“Nos países da América Latina, o mercado exerce enorme pressão sobre as editoras universitárias, exigindo baixos custos, prazos exíguos e adaptação incondicional a regras mercantis estéreis. Mas a distribuição e meios de divulgação dessas editoras exigem planejamentos e mecanismos adequados à natureza de suas publicações. Isso porque, no caso das editoras universitárias, o objetivo não é o lucro, mas a difusão do conhecimento e a formação de bibliografia especializada.” Foi o que disse o professor Plinio Martins Filho, do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, no dia 29 de agosto passado, na Cidade do México, ao receber o Prêmio Ruben Bonifaz Nuño, concedido pela Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), na categoria Trajetória Editorial Universitária 2023.
“Os desafios são grandes, variados e extrapolam a própria atividade editorial”, destacou Plinio. “Refiro-me, sobretudo, à formação de leitores e ao hábito de leitura, notadamente em uma quadra de nossa história dominada pelo imediatismo e pela velocidade que as tecnologias de comunicação e de informação se nos impõem.”
Ele lembrou, porém, iniciativas que resistem a essa tendência, entre elas, duas propostas implementadas na USP. Uma é a Festa do Livro, promovida desde 1999 pela Editora da USP (Edusp), na Cidade Universitária, em São Paulo, que reúne editoras universitárias e privadas para vender livros com 50% de desconto. “Hoje a Festa do Livro da Edusp é, com as Bienais do Livro, um dos maiores eventos do gênero no Brasil, brindando o leitor com o acesso a milhares de títulos nem sempre disponíveis em livrarias e no mercado tradicional.”
A outra iniciativa citada por Plinio Martins é o programa Bolsa-Livro – um auxílio para a compra de livros por estudantes -, que de 2011 a 2023 fez com que mais de 5 mil alunos da Universidade adquirissem mais de 200 mil livros.
Em seu discurso, Plinio Martins destacou outra importante missão das editoras universitárias: a publicação de textos da Antiguidade clássica. Para ele, a edição de textos da Antiguidade constitui um marco relevante no catálogo de toda grande casa editorial. “Uma editora universitária deve atender aos diversos segmentos da comunidade acadêmica e representar, por meio de suas edições, o estado da arte da pesquisa na universidade, publicando o que de melhor a instituição produz, em todos os campos do conhecimento, sem exceção”, acrescentou o professor. “Uma boa editora universitária tem também o papel de complementar a formação do público leitor, buscando fora de seus muros títulos que atualizem e ampliem o conhecimento, com especial atenção à edição de textos clássicos das mais diversas áreas.”
Ao justificar a entrega do Prêmio Ruben Bonifaz Nuño a Plinio Martins, a Unam citou o trabalho de mais de meio século de vida dedicado aos livros realizado pelo homenageado, os mais de 3 mil títulos publicados e as contribuições do professor para o catálogo editorial universitário da Ibero-América.
Ao Jornal da USP, Martins Filho reconheceu que o prêmio pode ser visto como um coroamento de sua trajetória profissional. “É uma honraria rara, concedida por uma instituição muito séria, que realmente está dedicada à integração latino-americana no campo editorial”, disse. Ele destacou que vive um momento feliz: no ano passado, retornou como editor à Editora da USP (Edusp), onde durante 25 anos atuou como diretor-presidente – e conquistou nada menos que 80 Prêmios Jabuti, a maior honraria editorial brasileira -, neste ano teve lançada a sua biografia (leia aqui) e agora é homenageado com um prêmio internacional. Com pouco mais de dois anos para a aposentadoria, ele não comenta seus planos para o futuro, mas tem uma certeza: os livros vão acompanhá-lo para sempre.
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Assista no link abaixo ao discurso do professor Plinio Martins Filho, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ao receber o Prêmio Ruben Bonifaz Nuño, na categoria Trajetória Editorial Universitária 2023, concedido pela Universidad Nacional Autónoma de México no dia 29 de agosto de 2023.
