Cultura do cancelamento é um termo bastante recente, conhecido e discutido principalmente entre os mais jovens nas redes sociais. A expressão é utilizada para denominar um comportamento que em sua essência busca por justiça social, mas acaba realizando uma espécie de linchamento virtual dos indivíduos que agem ou dão declarações politicamente incorretas.
O professor e sociólogo Marco Antônio de Almeida, do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que esse comportamento deriva de causas bastante justas e bem-intencionadas, mas caminhou para a intolerância. “A cultura do cancelamento deriva do politicamente correto, que demanda uma maior percepção e sensibilidade nas questões relacionadas a classes sociais, gênero, etnias, entre outros. É uma causa muito justa, porém que acabou partindo para uma política de tolerância zero aos erros, que levam a pedidos de demissões e corte de financiamentos, cancelando o indivíduo da vida pública.”
O comportamento tende a ser mais associado aos adolescentes e aos jovens adultos. E ocorre, principalmente, pela maior presença dessa faixa etária nas redes sociais. “Nas redes sociais as questões relacionadas ao cancelamento tendem a ter um peso muito grande, que acabam por envolver com bastante força os jovens, que são mais sensíveis a esse tipo de influência, já que passam muito mais tempo nas redes do que as pessoas mais velhas.”
Almeida diz que apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o comportamento prejudica o debate democrático. “A cultura do cancelamento é uma cultura equivocada, na medida em que ela não permite justamente o livre debate de ideias e a circulação de opiniões distintas, algo saudável para a democracia.”