Prefeitura de Manaus inicia vacinação de pessoas entre 45 e 49 anos, com comorbidades – Fotos: Valdo Leão / Semcom
Primeira dose da CoronaVac é efetiva contra variante P.1 do coronavírus, mostra estudo em Manaus
Resultados preliminares de pesquisa feita com profissionais de saúde no Amazonas apontam que primeira dose da vacina diminui risco de contágio em 50%
08/04/2021
Por Júlio Bernardes, com colaboração de Fabiana Mariz
Arte: Moisés Dorado
A vacina CoronaVac continua a ser efetiva na prevenção da covid-19 na cidade de Manaus, no Amazonas, onde há o predomínio da variante P.1 do vírus sars cov-2, que causa a doença. A conclusão faz parte dos resultados preliminares de um estudo feito com 67 mil profissionais de saúde que receberam a primeira dose da vacina em Manaus, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com participação da USP e outras universidades brasileiras, além de órgãos públicos do Amazonas e instituições de pesquisa do Brasil e da Espanha. O estudo calculou uma redução de 50% do risco de contágio, só com a primeira dose da vacina, o que os pesquisadores apontam como sinal de que a vacinação precisa continuar, mesmo com o aumento da transmissão da variante P.1.
Os resultados da pesquisa são apresentados em um artigo publicado como preprint (versão prévia de artigo científico) no site medRxiv em 7 de abril. André Siqueira, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do artigo, disse ao Jornal da USP que, apesar de ser ainda uma análise inicial, o estudo de efetividade da vacina é robusto, pois foi feito com 67 mil profissionais de saúde da cidade de Manaus, onde a variante P.1 já é predominante. “Consideramos apenas uma dose em um período de segmento não tão longo”, avalia Siqueira. “É necessário continuar o estudo e fazer a sequência que já estava programada.”
André Siqueira – Foto: Rogério Fiocchi/FioCruz
Após a vacinação dos profissionais de saúde, foram selecionados grupos de pessoas que testaram positivo para a covid-19, a partir dos dados da vigilância epidemiológica, e outras que não tiveram a doença, no período entre 19 de janeiro e 25 de março, para calcular a efetividade da CoronaVac. “A estimativa de redução de risco é de 50%, ou seja, a capacidade da vacina prevenir o adoecimento pela covid-19, após 14 dias do recebimento da primeira dose, é de 50%”, apontam os pesquisadores Júlio Croda, da Fiocruz, e Otávio Ranzani, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e do Instituto de Saúde Global, em Barcelona (Espanha), que também participaram do estudo. Os dados sobre a efetividade da segunda dose ainda estão em fase de coleta.
Efetividade
Prefeitura de Manaus inicia vacinação de pessoas entre 45 e 49 anos, com comorbidades – Fotos: Valdo Leão / Semcom
De acordo com Croda e Ranzani, a importância de estudar a efetividade das vacinas onde a P.1 é prevalente é verificar se a vacina continua funcionando para essa variante. “Existem mutações importantes, algumas mais ligadas à transmissibilidade, como a 501, mas outras relacionadas a um possível escape imune, como a 484, presente nas variantes brasileira e sul-africana”, relata. “Há estudos preliminares, inclusive brasileiros, evidenciando queda de anticorpos neutralizantes, porém, ainda não há um valor que se possa dizer que, a partir de um certo momento de queda de anticorpos, você tem uma perda de efetividade da vacina.”
Júlio Croda, da Fiocruz – Foto: Rogério Fiocchi/Fiocruz
Siqueira explica, ainda, que o estudo contribuiu para mostrar, em um período curto de tempo, que a CoronaVac tem uma proteção considerável com uma dose em uma circulação elevada da variante P.1. “A pesquisa mostra que essa vacina tem a capacidade de proteção e uma das grandes preocupações em relação às novas variantes é a possibilidade de escape de resposta às vacinas”, diz o pesquisador. “Vamos seguir com a avaliação, mas os resultados dão respaldo para continuar com a vacinação mesmo com a circulação dessa variante.”
Croda e Ranzani reforçam que, como a pesquisa demonstrou que a CoronaVac manteve a efetividade, ela pode continuar a ser usada. “Ao mesmo tempo, estamos fazendo outros estudos, principalmente em colaboração com o governo do Estado de São Paulo, para avaliar a efetividade da CoronaVac e também da vacina AstraZeneca, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, junto à população acima de 60 anos de idade, o que não foi possível em Manaus”, relatam. “Além disso, também será possível entender qual é a efetividade das vacinas na prevenção de casos severos, que necessitem hospitalização, e de mortes.”
Otávio Ranzani – Foto: FMUSP
As conclusões do trabalho são apresentadas no artigo Effectiveness of CoronaVac in the setting of high SARS-CoV-2 P.1 variant transmission in Brazil: A test-negative case-control study, publicado como preprint no site medRxiv em 7 de abril. A pesquisa teve a participação de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), da Universidades da Flórida, de Stanford e de Yale (Estados Unidos), da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus e da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas.
Em São Paulo
Uma outra pesquisa sobre a CoronaVac, realizada com profissionais do Hospital das Clínicas da FMUSP, traz resultados que corroboram a efetividade da vacina mesmo com o predomínio da variante P.1.
Antes da vacinação dos funcionários do hospital, a incidência de casos de covid-19 no HC era semelhante à incidência geral da doença na população de São Paulo capital.
Duas semanas após a aplicação da segunda dose da vacina nos funcionários do hospital, houve 50,7% menos casos confirmados entre eles do que a taxa média de novos casos verificada na cidade.
E cinco semanas após a vacinação, o número de novos casos de covid-19 no HC foi 73,8% menor do que o registrado na população da capital.
O estudo feito entre os profissionais avaliou também a ocorrência de variantes do coronavírus. Dentre 142 amostras analisadas aleatoriamente, 67 foram identificadas como variantes, das quais 57 correspondiam à P.1 (do Amazonas), cinco B.1.1.7 (do Reino Unido) e outras cinco que não puderam ser identificadas pelos métodos utilizados no estudo. Essa análise sugere que a P.1 já era a variante de maior circulação em São Paulo quando os profissionais foram vacinados.
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