Clareira do MAC apresenta instalação artística “as maravilhas*”

Colaboração de Laercio Redondo e Birger Lipinski pode ser visitada de terça a domingo, das 10 às 21 horas

 22/09/2023 - Publicado há 1 ano
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Instalação exibe série de 17 esculturas que homenageiam personalidades brasileiras - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Chiquinha Gonzaga, Ney Matogrosso, Leila Diniz, Linn da Quebrada, Madame Satã e Anitta. Essas são apenas cinco das 17 personalidades brasileiras que têm seus corpos representados em as maravilhas*, nova instalação na Clareira do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Até 28 de janeiro de 2024, o público pode conferir o trabalho do artista plástico Laercio Redondo em colaboração com o arquiteto Birger Lipinski, de terça a domingo, das 10 às 21 horas. A entrada é gratuita.

Localizada no piso térreo do museu, a Clareira é um espaço que acolhe diferentes manifestações artísticas – desde apresentações de música, dança, literatura e teatro, a textos e leituras de obras – desde 2021. Agora, o que preenche o local e chama a atenção do público logo ao entrar no prédio é o conjunto de esculturas móveis desenvolvido pelo artista paranaense. 

“Vejo os móbiles apresentados aqui como representação de corpos performáticos – corpos que são públicos e políticos devido à sua relação com o gênero, orientação sexual e diversidade étnica”, explica Redondo. “São corpos que encapsulam, revelam ou provocam as fantasias e ansiedades inerentes às ideologias e desejos dominantes.” 

Para a seleção das 17 personalidades que formam a instalação, o afeto e a admiração foram sentimentos levados em conta pelos artistas. “As personalidades foram escolhidas pelo valor que estas pessoas têm para nós quando pensamos o quanto elas mudaram nossa percepção do mundo e do que um corpo pode ser durante a sua existência”, conta Redondo.

Para ele, as maravilhas* sugere “algo extraordinário, que muda nossa percepção sobre a nossa experiência na vida”. “Para nós, essas 17 pessoas retratadas nos móbiles produzem um maravilhamento nesse sentido. São personagens que transformam nossa percepção do que é e do que pode um corpo no mundo.”

A lista inclui Hélio Oiticica, Luz del Fuego, Clara Nunes, Elza Soares, Elke Maravilha, Simone Mazzer, Bidu Sayão, Brenda Lee, Maria Bethânia, Clóvis Bornay e Clementina de Jesus. “O que une essas personalidades diversas é a relação vital que cada uma mantém com a música, a voz e/ou a dança, refletindo sua essência corpórea. Esse elemento crucial desempenha um papel determinante na escolha dos sujeitos a serem retratados”, comenta.

São 17 móbiles dispostos pela Clareira e, no chão, uma etiqueta enumera cada uma das obras. Ao longo das paredes de vidro do prédio, os números de 1 a 17 identificam cada uma das figuras brasileiras representadas. Os móbiles, no entanto, não seguem uma ordem crescente – e isso tem uma motivação. De acordo com Redondo, seguir uma numeração lógica e óbvia traria uma camada muito literal para a instalação. “Na realidade, podemos entender essa instalação como um grande baile e, em um baile, podemos dançar.”

Para Redondo, essa “dança” é possibilitada pela estrutura de cada móbile. Suspensas por fios, as obras rotacionam em seus próprios eixos conforme o visitante percorre o espaço. “O corpo do visitante provoca, nesse encontro com a estrutura dos móbiles, uma certa fricção ou ‘dança’, que a movimenta”, observa. 

Em meio à instalação, é difícil enxergar cada obra separadamente. Os espaços, reflexos e transparências dos materiais utilizados fazem com que os móbiles se fundam e criem uma só imagem. A totalidade da tridimensionalidade das obras também é complexa de ser traduzida através da fotografia. Conforme se movimentam, elas adquirem novas composições e ângulos, proporcionando sempre olhares únicos para quem visita o lugar.

O principal desafio para conceber as maravilhas* foi singularizar cada móbile como um retrato, segundo Redondo. “Os móbiles, junto aos verbetes nas paredes, convidam o espectador a uma visita muito especial e delicada a uma certa história do País e esses personagens tão singulares na nossa cultura e que deixaram uma marca profunda na paisagem cultural do País.”

Trabalhar o retrato de corpos através de móbiles não foi algo novo para Redondo, entretanto. Tudo começou em 2010, quando o artista lançou a instalação de oito móbiles Carmen Miranda – An opera of the image. Na época, ele queria falar sobre Carmen Miranda sem usar sua imagem literal. “Queria trazer algumas nuances sobre a persona de Carmen que não fossem meramente um clichê e que de alguma forma se aproximam das várias camadas que o personagem e a pessoa Carmen nos apresentam ou escondem”, detalha.

Além de Carmen Miranda, o artista, em colaboração com Lipinski, já retratou outros personagens através de esculturas móveis. A norte-americana Josephine Baker, a espanhola Carmen Tórtola Valencia e a brasileira Luz del Fuego – representada em as maravilhas* – também já foram integradas em suas pesquisas.

Laercio Redondo nasceu em 1967, na cidade de Paranavaí, Paraná. Concluiu pós-graduação na Konstfack – University of Arts, Crafts and Design em Estocolmo, Suécia. Também tem obras no acervo do MAC-USP, duas delas presentes na exposição Lugar Comum, em cartaz até dezembro no museu.

A instalação as maravilhas*, de Laercio Redondo e Birger Lipinski, está disponível para visitas das terças-feiras aos domingos, das 10 às 21 horas, na Clareira do Museu de Arte Contemporânea (Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada gratuita. Mais informações estão disponíveis no telefone (11) 2648-0254.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.


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