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Desenhos de crianças registram cotidiano e aspirações em ocupações paulistanas
Publicação gratuita e disponível on-line apresenta desenhos criados por crianças moradoras das Ocupações Mauá, Ipiranga e Prestes Maia, na cidade de São Paulo; desenhos são acompanhados de fotografias de espaços e grafites na pesquisa “Crianças e Mulheres em Luta por Moradia”, da USP
Texto: Redação*
Arte: Carolina Borin Garcia (estagiária)**
“Desenhar e Ocupar: Crianças na Mauá, Ipiranga e Prestes Maia” está disponível no Portal de Livros Abertos da USP – Foto: Cedida por Marcia Aparecida Gobbi
Está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP o ebook “Desenhar e Ocupar: Crianças na Mauá, Ipiranga e Prestes Maia”, da professora Marcia Aparecida Gobbi, da Faculdade de Educação (FE) da USP. Com 120 páginas, a obra apresenta 65 desenhos criados pelas crianças moradoras dessas ocupações em diferentes situações em que Gobbi e colaboradoras estiveram nos três locais. Os desenhos são acompanhados de 56 fotografias de espaços, grafites e cenas com crianças desenhando ou brincando.
A produção do livro, sem fins lucrativos, é resultante dos projetos de pesquisa realizados por Gobbi e colaboradoras na Ocupações Mauá, Ipiranga e Prestes Maia, na cidade de São Paulo, entre 2018 e 2020, e de seu projeto como participante do Programa Ano Sabático do IEA, intitulado “Crianças e Mulheres em Luta por Moradia: Na Lida Cotidiana, as Escolas Frequentadas e Representadas”.
Segundo a autora, a obra “não traz respostas objetivas a todos os questionamentos possíveis sobre o que é vivenciado e protagonizado” nas ocupações. O objetivo é provocar reflexões a partir dos desenhos elaborados pelas crianças no espaço urbano e na luta por moradias. “São histórias visíveis que mostram clipes da vida cotidiana, pensamentos, expectativas, desejos, histórias e condições pessoais e muito mais”, afirma Gobbi.
“Como as vidas das crianças encontram-se nas evidências das contradições que enredam as cidades, a compreensão do mundo que se forja junto à utopia promotora de projetos futuros não pode se dar sem as crianças, desde as/os bebês. Escutá-las é ato político e considerar suas falas, gestos e posturas remete à utopia do possível, com elas”
Marcia Aparecida Gobbi - Foto: Reprodução/YouTube
De acordo com as pesquisas no período em que os desenhos e fotos foram feitos, a existência das ocupações tem transformado “muito positivamente” os locais onde se encontram. “Mesmo com a precariedade e insalubridade de muitos de seus cômodos e pátios, elas animam e fortalecem as relações entre as pessoas que os habitam e passam por lá por diferentes motivos: festas, pessoas em busca de cuidados – alimentos, medicamentos, abrigo – e demais reuniões envolvendo formação de pessoas em lançamentos de livros, debates, almoços. Isso altera e/ou coloca em suspensão o tempo, os ritmos e os espaços ao redor, transformando-os ao serem dinamizados”, relata a autora no livro.
Desenho de Julia Gomes Nascimento, moradora da Ocupação Ipiranga em novembro de 2019 - Imagem: Reprodução/Desenhar e ocupar: crianças na Mauá, Ipiranga e Prestes Maia
Em movimento
A pandemia afetou o processo de pesquisa, levando os participantes a criarem condições para manter alguma comunicação e desenhar a distância. Dentre as ações desenvolvidas para enfrentar as limitações do distanciamento social, especialmente no primeiro ano de pandemia, destacam-se a criação do podcast emmovimentos e a distribuição de caixas decoradas com materiais para desenho contendo lápis, caneta hidrocor, papeis, giz de cera, massas de modelar. “Elas se apresentavam como kits que eram deixados na portaria de duas ocupações, Mauá e Ipiranga, que, além de pertencerem ao mesmo movimento social – Movimento de Moradia Luta e Justiça (MMLJ)-, são próximas geograficamente. Junto a eles havia questionários com perguntas fechadas sobre a vida no início da pandemia e termos de autorização para a pesquisa que passava a acontecer em outro formato. O objetivo era conhecer as mudanças nesse contexto trágico, utilizando o questionário e os desenhos — que podiam ser feitos pelas crianças e as mulheres, mães e/ou avós”, explicam as autoras.
Além de pensar a relação entre crianças e cidades, o podcast emmovimentos criou a Série Pela Democracia, com episódios sobre infância negra, mulheres, comunicação, práticas políticas, educação popular, cidades e democracia. O desenvolvimento e a produção do podcast é uma iniciativa do Grupo de pesquisa Crianças, práticas urbanas, gênero e imagens, da FE.
Desenhar e ocupar: crianças na Mauá, Ipiranga e Prestes Maia
2022, 122 páginas
Disponível no Portal de Livros Abertos da USP para visualização ou download
*Com informações de Mauro Bellesa, da Assessoria de Comunicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, editado por Tabita Said
**Sob supervisão de Moisés Dorado e Simone Gomes de Sá
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