Livro analisa a importância das editoras universitárias

Em “Editoras Universitárias para quê?”, Paulo Franchetti e Plinio Martins Filho refletem sobre relevância e os valores do livro acadêmico

 Publicado: 28/11/2024 às 14:10
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Capa do livro Editorias Universitárias para quê? – Foto: Divulgação

 

“Também é curioso notar que o livro documenta um momento particularmente feliz das editoras universitárias, no qual elas estavam dirigidas por homens e intelectuais especialmente talhados para a sua tarefa. Penso em Paulo Franchetti na editora da Unicamp; Plínio Martins, na Edusp; mas também em José Castilho Marques Neto, na Unesp; e Wander de Melo Miranda, da UFMG. Juntos, talvez mesmo sem saber disso, acabaram criando uma sinergia que modificou a edição universitária no País.”

Alcir Pécora, crítico literário brasileiro, professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas

Plinio Martins Filho – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Este texto está lá, no final da segunda orelha de apresentação do livro Editoras Universitárias para quê?, uma reunião de dois textos de Paulo Franchetti e Plinio Martins Filho, recém-publicado pela Ateliê Editorial. No texto “Caminhos e Desafios”, Plinio Martins, ex-editor da Editora da USP (Edusp), na qual  continua a trabalhar, lança perguntas: “O que é uma editora universitária pública? Quais são seus objetivos e funções? Quais os problemas relacionados à sua criação e continuidade?”.

Plínio Martins faz questão de lembrar a função da universidade: “Uma das tarefas primordiais da universidade é estimular a difusão dos benefícios da cultura e do conhecimento que são produzidos dentro e fora de seus muros”, diz ele. E acrescenta: “O objetivo principal de uma editora universitária é mostrar à sociedade que é possível realizar um trabalho editorial de qualidade em uma instituição pública. Ao contrário do que pensam alguns detratores a universidade pública, tem fôlego para se recriar e criar novos paradigmas, desde que haja esforço para tal empreitada. Sua história nos mostra isso”.

Em outro trecho, Plinio Martins demostra sua fé no resultado da produção das editoras universitárias: “Se a ampliação e difusão dos benefícios da cultura resultaram em programas editoriais que disseminavam a cultura universal e os conhecimentos funcionais à vida cotidiana da população, as condições atuais de produção universitária adquirem novo significado: colaborar para o desenvolvimento e divulgação das várias áreas do saber. Esta linha de atuação tem o potencial de gerar benefícios inestimáveis à sociedade”.

Livros – Foto: jcomp – Freepik

 

No capítulo uma “História de Sucesso”, Paulo Franchetti, ex-professor titular da Unicamp e dirigente da editora da universidade de 2002 a 2013, lembra que “no que diz respeito à publicação de livros em geral, o País teve um começo tardio”. Algumas datas: “Apenas em 13 de maio de 1808 começa oficialmente a história da imprensa no Brasil, com a criação da Impressão Régia”, resultado da chegada de D. João VI ao País, fugindo da invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal. Segundo ele, no século 19, “os livros de autores brasileiros como Machado de Assis e José de Alencar ainda eram impressos na França”. E arremata: “A primeira editora de peso no Brasil, capaz de competir com os franceses, foi a Francisco Alves, já no século 20, que se especializou no setor do livro didático e técnico para uma população estudantil crescente”.

Depois de uma explanação que lembra a criação do Ministério da Educação e Cultura no Brasil, apenas em 1930, seguindo-se a reformulação do sistema de ensino, ele registra: “Se a imprensa teve implantação tardia no Brasil, o mesmo se pode dizer da universidade. Na verdade, em comparação com o resto do mundo, o Brasil entrou na era da universidade com enorme atraso. Enquanto em outros países da Ibero-América foram criadas universidades já no século 16 (São Domingos, 1538; Peru e México, 1551; Equador, 1586), no Brasil as primeiras instituições universitárias aparecem apenas no século 20.

Paulo Franchetti – Foto: Arquivo pessoal

Depois dessa digressão histórica, que ainda abarca outros aspectos, Paulo Franchetti analisa o papel e a importância das editorias universitárias. “Às editoras universitárias de primeira linha se reserva um lugar importante no sistema de trocas baseado no livro. E esse lugar insubstituível é, mais exatamente, não um lugar concorrente com as editoras de mercado, mas o lugar que elas ocupam e ninguém mais ocupa no mercado editorial. Seu papel, do meu ponto de vista, é formatar catálogos especializados, de retorno baixo ou mesmo nulo, mas de relevante impacto científico e educacional. Em resumo, o seu lugar é o da autoridade intelectual…”

Plinio Martins, da Edusp, recomenda que “as editoras universitárias devem empenhar-se para produzir cada vez mais livros de qualidade para a comunidade universitária e para o público em geral. Com essa atitude, elas fogem do que chama de ‘ditadura do mercado’ em que apenas os livros com retorno financeiro são editados. A realização dessas tarefas tem potencial para formar integralmente as pessoas, já que todo livro só se constitui instrumento de cultura se chegar ao leitor e for lido”.

E enfatiza: “Muito mais do que fábricas de livros, as editoras universitárias se consolidaram como lugares de afirmação dos valores acadêmicos. Como organismos dedicados à difusão e à conservação da cultura universitária do Brasil”.

Editoras Universitárias para quê?, de Paulo Franchetti e Plinio Martins Filho. Ateliê Editorial, 136 p.


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