Grupo obtém patente de método que permite criar filtros solares mais naturais, eficazes e ecológicos

Desenvolvido por pesquisadores da USP, processo propõe usar partículas de sílica revestidas com melanina em formulações para proteger a pele não só dos raios UVA e UVB, como também da luz visível

 23/10/2023 - Publicado há 1 ano
Partículas de sílica revestidas com um filme ultrafino de melanina são capazes de impedir que os raios solares atinjam e sejam absorvidos pelo DNA presente no núcleo das células da pele – Fotomontagem: Jornal da USP – Foto: storyset/Freepik

 

Julia Moióli*

Cientistas vinculados ao Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) da USP desenvolveram um método para obter partículas de sílica revestidas com potencial uso na fabricação de filtros solares mais naturais, ecológicos, seguros e com proteção mais ampla.

O processo criado no Redoxoma – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP – teve a Patente de Invenção recentemente concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no âmbito do projeto Processo de Obtenção de Nanossílica Revestida e seu Uso.

Mauricio da Silva Baptista – Foto: Reprodução/SBQ

“Os fotoprotetores utilizados atualmente atuam muito bem contra os efeitos da radiação ultravioleta B [UVB], que penetra nas camadas mais superficiais da pele. Ou seja, são eficazes em evitar vermelhidão e outras reações inflamatórias agudas que acontecem durante a exposição solar e nas horas posteriores”, explica Mauricio da Silva Baptista, professor do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química (IQ) da USP e coordenador do trabalho, conduzido durante o mestrado de André José Cardoso de Miranda, defendido em 2016.

“Porém, protegem apenas parcialmente contra os raios UVA, causadores de fotoenvelhecimento, câncer, catarata e degeneração macular relacionada à idade. Além disso, deixam passar completamente a luz visível, faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres por exposição ao Sol. Isso é um problema, já que é comprovado que todas as células da pele respondem a essas radiações e que seu excesso produz um dano razoavelmente severo, com consequências crônicas, como envelhecimento celular”, acrescenta Baptista.

No novo processo, partículas de sílica são sintetizadas e revestidas com um filme ultrafino de melanina, capaz de impedir que esses raios atinjam e sejam absorvidos pelo DNA presente no núcleo das células da pele. “Essa é a grande vantagem comercial prevista para a invenção”, afirma Baptista.

Por envolver apenas produtos naturais (partículas de sílica são basicamente um derivado da areia e melanina é um polímero natural proveniente do aminoácido tirosina), o processo dá origem ainda a um protetor mais ecológico. “Muitos filtros solares comerciais estão sendo banidos porque algumas de suas moléculas, como o dióxido de titânio, causam danos significativos ao meio ambiente, como a morte de corais”, lembra Baptista.

Outra vantagem é que não há risco de danos sistêmicos, já que a partícula não penetra na pele como alguns fotoprotetores comerciais – aos quais já foram associados efeitos equivalentes à ingestão de hormônios.

Baixo custo

O método patenteado tem ainda outra vantagem: se desenvolvido e escalado pela indústria cosmética, pode ter um custo acessível. Isso porque a enzima tirosinase, usada na síntese da melanina, não está ligada diretamente à partícula de sílica – o que aumenta sua atividade catalítica (de acelerar a transformação de tirosina e melanina) e permite o reaproveitamento desse insumo.

“Nossa expectativa é que, com a patente concedida, consigamos nos aproximar de empresas para desenvolver o filtro solar em nível comercial, especialmente porque não há nada nem remotamente semelhante ao nosso processo no mercado”, diz Baptista.

De acordo com o pesquisador, o que mais se aproxima da tecnologia são os BB Creams com cor, que são feitos com óxidos de ferro e possuem fator de proteção solar (FPS) e também protegem da luz visível. No entanto, segundo o pesquisador, esses produtos também podem trazer consequências desfavoráveis para o organismo e para o meio ambiente.

A patente obtida pelo grupo do Redoxoma tem prazo de validade de 20 anos, contados a partir de outubro de 2016. Está disponível nas bases de patentes internacionais e do INPI.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

*da Agência Fapesp, com edição de Fabiana Mariz


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