Você sabe como são formadas as nuvens de gafanhotos?

Em entrevista ao podcast Estação Esalq, o professor Sinval Silveira Neto explica como surge o fenômeno e como combatê-lo

 17/07/2020 - Publicado há 4 anos
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A nuvem de gafanhotos destruiu uma lavoura de milho em Córdoba, na Argentina – Foto: via Fotos Públicas

Recentemente o aparecimento de uma nuvem de gafanhotos que se formou no Paraguai e se espalhou pela Argentina chamou bastante atenção. As autoridades brasileiras ficaram em estado de alerta com a possibilidade de os insetos chegarem ao Brasil. Em entrevista ao podcast Estação Esalq, produzido pela Divisão de Comunicação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, o professor sênior do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq, Sinval Silveira Neto, falou sobre a formação dessas nuvens de gafanhotos, além de históricos ocorridos no Brasil e a melhor forma de combatê-las. 

Segundo Neto, a primeira nuvem grande que assolou o País ocorreu por volta de 1947-1948. Os gafanhotos foram denominados, de maneira vulgar, como gafanhotos migradores sul-americanos. “ Essa espécie é conhecida como Schistocerca cancellata, uma espécie que é própria da região do Chaco, no Paraguai”, explicou. 

Periodicamente, em decorrência da combinação de diversos fatores, como a falta de alimentação na área em que os insetos se encontram, os gafanhotos formam uma geração que é induzida a migrar. É por este motivo que, de tempos em tempos, podem haver surtos de gafanhotos e formação das “nuvens”, que avançam território afora. 

Quais as chances de a nuvem atingir o Brasil? 

De acordo com o professor, “provavelmente, essa nuvem não virá para o Brasil, pois o gafanhoto ou qualquer outro inseto migrante, quando executa o voo caracterizado de nuvens de migração, tem uma direção preestabelecida”. 

Além disso, alguns fatores contribuem para que a nuvem de gafanhotos atravesse a Argentina e chegue apenas ao Uruguai, como a entrada de uma frente fria e úmida no Sul do País. “Os gafanhotos, para executarem essa movimentação, precisam de condições quentes e secas. A frente fria e úmida atrapalha muito o deslocamento, de tal forma que, acredito, a nuvem está terminando sua jornada no Uruguai e vai cessar por aí”, explicou Neto. 

Comida e reprodução 

A nuvem de gafanhotos se desloca à procura de alimentação. Os insetos voam durante o dia e pousam em determinados locais durante a noite, normalmente onde encontram alimento suficiente, sendo frequente o pouso em locais de agricultura. Isso acaba se tornando um problema. Na Argentina, por exemplo, nas principais regiões atingidas havia produção de cana-de-açúcar e mandioca, além de apresentarem condições climáticas favoráveis. 

Mas os insetos não se alimentam só de vegetação plantada. “O ataque não se restringe apenas a culturas anuais, podem atacar também plantas perenes (espécies vegetais que possuem um ciclo de vida longo). E se não tiver cultura os gafanhotos vão se alimentar de plantas arbóreas e de mata. A pousada deles é sempre para alimentação e, depois, em seguida, para a reprodução”, detalhou o professor. 

Professor Sinval Silveira Neto, da Esalq – Foto: Gerhard Waller

Após a alimentação, os gafanhotos se acasalam. As fêmeas colocam os ovos no solo onde os insetos estão estabelecidos. Então, elas fazem um buraco no chão, introduzem o abdômen, depositam os ovos e os protegem com uma secreção impermeável, para que o desenvolvimento dos novos insetos não seja prejudicado em casos de chuva. No dia seguinte, as fêmeas e machos levantam voo e prosseguem com o deslocamento. 

Após aproximadamente 20 dias, os ovos eclodem em ninfas, a forma mais jovem dos gafanhotos. Depois de mais de um período de 20 a 30 dias, essas ninfas trocam de pele e começam a se movimentar no solo, sendo chamadas popularmente de “saltões”, porque passam a se deslocar pelo solo aos saltos. Segundo o docente, “esses saltões se deslocam no mesmo sentido em que a nuvem está se deslocando, então eles já têm aquela determinação de rumo. Vão continuar andando pelo solo até adquirem asa e, a hora que adquirem, já no estado adulto, vão voar formando uma nuvem secundária na mesma direção, continuando o que os progenitores estavam fazendo”. 

Técnicas para combater a nuvem

Quando estão em revoada, os gafanhotos abrem uma frente de voo muito longa e, em função disso, é difícil combater os insetos na nuvem. A maneira mais eficaz de combate é quando eles estão pousados. A técnica mais comum é o uso de inseticidas que devem ser pulverizados sob a colônia. “Sabendo o local, fica mais fácil entrar com a aplicação aérea ou tratorizada para fazer a pulverização, que deve ser realizada à noite, pois no dia seguinte de manhã eles saem voando. É preciso cortar essa movimentação enquanto estão pousados”, explica o docente do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq. 

O local de pouso dos gafanhotos também precisa ser demarcado e, posteriormente, pulverizado com inseticidas para acabar com as ninfas depositadas pelas fêmeas no solo. De acordo com Neto, há uma técnica mais vantajosa para acabar com a forma jovem dos gafanhotos: “Como as ninfas e os “saltões” também possuem direção preestabelecida, andando sempre na mesma direção que a primeira nuvem, é recomendado abrir um sulco no terreno na frente do deslocamento e jogar nessa valeta o inseticida em pó seco, de forma que quando eles forem atravessar entrem em contato com o pó. Essa é a forma mais eficiente de controle da segunda geração que vem vindo”. 

Acesse a entrevista na íntegra do podcast Estação Esalq clicando no link


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