Camundongos e “minicérebros” humanos comprovam zika vírus como causa de microcefalia

Em testes feitos nos animais, os resultados se assemelharam aos dos bebês humanos

 11/05/2016 - Publicado há 9 anos     Atualizado: 25/04/2018 às 10:32
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Jean Pierre Schatzmann Peron - Foto: Núcleo de Divulgação Científica da USP
Jean Pierre Schatzmann Peron, pesquisador do ICB – Foto: Núcleo de Divulgação Científica da USP

Pesquisadores da USP conseguiram comprovar que o zika vírus está mesmo relacionado às malformações congênitas, como a microcefalia. O fato foi confirmado experimentalmente pela primeira vez por uma equipe de cientistas – até o momento só havia evidências de que houvesse a correlação.

Os testes foram feitos em camundongos e em minicérebros humanos, que mostraram a morte das células que dão origem ao cérebro. Além desses resultados, a relevância da pesquisa está no estabelecimento de um modelo experimental para se compreender a ação do vírus no organismo humano.

Paolo Zanotto, pesquisador da USP e coordenador da Rede Zika Vírus, explicou que a definição de um modelo experimental significa um grande “avanço científico” porque, a partir dessa etapa, os pesquisadores passarão para a fase dos “ensaios pré-clínicos que possibilitam o aperfeiçoamento de diagnósticos e o desenvolvimento de vacinas, terapias e imunoterapias”.

Jean Pierre Schatzmann Peron, Patrícia Beltrão Braga e Paulo Zanotto - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Jean Pierre Peron, Patrícia Braga e Paolo Zanotto apresentam pesquisa a jornalistas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Os testes foram feitos com o vírus que circula no Brasil e o de origem africana, sendo comprovada uma maior agressividade no da cepa brasileira. Segundo Patrícia Cristina Baleeiro Beltrão Braga, da Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e responsável por essa parte da pesquisa, após quatro dias de infecção, o vírus brasileiro causou mortalidade celular em maior quantidade, extinguindo quase que totalmente as células em proliferação no laboratório. Apesar de os estudos terem sido feitos em modelos animais e in vitro”, Zanotto explica que os sinais são semelhantes aos que ocorrem nos bebês humanos, filhos de mães que foram infectadas pelo mosquito Aedes aegypti..

Segundo Jean Pierre Schatzmann Peron, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e responsável pelos testes em camundongos, o vírus foi capaz de atravessar a placenta das fêmeas, infectar os fetos, restringir seu crescimento e provocar a morte das células que formariam o cérebro dos ratos. Para o pesquisador, essas são evidências que contribuem para confirmar a ligação entre a infecção de mulheres gestantes pelo vírus brasileiro da zika e a geração de bebês com malformações congênitas. “As análises feitas em camundongos permitiram observar que, além da morte celular no cérebro, há evidências de que o vírus também pode causar restrição no crescimento do feto.”

Os resultados da pesquisa foram publicados na edição online da revista Nature do dia 11 de maio, no artigo The Brazilian Zika virus causes birth defects in experimental models, que relata o conjunto de experimentos liderados por  Jean Pierre Peron e Patricia Braga.

Rede Zika Vírus

Instituto de Ciências Biomédicas da USP - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Instituto de Ciências Biomédicas da USP – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, coordena uma rede de pesquisa formada no Estado de São Paulo para estudar o zika vírus. É uma força-tarefa envolvendo 42 laboratórios, alguns deles da própria USP, que estão trabalhando para compreender melhor o vírus, a fim de desenvolver diagnóstico, vacinas e terapias contra a doença. As pesquisas da Rede Zika Vírus têm a colaboração de outras instituições brasileiras e estrangeiras, como o Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, que é um dos principais centros de pesquisa em arboviroses – doenças transmitidas por ácaros e mosquitos como o Aedes aegypti. A rede ainda conta com o apoio do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de agências de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Assista à reportagem do Núcleo de Divulgação Científica da USP sobre a pesquisa

Mais informações: (11) 3091-0874


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