A rotina moderna envolve diversas atividades, obrigações e prazos a serem cumpridos em um curto período de tempo. Esse excesso de afazeres acaba gerando consequências negativas como o estresse, procrastinação, falta de foco e até mesmo ansiedade. Situações que se acentuam com a pandemia e o isolamento social.
Por conta desses efeitos colaterais da realidade agitada em que vivemos, a busca por técnicas que promovam a melhora da concentração e o relaxamento se tornam cada vez mais comuns. Esse é o caso do mindfulness, uma prática que busca ampliar a atenção no momento presente, segundo a representante do Centro de Mindfulness e Terapias Integrativas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, Melissa Melchior. “Podemos compreender mindfulness como um estado atentivo, focado no momento presente, tanto quanto ao que se passa dentro de nós, como pessoas, como ao ambiente ao nosso redor, sem julgamentos à experiência vivida.”
E, com a chegada da pandemia, algumas atividades diminuíram, mas novas dificuldades e desafios de adaptação apareceram. Segundo Melissa, o mindfulness pode ajudar durante o período de isolamento social e também durante o trabalho em home office. “Os relacionamentos e afazeres ficam mais restritos durante esse período, abrindo portas para que a ansiedade, medo, angústia e até mesmo a depressão tomem lugar de destaque. A prática do mindfulness auxilia na compreensão das mudanças, diminui a ansiedade e melhora o foco no trabalho, fatos que podem amenizar as dificuldades da quarentena e adaptação do trabalho em casa.”
Melissa afirma que os interessados em iniciar a prática de mindfulness podem começar com pequenas pausas diárias para praticar. “Uma maneira de começar é estabelecendo um compromisso que seja possível de ser cumprido diariamente. Pode ser, por exemplo, parar algumas vezes durante o dia e focar na inspiração e na expiração por três respirações seguidas, de forma atenta a cada momento da trajetória respiratória. Práticas guiadas também facilitam bastante para os iniciantes. Se possível, o ideal é que se tenha no início o auxílio de um instrutor guiando a prática.”
Outro método que pode ajudar as pessoas a se adaptarem aos tempos atuais é o estilo de música lo-fi. Ouvida geralmente para relaxar e melhorar a concentração nos estudos, o lo-fi é caracterizado por batidas calmas, repetitivas e abafadas, na maioria das vezes sem voz, que tem ganhado destaque nas redes sociais, principalmente entre os mais jovens.
O mestrando em Ciência da Computação, Fernando Zagatti, de 24 anos, conta que o lo-fi o ajuda na realização de suas atividades. “Eu gosto de ouvir o lo-fi, principalmente quando estou estudando ou desenvolvendo algum projeto. Diferentemente de outros estilos musicais, o lo-fi possui batidas calmas, que me permitem relaxar estudando, ao mesmo tempo em que me ajudam a manter o foco no que estou fazendo.”
A professora Kranya Victoria Díaz Serrano, do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, que também participa como pesquisadora e instrutora do Centro de Mindfulness, esclarece que, de fato, o lo-fi e outras músicas calmas podem contribuir para a concentração, relaxamento e até mesmo na prática de mindfulness. “A música é entendida como uma das manifestações mais antigas na história da humanidade, que possibilita acessar os sentimentos, emoções e alterar o estado de consciência. Existem formas de produção musical que utilizam artifícios como sons da natureza, por exemplo, para criar um ambiente auditivo especial e sensorial que proporciona o relaxamento. Se voltarmos às origens do mindfulness, algumas práticas de meditação podem ter como foco de atenção mantras entoados de forma contínua. A ampliação da sensorialidade está implícita nos benefícios e estratégias de mindfulness e, a partir das músicas e também da sonoridade, pode expandir, sim, a experiência.”
Ouça no player acima as entrevistas de Melissa Melchior, Kranya Victoria Díaz Serrano e Fernando Zagatti
Leia mais sobre mindfulness no Jornal da USP aqui.