Etnopsicologia, a arte de desvendar as conexões entre cultura, etnia e psicologia

Laboratório de Etnopsicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) explora diversidades culturais afro-brasileiras e indígenas

 01/03/2024 - Publicado há 2 meses
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Laboratório busca diversidade nas abordagens psicológicas – Foto: geralt/Pixabay
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A etnopsicologia, ramo da psicologia que explora as interações entre cultura, etnia e comportamento humano, emerge como uma disciplina fundamental para compreender as complexidades da mente humana e suas manifestações nas diversas esferas da vida. No Brasil, um dos principais centros de referência nesse campo é o Laboratório de Etnopsicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Sob a liderança do professor José Francisco Bairrão, do Departamento de Psicologia da FFCLRP, o laboratório dedica-se a investigar as nuances das relações entre subjetividade, cultura e questões étnicas. A equipe de acadêmicos e colaboradores realiza pesquisas que têm implicações diretas na saúde, educação, política e arte, visando promover o respeito e a valorização da diversidade cultural.

O laboratório produz conhecimentos que respeitem e valorizem a diversidade cultural, promovendo o diálogo e a cooperação dos sujeitos e das comunidades. Uma das principais linhas de pesquisa do grupo, segundo Bairrão, é o universo dos cultos afro-brasileiros, que, segundo ele, revelam uma riqueza de concepções que frequentemente são ignoradas ou desqualificadas pelo conhecimento acadêmico da psicologia.

José Francisco Bairrão – Foto: Arquivo pessoal

O professor enfatiza a sofisticação e relevância das produções psicológicas desses grupos não hegemônicos, desafiando as visões eurocêntricas predominantes na psicologia, e destaca que a “psicologia oficial muitas vezes reflete uma perspectiva específica, ignorando a riqueza de concepções presentes em outras tradições culturais”.

Nos últimos anos, os pesquisadores do laboratório têm também se dedicado ao diálogo entre conhecimentos indígenas e acadêmicos. Essa interação busca compreender as diferenças e semelhanças entre esses saberes, explorando as possibilidades de colaboração. Essa abordagem inovadora contribui para o desenvolvimento de metodologias para a psicologia, promovendo a produção e resgate de saberes.

O impacto das pesquisas não fica restrito ao meio acadêmico, com membros dos grupos de pesquisa produzindo artigos de relevância, como o trabalho de Maria Clara Campos sobre a experiência de jovens indígenas Xavante em Ribeirão Preto, publicado na revista Tellus. No artigo, Maria Clara explora a história de um grupo de jovens do povo indígena Xavante, presente atualmente em terras no leste do Mato Grosso, que foram enviados pelo cacique para viver em Ribeirão Preto. 

No trabalho Maria Clara tenta entender como essa experiência afeta a identidade e o futuro desses jovens. O Laboratório de Etnopsicologia da USP destaca-se também por sua atuação na divulgação do conhecimento, promovendo eventos científicos, publicações, cursos e formações.

Saber inclusivo e universal

Bairrão, um dos autores do livro Etnopsicologia e Saúde, lançado em 2023, salienta que a etnopsicologia é uma ponte para o diálogo entre diferentes correntes da psicologia e das ciências humanas. Ele enfatiza que a compreensão das diversas formas de produzir saberes psicológicos contribui para um aprimoramento do saber acadêmico, tornando-o mais inclusivo e universal. 

Mas a importância da etnopsicologia, segundo Bairrão, vai além do âmbito acadêmico. Ele ressalta que essa compreensão “é fundamental para uma reflexão mais profunda sobre os efeitos do processo colonial em nossas realidades sociais e acadêmicas. A reflexão não deve ser meramente especulativa, mas sim incorporar as diferentes vozes que contribuem para uma construção mais diversificada e não totalitária do saber psicológico”.

*Estagiário sob supervisão de Rose Talamone


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