Pela primeira vez, USP sedia encontro de estudos afro-latino-americanos de Harvard

Evento continental costuma reunir mais de 200 pesquisadores em estudos raciais para discutir o papel de africanos e afro-latino-americanos na formação cultural, linguística e social da América Latina; pesquisadores ligados à agenda de justiça racial na América Latina podem se inscrever

 28/09/2023 - Publicado há 7 meses

Texto: Camilly Rosaboni*
Arte: Carolina Borin**

Pesquisadoras reunidas no encontro de 2022 sugeriram iniciativas visando o futuro da equidade racial na América Latina - Foto: Reprodução/Melissa Blackall via ALARI/Harvard

Na terceira edição do Encontro Continental em Estudos Afro-latino-americanos, a USP não só vai integrar a composição de pesquisadores, como sediará o evento, pela primeira vez, entre os dias 10 e 12 de julho de 2024. O encontro é organizado pelo Instituto de Pesquisa Afro-latino-americana (ALARI) da Universidade de Harvard, nos EUA. Até 1º de dezembro de 2023,  pessoas ligadas à produção e implementação de agendas acadêmicas de justiça racial na América Latina podem inscrever suas propostas para participar do evento, pelo link

O encontro busca incentivar o campo acadêmico de estudos afro-latino-americanos, reunindo professores, estudantes, pesquisadores, ativistas, artistas e formuladores de políticas públicas que trabalham com comunidades afrodescendentes na América Latina. “São temas muito caros para nós, não só porque temos que mudar esses tipos de questões na Universidade, mas também para incentivá-los como espaço de pesquisa. Então, vai ser um momento muito importante para consolidarmos essa produção de conhecimento”, observa o professor Rogério Monteiro de Siqueira, da Diretoria de Mulheres, Relações Étnico Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP.
Rogério Monteiro de Siqueira - Foto: Reprodução/PRIP

Rogério Monteiro de Siqueira - Foto: Reprodução/PRIP

Em 2024, será a primeira vez que o evento vai ocorrer fora do muros de Harvard, ganhando novos ares acadêmicos no campus da Cidade Universitária, em São Paulo. “Nos outros encontros, muitos brasileiros participaram. Então, acreditamos que é mais fácil trazer Harvard ao Brasil do que levá-los para lá”, explica a coordenadora do ALARI Bronia Greskovicova-Chang. “Estamos buscando maneiras flexíveis de compartilhar conhecimento de impacto”, complementa ela. 

Para participar

Os interessados podem se inscrever em trabalhos individuais ou painéis, entre 16 temas variados, como: Gênero e Feminismo na América Latina; Movimento Afrodescendente e Mobilização Negra; Representação Política, Governo e Políticas Públicas; Escravidão transatlântica e tráfico negreiro; e Artes visuais, literatura, cultura, arqueologia e religiões afro-latino-americanas.

Além disso, a proposta deve se enquadrar nos seguintes critérios:

  • A apresentação deve durar de 15 a 20 minutos;
  • A parte escrita pode estar em inglês, espanhol ou português, de 7 a 8 páginas, na formatação Times New Roman, 12, com espaçamento duplo;
  • O resumo da apresentação não deve ultrapassar 250 palavras (1.500 caracteres), e a biografia curta 150 palavras (1.000 caracteres);
  • Será aceita apenas uma inscrição por pessoa. 
Trabalhos em outros formatos, como material audiovisual, performances, workshops, mesas redondas, apresentação de livros, podem ser apresentados, desde que tenham de 90 a 120 minutos de duração, e seu resumo tenha até 400 palavras.

Representatividade histórica

O primeiro encontro ocorreu em dezembro de 2019 na Universidade de Harvard, com a participação de mais de 180 palestrantes, sendo quatro da USP, além da única brasileira presente na organização do evento: a professora Márcia Lima, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e titular da secretaria de Políticas de Ações Afirmativas e Combate e Superação do Racismo no Governo Federal. O objetivo era ressaltar o papel central desempenhado pelos africanos e seus descendentes na formação da América Latina. A programação completa apresentada pode ser vista no link.

Bronia Greskovicova-Chang - Foto: Reprodução/Melissa Blackall via ALARI/Harvard

Bronia Greskovicova-Chang - Foto: Reprodução/Melissa Blackall via ALARI/Harvard

A conferência tomou como base outros dois eventos antecessores em Harvard: a África nas Américas, organizado em 1998 por Doris Sommer, professora de Estudos Africanos e Afro-Americanos em Harvard; e Os Negros na América Latina, realizado em 2011 por Henry Louis Gates Jr., escritor que publicou um livro com o mesmo título, tratando da transformação cultural, social e linguística proveniente da chegada do povo africano ao território latino-americano. A obra está disponível neste link.

Durante as discussões, pessoas na plateia levantavam cartazes com frases como: “Harvard: onde estão os africanos em estudos afro-latinos?”, “aumente a transparência na revisão de processos acadêmicos”, “Bacow [presidente da Universidade de Harvard entre 2018 e junho de 2023] quer a nossa determinação, mas não nossos professores”, “nós não somos objeto de estudo, somos estudiosos criadores de campo” e “acadêmicos afro-latinos não são dispensáveis. Descolonize-se!”.

A segunda edição foi realizada em dezembro de 2022, em Harvard. Houve um aumento da participação da comunidade USP, que foi representada por cerca de 16 pesquisadores que estão ou já passaram pela Universidade. No total, o evento reuniu mais de 250 pessoas, em que mais de 60% se autodeclararam descendentes africanos e 68% como mulheres. No período em questão, Márcia destacou que uma das principais marcas do evento é contar com uma “enorme participação de brasileiros, em especial mulheres negras pesquisadoras”.

A reunião marcou a criação do Consórcio Universitário em Estudos Afro-Latino-americanos, com o objetivo de “institucionalizar o campo acadêmico  voltado para as experiências dos afrodescendentes e formar uma nova geração de pesquisadores buscando uma mudança antirracista rumo à equidade e inclusão”, explicam os organizadores.

O consórcio reúne as seguintes instituições: Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro), do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap); Centro de Estudos Afrodiaspóricos (CEAF), da Universidade ICESI, na Colômbia; Grupo de Estudos Afro-Latino-Americanos (GEALA), da Universidade de Buenos Aires, na Argentina; Afrodescendentes e Diversidade Cultural, do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), juntamente com a Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM), no México; o Centro de Estudos Latino-Americanos (CLAS), da Universidade de Pittsburgh, e o Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas (ALARI), da Universidade de Harvard, ambos nos EUA.

Márcia Lima - Foto: Lattes

Márcia Lima - Foto: Lattes

Mais informações: alari@fas.harvard.edu

*Estagiária sob orientação de Tabita Said e Antônio Carlos Quinto

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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