Pesquisadores da USP conseguiram comprovar que o zika vírus está mesmo relacionado às malformações congênitas, como a microcefalia. O fato foi confirmado experimentalmente pela primeira vez por uma equipe de cientistas – até o momento só havia evidências de que houvesse a correlação.
Os testes foram feitos em camundongos e em minicérebros humanos, que mostraram a morte das células que dão origem ao cérebro. Além desses resultados, a relevância da pesquisa está no estabelecimento de um modelo experimental para se compreender a ação do vírus no organismo humano.
Paolo Zanotto, pesquisador da USP e coordenador da Rede Zika Vírus, explicou que a definição de um modelo experimental significa um grande “avanço científico” porque, a partir dessa etapa, os pesquisadores passarão para a fase dos “ensaios pré-clínicos que possibilitam o aperfeiçoamento de diagnósticos e o desenvolvimento de vacinas, terapias e imunoterapias”.
Os testes foram feitos com o vírus que circula no Brasil e o de origem africana, sendo comprovada uma maior agressividade no da cepa brasileira. Segundo Patrícia Cristina Baleeiro Beltrão Braga, da Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e responsável por essa parte da pesquisa, após quatro dias de infecção, o vírus brasileiro causou mortalidade celular em maior quantidade, extinguindo quase que totalmente as células em proliferação no laboratório. Apesar de os estudos terem sido feitos em modelos animais e in vitro”, Zanotto explica que os sinais são semelhantes aos que ocorrem nos bebês humanos, filhos de mães que foram infectadas pelo mosquito Aedes aegypti..
Segundo Jean Pierre Schatzmann Peron, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e responsável pelos testes em camundongos, o vírus foi capaz de atravessar a placenta das fêmeas, infectar os fetos, restringir seu crescimento e provocar a morte das células que formariam o cérebro dos ratos. Para o pesquisador, essas são evidências que contribuem para confirmar a ligação entre a infecção de mulheres gestantes pelo vírus brasileiro da zika e a geração de bebês com malformações congênitas. “As análises feitas em camundongos permitiram observar que, além da morte celular no cérebro, há evidências de que o vírus também pode causar restrição no crescimento do feto.”
Os resultados da pesquisa foram publicados na edição online da revista Nature do dia 11 de maio, no artigo The Brazilian Zika virus causes birth defects in experimental models, que relata o conjunto de experimentos liderados por Jean Pierre Peron e Patricia Braga.
Rede Zika Vírus
O professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, coordena uma rede de pesquisa formada no Estado de São Paulo para estudar o zika vírus. É uma força-tarefa envolvendo 42 laboratórios, alguns deles da própria USP, que estão trabalhando para compreender melhor o vírus, a fim de desenvolver diagnóstico, vacinas e terapias contra a doença. As pesquisas da Rede Zika Vírus têm a colaboração de outras instituições brasileiras e estrangeiras, como o Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, que é um dos principais centros de pesquisa em arboviroses – doenças transmitidas por ácaros e mosquitos como o Aedes aegypti. A rede ainda conta com o apoio do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de agências de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Assista à reportagem do Núcleo de Divulgação Científica da USP sobre a pesquisa
Mais informações: (11) 3091-0874