Desenvolvendo saberes e competências por meio da integração ensino, pesquisa, extensão e inovação

Por João Roberto Spotti Lopes, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP

 02/10/2023 - Publicado há 7 meses

João Roberto Spotti Lopes – Foto: LinkedIn

 

Na USP há diversas ações relevantes na formação discente, na geração de conhecimentos e/ou nas relações com a sociedade, que envolvem articulações entre ensino, pesquisa, cultura e extensão, ou que permeiam tais eixos. Estudantes de graduação e de pós-graduação participam de atividades e projetos interdisciplinares ou interprofissionais que contribuem significativamente para a sua formação, pelo desenvolvimento de competências para ciência, inovação, empreendedorismo e políticas públicas, entre outros campos de atuação profissional.

Na graduação, é grande o número de estudantes envolvidos em projetos de ensino, pesquisa ou cultura e extensão, por meio do Programa Unificado de Bolsas (PUB), do Programa de Estímulo ao Ensino de Graduação (PEEG, monitoria em disciplinas), do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e Tecnológica (Pibit) do CNPq, de bolsas Fapesp e do Programa de Ensino Tutorial (PET) da Capes; este último envolve atividades que coadunam ensino, pesquisa e extensão, articuladas a um projeto pedagógico.

Visando oferecer competências integradas aos alunos de últimos semestres da graduação, várias unidades da USP possuem convênios com entidades públicas e privadas que possibilitam experiência profissional por meio de estágios curriculares ou extracurriculares. Na área de saúde, por exemplo, são comuns os estágios e residências profissionais nos serviços de saúde e assistenciais vinculados às unidades, à USP (HU e restaurantes universitários) ou a órgãos públicos, tais como prefeituras, hospitais públicos, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Especialidade Odontológica e Núcleos de Saúde da Família locais. No caso de unidades com cursos de licenciatura, há parcerias com estabelecimentos educacionais.

Há diversas outras atividades integradoras, tais como a participação em grupos de extensão, ligas e coletivos estudantis, centros acadêmicos e eventos de caráter científico, cultural, artístico ou esportivo. Algumas unidades já implantaram o cadastro de Atividades Acadêmicas Complementares (AAC) para integralização de créditos no currículo de graduação obtidos por meio de atividades extracurriculares, conforme Resolução CoG, CoCEx e CoPq No. 7788 de 2019. Em certas unidades, há disciplinas de pós-graduação oferecidas como optativas livres a alunos de graduação, que recebem créditos e são mais rapidamente integrados ao ambiente da pós-graduação, com redução no tempo de titulação.

Os pós-graduandos, por sua vez, estão bastante envolvidos na interação com estudantes de graduação, acompanhando ou supervisionando suas atividades em laboratórios de ensino e pesquisa, participando de estágio em docência pelo Programa de Aperfeiçoamento do Ensino (PAE), em bancas examinadoras (TCC e de estágios curriculares) e programas de mentoria e tutoria. Além disso, estão frequentemente envolvidos em atividades que permitem sua interação com a sociedade, por meio de grupos e cursos de extensão, treinamentos, organização de eventos etc.

Projetos interdisciplinares com impacto na formação discente. Buscando aprimorar os currículos dos cursos para estimular a transdisciplinaridade, várias unidades têm criado disciplinas interdepartamentais ou interunidades, oferecidas na forma de optativas livres, que possibilitam ao aluno uma formação mais holística, necessária para compreensão e solução de problemas de maior complexidade. Neste sentido, muitas unidades aprovaram projetos no âmbito do Programa Consórcios Acadêmicos para a Excelência do Ensino de Graduação (CAEG-PRG), que envolvem docentes de diferentes cursos e campus da Universidade, em atividades didáticas inovadoras integrando várias áreas do conhecimento.

Por meio de ações extramuros da Universidade, diversos projetos de interação ensino-extensão têm sido conduzidos, promovendo a interdisciplinaridade por meio da integração de áreas do conhecimento. Os programas Aprender na Comunidade e Aproxima-Ação, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), assim como os coletivos de extensão, envolvem um grande número de graduandos (muitos com bolsas PUB), pós-graduandos e servidores docentes e não docentes. Em 2021, a PRCEU lançou o Edital de Inclusão Social e Diversidade na USP, apoiando projetos prioritariamente interunidades em temas transversais como direitos humanos, desigualdades sociais, combate à violência e discriminação por condição de gênero, classe, raça ou etnia, dentro e fora da USP. Algumas unidades das áreas de Medicina e Odontologia possuem ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde na comunidade local ou em outras cidades e regiões brasileiras. Outras unidades organizam feiras interdisciplinares (por exemplo, Febrace e EsalqShow), que atraem estudantes e profissionais de todo o País.

