“A repercussão do rompimento da barragem em Brumadinho impactou o País e o mundo pelas suas dimensões trágicas, mas também porque é um acontecimento que deixa e revela profundas marcas da nossa experiência cultural.” Em uma análise sobre a tragédia noticiada nas redes sociais através de vídeos, depoimentos, fotos, a colunista Giselle Beiguelman, de Ouvir Imagens, assinala que o acontecimento do último dia 25, com centenas de mortos e desaparecidos sob a lama, deixa e revela profundas marcas da nossa experiência cultural.
“Os registros feitos por moradores e sobreviventes, que foram intensamente replicados nas redes, por meio de vídeos, fotos e depoimentos, nos transformaram em testemunhas de um crime ambiental que tomou as proporções de uma catástrofe”, assinala. “Ao contrário das ruínas, que projetam no futuro um movimento de volta a um passado que pode nunca ter ocorrido, a imagem da catástrofe é antecipadora. É um alerta, um alarme. Ultrapassa a medida da natureza e transcende a escala humana. A ruína é local, a catástrofe é planetária.”
Giselle Beiguelman – professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – lembra que a catástrofe veio na sequência de um mesmo acidente trágico causado, há apenas três anos, também pela barragem de rejeitos da mineradora Vale. “O esquecimento de Mariana não é revelador apenas da debilidade de nossas políticas ambientais, mas também da fragilidade de nossa memória coletiva, da nossa responsabilidade social”, observa. “Precisamos urgentemente reavaliar as licenças ambientais e criar medidas que assegurem a população e a biodiversidade. Mas não podemos nos furtar de preservar a memória desses acontecimentos traumáticos. Caso contrário, só teremos espaço para a catástrofe que, no século 21, pode não ter um depois.”
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