Trata-se de um desafio portentoso, baseado em três características específicas de nosso país: temos a tecnologia tropical sustentável mais efetiva do planeta, temos terra disponível para a ampliação da área agricultável e temos gente competente em todos os elos das diferentes cadeias produtivas”.

Investimento em pesquisa e em infraestrutura

Trecho das observações finais do capítulo “Tendências do Agronegócio Brasileiro para 2017-2030”, escrito por José Garcia Gasques, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Geraldo da Silva e Souza, pesquisador da Embrapa, e Eliana Teles Bastos, do Mapa:

Há um déficit mundial projetado pelo relatório OCDE-FAO (2017) para cereais e carnes. O Brasil deverá exercer um papel importante no suprimento de alimentos, de modo a reduzir as diferenças entre oferta e demanda. O relatório OCDE-FAO (2017) e o relatório USDA (2018) projetam que o Brasil continuará sua liderança em produtos como café e açúcar. No entanto, e mais relevante, deverá ter sua contribuição como um dos principais fornecedores mundiais. Cinco países serão os responsáveis pelo abastecimento mundial de alimentos no próximo decênio.

O crescimento do agronegócio se dará com base, principalmente, na tecnologia. Testes com modelos de séries temporais realizados para a execução deste relatório mostraram dois pontos essenciais: 1) o crescimento nos próximos dez anos ocorrerá com base nos ganhos de produtividade, como vem ocorrendo, no conceito de PTF. O produto agropecuário e a produtividade crescerão a taxas superiores às taxas mundiais; e 2) o crescimento deverá ocorrer com ausência de pressão sobre os recursos naturais, especialmente novas áreas. Isso deve ocorrer porque, nos últimos quarenta anos, 58,4% do crescimento do produto agropecuário deu-se devido às novas tecnologias.

As projeções mostraram que carnes e frutas têm imensas possibilidades de crescimento no mercado mundial. São produtos que apresentam elevado valor agregado e, por essa razão, fazem parte de cadeias complexas com fortes laços com outros setores e intenso efeito sobre a estrutura produtiva da agricultura. Esses produtos, por suas características, incorporam grande contingente de agricultores familiares. O IBGE mostra que aves e suínos têm elevada participação da agricultura familiar. Em bovinos e produção de grãos, essa participação é menor.

Finalmente, lembramos que duas políticas são essenciais parta atingir os níveis projetados das diversas variáveis analisadas: investimento em pesquisa e infraestrutura.

Com informações da Divisão de Comunicação da Esalq


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