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As novas tecnologias digitais ainda não impactaram os museus. A afirmação foi feita pelo professor Martin Grossmann, em sua coluna “Na Cultura o Centro Está em Toda Parte”, que foi ao ar no dia 19 de abril pela Rádio USP (93,7 MHz). “O museu ainda está muito preso ao objeto, à cultura material”, destacou o professor. “Meios como o museu têm um caráter muito forte, quase de oposição a essa interferência das novas linguagens.”
Grossmann comparou a indiferença dos museus diante das tecnologias às profundas mudanças que elas provocaram em outras instituições e formas artísticas, como o cinema e a fotografia. Segundo o professor, o cinema deixou de ser o “teatro filmado” da época de Charlie Chaplin (1889-1977) e passou a ter uma linguagem própria com Serguei Eisenstein (1898-1948), que inaugurou a técnica da edição. “O cinema, como linguagem, surge com a edição.”
Já a fotografia deixou de ser apenas uma imagem estática e se transformou em cinema e atualmente é um recurso central da mídia digital. “Ela tem um percurso muito interessante, mas, quando a gente visita museus, a gente não vê esse efeito fotografia no museu.”
O professor citou o escritor francês André Malraux (1901-1976), que lançou a ideia do “museu imaginário”. Como explicou Grossmann, Malraux entendia que a fotografia era capaz de produzir uma nova dimensão de museu, o museu imaginário, que não tem paredes nem as restrições ao entendimento do que é o museu impostas pelo mundo da arte. “Para Malraux, o museu é uma relação entre o mundo real e o mundo virtual, entre a cultura material e a cultura na virtualidade.”
Pela própria natureza da fotografia, que é mutante, ela se torna capaz de criar museus imaginários, continuou Grossmann. “A primeira ideia que Malraux teve em relação ao museu imaginário se refere à ampliação da função do livro. Ele criou a ideia de um livro de arte, baseado em imagens”, acrescentou o professor, lembrando que hoje pode-se considerar a internet como um museu imaginário. “Essas relações são importantes para entender a afirmação de que ainda não tivemos um impacto na nossa ideia tradicional de museu”, concluiu Grossmann.
Ouça no link acima a íntegra da coluna de Martin Grossmann.