Rouanet se despede da Cátedra Olavo Setubal, que tem novo titular

Em cerimônia no dia 17, Ricardo Ohtake substituiu o diplomata, que no dia 16 participou de mesa-redonda sobre Machado de Assis

 20/03/2017 - Publicado há 7 anos
Ao lado de Alfredo Bosi, Rouanet comenta a obra de Machado de Assis - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ao lado de Alfredo Bosi, Rouanet comenta a obra de Machado de Assis – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O diplomata e ensaísta Sérgio Paulo Rouanet se despediu da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP ao participar de uma mesa-redonda sobre Machado de Assis, no dia 16 de março, na antiga Sala do Conselho Universitário, na Cidade Universitária, em São Paulo. O debate contou com a presença de Alfredo Bosi, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, de Hélio de Seixas Guimarães, professor livre-docente em Literatura Brasileira, e da pesquisadora Sílvia Eleutério, que organizou e comentou, sob a coordenação de Rouanet, mais de mil documentos de Machado de Assis, em parceria com a também pesquisadora Irene Moutinho. No dia seguinte, o arquiteto Ricardo Ohtake assumiu a Cátedra Olavo Setúbal, em cerimônia realizada na Sala do Conselho Universitário (leia texto abaixo).

“Para fazer justiça à aspiração universalista da cátedra, pareceu-me justo e adequado encerrar estas atividades com uma mesa-redonda inteiramente dedicada à literatura, com ênfase especial em Machado de Assis”, disse Rouanet, que investiu boa parte de sua carreira em análises da obra machadiana.

Essa dedicação ao escritor começou em 1991, quando Rouanet publicou seu primeiro artigo sobre o tema, na Revista USP, sob o título “A contribuição para a dialética da volubilidade” — mais tarde editado como “Contribuição, salvo engano, para uma dialética da volubilidade”, no livro Mal-estar na Modernidade, de 1993.

O arquiteto Ricardo Ohtake assumiu a Cátedra Olavo Setúbal no dia 17 de março - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O arquiteto Ricardo Ohtake assumiu a Cátedra Olavo Setúbal no dia 17 de março – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Durante a sétima fase da Revista Brasileira, em 1995, o diplomata publicou “Machado de Assis e a estética da fragmentação”, no qual deu maior atenção às marcas da escrita machadiana, como a digressão e a fragmentação, que foram a base para seu livro Riso e Melancolia: a Forma Shandiana em Sterne, Diderot, Xavier de Maistre, Almeida Garrett e Machado de Assis” (Companhia das Letras, 2007).

Suas últimas obras sobre o escritor foram os cinco volumes de Correspondência de Machado de Assis, lançados pela Academia Brasileira de Letras (ABL) entre 2008 e 2015, com 1.178 documentos organizados e comentados por Sílvia Eleutério e Irene Moutinho.

Além dos palestrantes, o evento contou com a presença do médico Paulo Saldiva, atual diretor do IEA, e de Martin Grossmann, coordenador acadêmico da Cátedra Olavo Setúbal, ex-diretor do IEA e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, que fizeram uma breve apresentação da cátedra antes do início da mesa-redonda.

“Nós temos uma plataforma de grupo de pesquisa e contamos com intelectuais de primeira linha, que dividem generosamente com o IEA a sua sabedoria e o seu conhecimento”, afirmou Saldiva. Grossmann chamou a atenção para o fato de a formação cultural e humanista não receber o mesmo reconhecimento que a formação científica dentro da Universidade. “A presença da arte e da cultura na Universidade ainda é questionada”, lamentou.

Ricardo Ohtake é o segundo catedrático da Cátedra Olavo Setúbal

Na manhã de sexta-feira, dia 17, ocorreu na Sala do Conselho Universitário a cerimônia de troca dos titulares da Cátedra Olavo Setúbal. O primeiro catedrático, o diplomata, filósofo e cientista político Sérgio Paulo Rouanet, se despediu do posto e entregou-o a Ricardo Ohtake, arquiteto e diretor do Instituto Tomie Ohtake, a quem se referiu como “uma sábia escolha, membro de uma linhagem de gênios, inteligência criadora na esfera da arte, da ciência, da arquitetura e da cultura”.

Rouanet afirmou que seus trabalhos na cátedra “se desenrolaram sob o signo da democracia e da aproximação, com a nobre tentativa de preencher o fosso entre as ciências humanas e as ciências da natureza”. Em referência ao fato de que sua abordagem se deu mais no campo teórico e filosófico e que será substituída por uma mais prática por parte de Ohtake, o diplomata parafraseou, ressaltando a ausência de qualquer partidarismo ou inclinação ideológica o filósofo Karl Marx: “Os filósofos até hoje se dedicaram a interpretar o mundo. Trata-se agora de mudá-lo”. Assim, transmitiu a Ohtake o que chamou de “a tocha olímpica do saber”.

Após ser apresentado como “um grande intelectual da cultura, acadêmico dos museus e das artes que não costuma separar arte de política” pela professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Lilia Schwarcz, Ohtake se disse honrado por assumir a Cátedra Olavo Setúbal e por voltar à USP, onde se formou há 50 anos. “Não sei se atenderei à cátedra com o mesmo brilho de Rouanet. Não sou sequer um intelectual, sou um pensador ao meu modo”, afirmou o arquiteto.

Modéstia à parte, Ohtake falou sobre o desenvolvimento da cultura e de políticas públicas e instituições culturais ao longo da história do Brasil, ressaltando a importância da Lei Rouanet, desenvolvida por seu antecessor na cátedra durante seu mandato como ministro da Cultura entre 1991 e 1992. Por fim, fez um breve apanhado dos temas que irá abordar durante seu período como catedrático: “Discutiremos, entre outras coisas, perspectivas para a cultura e a arte no futuro, o que me interessa muito diante do cenário dúbio em que nos encontramos. A arte, em sua inventividade, pode sugerir caminhos”.

LARISSA LOPES E DIEGO C. SMIRNE

 


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