Teatro da USP exibe peças populares que fazem críticas sociais

A Companhia do Latão apresenta “O Mundo Está Cheio de Nós” e “Lugar Nenhum” e ainda oferece oficina de encenação gratuita

 03/02/2023 - Publicado há 1 ano
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Cena de Lugar Nenhum – Foto: Reprodução/João Maria

 

O Teatro da USP (Tusp) inaugurou sua programação de 2023 no último dia 2. O programa marca o retorno da Companhia do Latão em São Paulo, após três anos. A estreia é com a peça O Mundo Está Cheio de Nós (2019), que fica em cartaz até 12 de fevereiro. A companhia volta a se apresentar no dia 23, com a peça Lugar Nenhum (2018), que fica em cartaz até 5 de março. Ambos os roteiros foram projetos colaborativos entre o dramaturgo e diretor Sérgio de Carvalho e os atores. Para garantir seu ingresso basta acessar o Sympla – a entrada custa R$ 40,00. As apresentações são de quinta a domingo. A companhia também vai oferecer, de 13 a 16 de fevereiro, uma oficina gratuita de dramaturgia, que tem inscrições abertas até este domingo, dia 5. A Companhia do Latão propõe em seus 26 anos de existência compreender a história brasileira, considerando a herança escravista, colonial e de economia sustentada pela periferia, trazendo a questão do trabalho em evidência. “O teatro é uma tentativa de compreender um lado das pressões do mundo do capital sobre a vida das pessoas em geral”, explica Sérgio de Carvalho.

O Mundo Está Cheio de Nós se passa no bairro da Liberdade, em São Paulo. Conta a história de Valéria Dim, uma prostituta que trabalha nas regiões de maior prestígio da metrópole. “Essa é uma peça que foi originalmente feita para as ruas, foi inclusive encenada em espaços ao ar livre”, destaca Carvalho. “O espetáculo tem a ver com a vida no mundo da mercadoria, a pressão da grana sobre a vida das pessoas e a percepção de que você é um funcionário das relações do capital.”

“Valéria é uma personagem que se opõe um pouco à realidade pela ingenuidade dela”, descreve Carvalho. Enquanto a personagem principal perambula pelas ruas, ela se depara com os encontros e desencontros afetivos, esperança e desesperança, desigualdade social, trabalho precário, violência e experiências que apenas a selva de pedra pode oferecer. “Ela traz um sentimento de estrago e ao mesmo tempo de esperança e de vida, sempre que existe a chance de as pessoas se conectarem em torno de uma sensação de igualdade”, conta o diretor.

Cena de O Mundo Está Cheio de Nós – Foto: Reprodução/João Maria

 

A peça conta com nove atores e três músicos, que tocam ao vivo baixo, violão, teclado, percussão e sanfona. O roteiro é uma obra original inspirada no filme Noites de Cabíria (1957), de Federico Fellini (1920-1993). O texto também possui citação de poemas escritos pelo alemão Bertolt Brecht (1898-1956).

Saindo do ambiente caótico que é a maior metrópole da América Latina, Lugar Nenhum (2018) se passa em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. A peça, que reestreia após o carnaval, traz a comemoração de aniversário do filho de uma família de artistas. Durante o final de semana, um cineasta decadente, uma atriz famosa, um jornalista liberal e um músico que foi preso durante a ditadura militar ficam juntos para celebrar a data. Lançada pela primeira vez em 2018, foi a forma que Sérgio de Carvalho encontrou para trazer a debate a ameaça da ditadura e como isso afeta a vida das pessoas.

A Companhia do Latão criou Lugar Nenhum com base na vontade de apresentar algo inspirado nas obras do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904). “Para nós, não interessava só fazer um texto do Tchekhov. Queríamos uma peça totalmente nova, inspirada no método dele”, diz Carvalho. É um método em que as peças têm personagens ligadas à vida cultural, muitas vezes artistas, mostrando a relação deles com a vida material. “Ao mesmo tempo em que a cultura projeta um sonho de um mundo diferente, às vezes ela se liga a relações de trabalho arcaicas”, frisa o diretor.

Política de democratização: a oficina de dramaturgia

Ministrada pela Companhia do Latão, com coordenação da atriz Helena Albergaria, a oficina de teatro terá foco em improvisações e análise de cenas com exercícios de imaginação relacional e jogos teatrais. A atividade acontecerá entre os dias 13 e 16 deste mês, das 10h às 13h, no Centro Maria Antonia da USP. É gratuita e para participar é preciso realizar as inscrições que estão abertas até dia 5 e o resultado será divulgado no dia 7. “Não basta falar de temática política em obras. Nós precisávamos descobrir uma forma politizante de criar relações de trabalho, mais igualitárias ou menos injustas, como costumam ser tradicionalmente. Para isso trazemos uma oficina gratuita”, ressalta Sérgio de Carvalho.

Companhia do Latão em cena – Foto: Reprodução/João Maria

 

 


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