Recentemente foi descoberto um aterro de lixo, com no mínimo 600 metros de profundidade, distribuído em uma grande área do mar Mediterrâneo, próximo à Sicília. No golfo de Lyon, cientistas encontraram acumulação semelhante, mas com profundidade de até 2 mil metros. As ameaças à vida marinha e a quantidade alarmante de lixo nas águas, apesar de postas em segundo plano pelo homem, dão centralidade à discussão sobre o futuro dos oceanos. O professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, Alexander Turra, em vista disso, propôs à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) a criação de uma cátedra no Instituto de Estudos Avançados (IEA) para o estudo da sustentabilidade dos ecossistemas marinhos e costeiros. O tema já tem grande alcance internacional, já que fauna, flora e microbiota dos oceanos têm um efeito importante sobre o equilíbrio da biosfera.
Com a proposta de Turra aceita, a Cátedra Unesco para a Sustentabilidade dos Oceanos será inaugurada na próxima quarta-feira, dia 5, durante o seminário O Futuro dos Oceanos. Parte da Semana do Mar, que comemora o Dia Internacional dos Oceanos, 8 de junho, o evento reunirá diversos perfis de especialistas no tema – como oceanógrafos, biólogos e jornalistas – para discutir quais são as ameaças à biodiversidade dos mares e como monitorá-las ou mesmo combatê-las. “Nosso objetivo é sensibilizar a sociedade, de maneira que ela estruture e articule a defesa dos oceanos. A qualidade desses ambientes tem reflexos diretos na própria vida humana”, declara o professor do IO ao Jornal da USP no Ar.
Segundo o oceanógrafo, existem muitos outros desafios além do lixo, que é apenas o mais visível. “Mudanças climáticas, sobrepesca, invasão de espécies exóticas, degradação de habitats exercem uma grande pressão sobre os oceanos.” Turra diz que o Brasil tenta caminhar no sentido das agendas internacionais há alguns anos, porém, com uma certa inércia. As intenções não se tornam iniciativas, seja pelo desenho institucional atual ou por dificuldades financeiras. Fora que “a (não) adesão do novo governo a essas iniciativas é preocupante. Dão sinais na contramão das mudanças climáticas, negando um conhecimento científico bem consolidado”, explica.
A cátedra, de acordo com o professor, é uma atividade paralela à estatal, com o objetivo de dinamizar essa ação preventiva em relação às águas. Além do fomento de uma pesquisa interdisciplinar e integrada às demandas da sociedade, seu intuito é levar o conhecimento dos oceanos à sociedade. “Em inglês chamam de ocean literacy, essa cultura marítima”, comenta Turra. Dessa maneira, os pesquisadores planejam se aproximar dos tomadores de decisões, “dos gestores de áreas de proteção ambiental, até governos estaduais, a fim de se refletir sobre despejo de resíduos sólidos, por exemplo.”
Nesse sentido, a revista Scientific American Brasil e o Instituto Oceanográfico da USP, com o apoio institucional do Sesc Pinheiros, oferecerão a Semana do Mar, com quatro dias de atividades voltadas para a divulgação científica e cultural do mar dirigidas ao público em geral. O evento será no Instituto de Estudos Avançados e no Sesc Pinheiros, nos dias 5 a 9 de junho. Turra lembra, para quem não estiver em São Paulo, que os eventos serão transmitidos ao vivo no site do IEA, com direito à participação interativa e perguntas.