A discussão não é nova, mas precisa ser enfrentada: o livro está em crise no Brasil? Segundo dados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, encomendada à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a indústria do livro fechou 2018 em queda real, considerando a inflação, de 4,5%.
Além do mais, em um país onde, de acordo com o Instituto Pró-Livro, se lê apenas 4,96 livros por ano – contra 11 nos Estados Unidos e sete na França, por exemplo – e onde 30% da população nunca comprou um livro sequer, não se pode esperar muito que esse quadro mude, principalmente se os preços estiverem nas alturas.
Recentemente, vimos grandes redes de livrarias, como Cultura e Saraiva, fechando lojas e pedindo recuperação judicial.
Como, então, esperar que o quadro de queda no mercado editorial brasileiro reverta a tendência de queda? E, mais ainda, como fazer com que o brasileiro leia mais?
Para responder a essas questões a respeito do mercado editorial brasileiro, o Diálogos na USP recebeu os professores Plinio Martins Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, ex-presidente da Editora da USP, a Edusp, e Paulo Verano, professor do Departamento de Editoração e Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Para Martins Filho, o mercado editorial está em crise há muito tempo. “Na realidade, nós temos um mercado complicado, há uma crise crônica”. O professor ainda relembrou que, logo que começou a trabalhar no setor, em 1973, houve uma grande recessão, na qual “as editoras que tinham um esquema de comercialização perderam esse setor, e aí começaram a surgir as distribuidoras. Inicialmente, isso parecia muito interessante, mas esse sistema foi se mostrando falho, pois as distribuidoras também começaram a ter seus problemas”.
Paulo Verano também confirmou a crise constante do setor: “O que isso tudo revela é que temos uma crise de modelo. Enquanto o mercado editorial não repensar seu modelo não conseguiremos ter perspectivas de melhora.” Assim, seria necessário abandonar as soluções pontuais e partir para uma reestruturação que permitisse uma mudança efetiva no setor.
Martins Filho apontou para a crise das megastores, algo que também já vinha sendo vivenciado no exterior. Para o professor, o fechamento dessas lojas revela “uma possível inexperiência do empresariado brasileiro, já que ocupam os espaços mais caros de shoppings mesmo sabendo que o livro nunca foi um produto de grande retorno financeiro”. Isso também teria contribuído para que as livrarias começassem a vender outros objetos que não livros, como eletrônicos e artigos de papelaria.
Já Verano destacou que é importante observar todos os aspectos dessa crise. “Ao mesmo tempo que duas grandes redes entraram com pedidos de recuperação judicial, gerando um efeito cascata que afeta os editores, há uma série de livrarias pequenas que vêm sendo fundadas seguindo modelos mais antigos”, disse. Algumas dessas livrarias, como por exemplo a Martins Fontes, tiveram crescimento, e podem representar um novo caminho para o mercado editorial.
Acompanhe a íntegra do programa pelos links acima.
O Diálogos na USP tem apresentação de Marcello Rollemberg, produção da Editoria de Atualidades do Jornal da USP e da Rádio USP e trabalhos técnicos de Rafael Simões.