Clubes de futebol precisam fazer mais no combate à pandemia

Os professores Oswaldo Tanaka e Ary José Rocco Junior comentam o atual cenário do futebol diante da quarentena

 09/04/2021 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 03/07/2024 às 11:30
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Copa Libertadores 2019, no Ginásio do Maracanã, Rio de Janeiro (árbitro Patricio Loustau, da Argentina) – Foto: Celso Pupo/123RF
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Em março de 2020, o futebol no Brasil era paralisado após a Organização Mundial da Saúde declarar o estado de pandemia para o coronavírus. Sem treinos coletivos, competições ou jogos, os atletas e profissionais da área só retomaram de vez as atividades em julho. Um ano depois da paralisação, algumas regiões do Brasil voltam ao mesmo dilema de interromper as atividades esportivas, agora em meio a um novo cenário de recordes de mortes e novos casos.

O principal embate se dá na região Sudeste. Em São Paulo, o governo do Estado exigiu a suspensão do campeonato paulista enquanto os números da pandemia continuassem altos. Após dias de reuniões, a Federação Paulista de Futebol decidiu acatar. Em março de 2021, alguns jogos até chegaram a acontecer. Hoje, a Federação Paulista já discute com o Ministério Público para buscar uma liberação junto ao governo do Estado. Treinos acontecem e competições nacionais e internacionais não foram suspensas.

Se, por um lado, clubes argumentam que a segurança dos profissionais ligados ao futebol pode ser garantida mesmo com a permanência das atividades, autoridades públicas se veem forçadas a adotar o maior número de medidas possível para conter novos avanços do vírus. O professor Oswaldo Tanaka, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, só vê uma alternativa: “As atividades esportivas são em princípio aquelas que mais atraem a coletividade. Então eu não vejo outra alternativa. Nós estamos em um episódio muito grave. O bloqueio e a paralisação dessas atividades é exatamente para podermos diminuir a curva”, afirmou em entrevista ao programa Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

O professor Tanaka lembra que, mesmo com as arquibancadas fechadas aos torcedores – como vem sendo desde o ano passado -, aglomerações ainda podem ocorrer. “A transmissão pessoa a pessoa é a mais complicada. Se as pessoas forem para rua, para a frente do estádio, ou ao Centro de Treinamento, vão se aglomerar e estar transmitindo. Outro perigo também são os encontros em casa de amigos: fazem churrasco, bebem cerveja, e isso também é um grande foco de transmissão.”

Vale lembrar que, nos últimos meses, não foram raros os casos em que torcedores reuniram-se para incentivar ou comemorar a vitória de seus times em aeroportos e nos arredores de estádios.

Mobilização dos clubes

 

Do ponto de vista esportivo, o professor Ary José Rocco Junior, da Escola de Educação Física e Esporte, avalia a atuação dos clubes e entidades neste momento de crise: “O futebol e as suas instituições deveriam usar esses jogos [que estão acontecendo] para mostrar que a vida é mais importante. O futebol poderia ter se colocado como uma opção de algo que forneceria entretenimento para que as pessoas ficassem presas em casa, vendo o futebol. Ele não se colocou a favor da vida, ele obrigou equipes a jogarem com elencos reduzidos por conta da covid-19”, afirma o professor, lembrando de surtos que acometeram  clubes brasileiros enquanto disputavam competições.

O professor Rocco também acredita que a melhor alternativa seria repensar estruturalmente as competições diante desse cenário atípico: “É preciso tentar reduzir as viagens, tentar adaptar a logística das competições. Tentar diminuir ao máximo as viagens, mas fazer com que as competições aconteçam, e o futebol não está fazendo nada disso, ele está querendo tirar uma equipe de Manaus para jogar no Rio Grande do Sul, expor os atletas às viagens. Hoje o momento é de parada total, não tem discussão, mas faltou para o futebol e para as organizações esportivas uma maior discussão logística e de comunicação para se adaptarem a um momento que é único na história da humanidade”.

Assim, cria-se um cenário em que preocupações surgem de múltiplos lados. Clubes temem uma nova paralisação pelo aspecto financeiro e desportivo, tendo em vista que, sem jogos, não há premiação de competições e patrocinadores poderão se interessar menos em usar o clube como meio de propagar a marca. Ao mesmo tempo, autoridades públicas e especialistas sanitários enxergam um cenário que demanda esforços máximos pela contenção do coronavírus.


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