Especialista em meio ambiente analisa impactos em Brumadinho

Entre os pontos discutidos, vida do Rio Paraopeba e migração da fauna local são as maiores preocupações

 01/02/2019 - Publicado há 5 anos

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Após uma semana do rompimento da barragem 1 do complexo Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, as notícias referentes aos impactos da destruição causada pelos rejeitos de minérios na fauna e na flora local ainda não são muito claras, mesmo sendo óbvio que os prejuízos ambientais na cidade são incontáveis. O Jornal da USP no Ar conversou sobre o assunto com  Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade, além de ser coordenador da Rede Internacional de Estudos Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade e de participar do Projeto Temático Fapesp Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista Face à Variabilidade Climática.

Consequências da ruptura da barragem em Brumadinho – Foto: Guilherme Venaglia via Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0

O professor Côrtes aponta que uma das consequências já perceptíveis está no Rio Paraopeba, que passa pela cidade de Brumadinho. “Com base na experiência de Mariana, é possível verificar certos impactos. O rio, no caso, sofre um aporte de sedimentos bastante significativo e isso provoca — literalmente — em algumas áreas um soterramento dos trechos menores, provoca uma turbidez e também prejudica a oxigenação. Isso inviabiliza o aproveitamento desse rio para a irrigação de cultivos, para o uso da população rural e urbana.” Além disso, Côrtes aponta uma outra preocupação com esse impacto no rio: “Vai levar a uma grande mortandade de peixes. Então, o rio, praticamente, perde sua vida. Se torna um rio morto”.

No solo, por sua vez, a camada de lama de rejeitos de minério irá inviabilizar a germinação. “Aquela camada superficial que havia, aquela camada organicamente mais ativa do solo, ela deixa de existir, simplesmente pelo fato de ela estar soterrada. Isso dificulta a recomposição da flora nativa. Ao longo dos anos, nós teremos o surgimento de plantas, mas não com a mesma composição da flora que nós tínhamos originalmente.”

A fauna, segundo o especialista, já sai prejudicada por essa situação devido à falta de alimentos com que antes ela poderia contar. “Além da mortandade grande de espécies por conta da lama, você tem uma migração das espécies restantes. Não vão encontrar alimento na região, então vão buscar em outro local.” Nesse cenário, com a forte migração de pássaros e, consequentemente, elevação da presença de insetos — muitos deles transmissores de doenças  – , a tendência é um aumento de epidemias nas áreas rurais.

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