“Também é curioso notar que o livro documenta um momento particularmente feliz das editoras universitárias, no qual elas estavam dirigidas por homens e intelectuais especialmente talhados para a sua tarefa. Penso em Paulo Franchetti na editora da Unicamp; Plínio Martins, na Edusp; mas também em José Castilho Marques Neto, na Unesp; e Wander de Melo Miranda, da UFMG. Juntos, talvez mesmo sem saber disso, acabaram criando uma sinergia que modificou a edição universitária no País.”
Alcir Pécora, crítico literário brasileiro, professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas
Este texto está lá, no final da segunda orelha de apresentação do livro Editoras Universitárias para quê?, uma reunião de dois textos de Paulo Franchetti e Plinio Martins Filho, recém-publicado pela Ateliê Editorial. No texto “Caminhos e Desafios”, Plinio Martins, ex-editor da Editora da USP (Edusp), na qual continua a trabalhar, lança perguntas: “O que é uma editora universitária pública? Quais são seus objetivos e funções? Quais os problemas relacionados à sua criação e continuidade?”.
Plínio Martins faz questão de lembrar a função da universidade: “Uma das tarefas primordiais da universidade é estimular a difusão dos benefícios da cultura e do conhecimento que são produzidos dentro e fora de seus muros”, diz ele. E acrescenta: “O objetivo principal de uma editora universitária é mostrar à sociedade que é possível realizar um trabalho editorial de qualidade em uma instituição pública. Ao contrário do que pensam alguns detratores a universidade pública, tem fôlego para se recriar e criar novos paradigmas, desde que haja esforço para tal empreitada. Sua história nos mostra isso”.
Em outro trecho, Plinio Martins demostra sua fé no resultado da produção das editoras universitárias: “Se a ampliação e difusão dos benefícios da cultura resultaram em programas editoriais que disseminavam a cultura universal e os conhecimentos funcionais à vida cotidiana da população, as condições atuais de produção universitária adquirem novo significado: colaborar para o desenvolvimento e divulgação das várias áreas do saber. Esta linha de atuação tem o potencial de gerar benefícios inestimáveis à sociedade”.
No capítulo uma “História de Sucesso”, Paulo Franchetti, ex-professor titular da Unicamp e dirigente da editora da universidade de 2002 a 2013, lembra que “no que diz respeito à publicação de livros em geral, o País teve um começo tardio”. Algumas datas: “Apenas em 13 de maio de 1808 começa oficialmente a história da imprensa no Brasil, com a criação da Impressão Régia”, resultado da chegada de D. João VI ao País, fugindo da invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal. Segundo ele, no século 19, “os livros de autores brasileiros como Machado de Assis e José de Alencar ainda eram impressos na França”. E arremata: “A primeira editora de peso no Brasil, capaz de competir com os franceses, foi a Francisco Alves, já no século 20, que se especializou no setor do livro didático e técnico para uma população estudantil crescente”.
Depois de uma explanação que lembra a criação do Ministério da Educação e Cultura no Brasil, apenas em 1930, seguindo-se a reformulação do sistema de ensino, ele registra: “Se a imprensa teve implantação tardia no Brasil, o mesmo se pode dizer da universidade. Na verdade, em comparação com o resto do mundo, o Brasil entrou na era da universidade com enorme atraso. Enquanto em outros países da Ibero-América foram criadas universidades já no século 16 (São Domingos, 1538; Peru e México, 1551; Equador, 1586), no Brasil as primeiras instituições universitárias aparecem apenas no século 20.
Depois dessa digressão histórica, que ainda abarca outros aspectos, Paulo Franchetti analisa o papel e a importância das editorias universitárias. “Às editoras universitárias de primeira linha se reserva um lugar importante no sistema de trocas baseado no livro. E esse lugar insubstituível é, mais exatamente, não um lugar concorrente com as editoras de mercado, mas o lugar que elas ocupam e ninguém mais ocupa no mercado editorial. Seu papel, do meu ponto de vista, é formatar catálogos especializados, de retorno baixo ou mesmo nulo, mas de relevante impacto científico e educacional. Em resumo, o seu lugar é o da autoridade intelectual…”
Plinio Martins, da Edusp, recomenda que “as editoras universitárias devem empenhar-se para produzir cada vez mais livros de qualidade para a comunidade universitária e para o público em geral. Com essa atitude, elas fogem do que chama de ‘ditadura do mercado’ em que apenas os livros com retorno financeiro são editados. A realização dessas tarefas tem potencial para formar integralmente as pessoas, já que todo livro só se constitui instrumento de cultura se chegar ao leitor e for lido”.
E enfatiza: “Muito mais do que fábricas de livros, as editoras universitárias se consolidaram como lugares de afirmação dos valores acadêmicos. Como organismos dedicados à difusão e à conservação da cultura universitária do Brasil”.
Editoras Universitárias para quê?, de Paulo Franchetti e Plinio Martins Filho. Ateliê Editorial, 136 p.