Também merece destaque a estruturação de redes multidisciplinares (por exemplo, o GT de Combate à Insegurança Alimentar e à Fome e o Programa Eixos Temáticos USP) e de vários centros de pesquisa e difusão (Cepids, INCTs, Centros de Pesquisas em Engenharia e Centros de Ciência para o Desenvolvimento – CCDs) em temas transversais e relevantes para a sociedade, em linha com os ODS da Agenda 2030 da ONU, envolvendo a participação de docentes, alunos e pesquisadores de várias unidades da USP e de outras instituições. Recentemente foram criados quatro Centros de Estudos vinculados à Reitoria da USP, para atuação multidisciplinar na pesquisa, ensino e inovação, em temas estratégicos relacionados à saúde, meio ambiente, sustentabilidade e agricultura tropical. Tais iniciativas possuem grande potencial de geração de conhecimento, inovação e/ou embasamento de políticas públicas voltadas à solução de problemas de ordem socioeconômica, ambiental e de saúde integral.

Inovação e empreendedorismo

As unidades da USP apresentam diversas estratégias para promover inovação e empreendedorismo nos ambientes acadêmicos (disciplinas, treinamentos, empresas juniores, grupos de pesquisa e extensão, grupos estudantis) e de inovação (InovaUSP, parques tecnológicos, incubadoras, espaços de coworking) dos campi da capital e interior. Cabe destacar a criação do InovaUSP (no campus Butantã e em fase de criação em outros campi), que oferece ambientes colaborativos e estimulantes para discussão, formulação e articulação de iniciativas de inovação, mobilizando saberes de diferentes áreas e programas, e dinamizando a interação da USP com parceiros públicos e privados. Nos campi do interior, há polos da Agência USP de Inovação (Auspin), incubadoras e/ou parques tecnológicos (como o Supera em Ribeirão Preto, na área de saúde e biotecnologia, e o Vale do Piracicaba, na área de agricultura), que constituem ambientes de inovação propícios para programas de pré-incubação, incubação e/ou aceleração de startups, e que possibilitam cocriação com empresas e a transformação do conhecimento em desenvolvimento econômico.

Atualmente existem cerca de 40 disciplinas de graduação e 30 de graduação oferecidas por 16 unidades (algumas são interunidades, geridas pela Pró-Reitoria de Graduação) que abordam diferentes aspectos (gestão, projetos, negócios, finanças, propriedade intelectual, ferramentas de TI etc.) relacionados à inovação e empreendedorismo de forma transversal, ou mais focada em determinadas áreas (saúde, esporte, moda, jornalismo, turismo, informática etc.). A lista das disciplinas oferecidas, bem como uma base de competências para inovação de pesquisadores da USP nas diferentes áreas e subáreas de conhecimentos, está disponível em https://hubusp.inovacao.usp.br/educacao.

Atividades extracurriculares como treinamentos e competições (desafios e hackatons) têm sido organizadas em várias unidades para estimular curiosidade, ideação, transdisciplinaridade, bem como desenvolver comportamento e habilidades para inovação e empreendedorismo entre alunos de graduação e pós-graduação, que também têm participado em eventos similares no exterior. Há laboratórios que se dedicam a aplicações que utilizam big data, inteligência artificial, sistemas de informação geográfica, modelagem, análise de imagens, e que possibilitam o desenvolvimento de habilidades aplicáveis em diferentes áreas do conhecimento. A elaboração de projetos e estruturação de startups têm sido estimuladas por editais das Pró-Reitorias (InovaGrad, Carnathon, Empreendedorismo Social) e da Fapesp (PIPE e PITE). Diversas empresas nascentes de inovação tecnológica, social e cultural (spin-offs com DNA USP) foram formadas por ex-alunos e servidores docentes e não docentes. Também cabe salientar que várias unidades possuem empresas juniores, que são associações de alunos de caráter empreendedor e sem fins lucrativos, que prestam serviços com o objetivo de capacitação profissional dos estudantes em suas carreiras.

A solução de problemas complexos da sociedade depende de talentos profissionais com conhecimento multidisciplinar, habilidades diversas e atitudes transformadoras. Nesse sentido, a USP tem avançado em seu modelo de formação, proporcionando aos alunos, servidores e docentes, um leque variado de projetos e experiências que permeiam as atividades de ensino, pesquisa, cultura, extensão e inovação.

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