Falta cultura de segurança forte nas empresas, diz especialista

Professor da área de Engenharia de Minas afirma que tragédia de Brumadinho é um exemplo dessa precariedade

 30/01/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 07/02/2019 as 8:59

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Brumadinho – Foto: TV NBR via Wikimedia Commons / CC BY 3.0

A tragédia de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, devido ao rompimento da barragem 1 do complexo Córrego do Feijão, da mineradora Vale, levanta a perspectiva de que foi uma tragédia anunciada em termos de segurança, fora os outros pontos importantes que envolvem a discussão ambiental e humanitária. Ontem, cinco pessoas foram presas, suspeitas de responsabilidade na tragédia: dois engenheiros da empresa TÜV SÜD, que prestavam serviço para a Vale, e três funcionários da mineradora. Em pouco menos de três anos, uma outra tragédia semelhante aconteceu em Mariana, também em Minas Gerais, e igualmente com participação da Vale.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Sérgio Médici de Eston, do setor de Engenharia de Minas da Escola Politécnica (Poli) da USP, afirma que Brumadinho se tornou mais um capítulo da triste crônica brasileira de tragédias anunciadas e aponta que o problema — que poderia ser evitado — está justamente na segurança. “Está, principalmente, no que eu chamo de ‘cultura de segurança das empresas’. E não é uma novidade no País, pois o Brasil não tem cultura de segurança. Aquelas empresas resolvem correndo os riscos maiores na área de engenharia e os riscos de engenharia são maiores que os riscos financeiros. No financeiro, se você fizer um mal negócio, você perde uns US$ 100 milhões. Mas o risco com obras de engenharia vai ser um crime ambiental e perdas de vidas. Esta falta de segurança permeia o Brasil: cai viadutos por falta de manutenção, não tem gerenciamento adequado de riscos, controles rígidos que não devem ser burlados.”

Boate Kiss – Foto: Wikimedia Commons / CC BY 3.0

O especialista analisa que essa carência de segurança está intrinsecamente ligada à falta de impunidade no País, relembrando o caso da Boate Kiss, em janeiro de 2013, que vitimou  242 pessoas, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e de Mariana. “Se você perguntar quem está preso por conta da Boate Kiss, é difícil de saber responder. O ocorrido com a Samarco em Mariana? Não tem ninguém preso. Existe uma irresponsabilidade por conta da falta de segurança e essa impunidade. A mineração é algo essencial para o ser humano, e é triste que a Vale, uma empresa brasileira, com, em dois anos, dois desastres desse tamanho, mostrando a falta de uma cultura interna forte de segurança.”

O professor Médici ressalta, assim como outros especialistas ouvidos pelo Jornal da USP no Ar anteriormente, que o método de jusante é mais seguro do que o método de montante — um dos mais comuns nas barragens, utilizado em Brumadinho e em Mariana. “Mas, para utilizar o de jusante, é mais caro, mais demorado, ocupa mais espaço. Só se você tiver uma cultura de segurança forte de controlar os riscos é que você pensa focando na engenharia e também na sustentabilidade ambiental. Se você foca no que é mais rápido e mais barato, no que eu já posso fazer, você vai correndo os riscos, e mais um pouquinho, e um pouco mais, e mais um pouquinho…  Até a hora que a tragédia acontece.”

 

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