China e Rússia estão na vanguarda mundial no desprezo aos direitos humanos

Marília Fiorillo foca seu comentário no apoio que a China oferece aos militares que promovem chacina após chacina em Myanmar, num total desprezo aos direitos humanos

 16/06/2023 - Publicado há 1 ano

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O mundo vive sob um cenário de turbulência. Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump é indiciado por crimes federais, enquanto na Ucrânia persistem os crimes de guerra perpetrados pela Rússia, ao mesmo tempo em que se ensaia uma contraofensiva da resistência ucraniana. Os olhos do planeta também estão voltados, nas palavras de Marília Fiorillo, “para a contradança em ritmo de valsa da disputa comercial China versus Estados Unidos”. No entanto, cabe aqui um parêntese: o mundo volta as costas para graves crises humanitárias. “É o caso de Myanmar. Desde o golpe militar de 2021, a junta tem promovido uma carnificina, prendendo, torturando e aterrorizando milhares de pessoas, e ridicularizando os espasmódicos e inócuos protestos da ONU. Os militares de Myanmar são conhecidos, de longa data, pelo desprezo à opinião ou a sanções internacionais. São praticamente um protetorado da China, da qual dependem para tudo.” Em abril, a Human Rights Watch denunciou o bombardeamento de uma vila que exterminou 160 civis, entre eles muitas crianças. “Os corpos carbonizados e desmembrados mereceram algumas linhas, tamanho o descaso. ‘O general  Min Aung Hlaing é um paranóico brutal’. Alguém duvidava?”

Marília lembra que Aung San Suu Kyi e opositores continuam presos, que não há imprensa livre e muito menos qualquer vigência da lei no país. “Quase 1,5 milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas, isso sem contar as centenas de milhares de refugiados Rohingya, vítimas de limpeza étnica e encurralados em Bangladesh. Se há um país que se enquadra milimetricamente em todas as variantes de barbárie, do genocídio a crimes de guerra a crimes contra a humanidade, diários, repetimos, diários, é Myanmar.”

“Tamanho terrorismo de Estado, porém, conseguiu o impossível, isto é, a união de etnias diferentes, que antes se detestavam, em grupos de guerrilha da PDF – People’s Defense Forces. A guerra civil, enfim, começou. Chega de flores no cabelo e concessões humilhantes. A mudança na estratégia da oposição aos carniceiros militares, com o apoio da população, é uma constatação, não uma celebração. Já resultou, surpreendentemente, na tomada de várias áreas controladas pela junta. A opção pela resistência armada é uma escolha contra o medo e a impotência,  embora nada garanta sua vitória. Enquanto a China apoiar a junta militar, para quem forneceu US$ 254 milhões em armamento desde o golpe, ou a Rússia continuar vendendo US$ 400 milhões também em armas, é quase impossível uma solução a curto prazo. Se há algo que China e Russia têm em comum, e no qual hoje estão na vanguarda mundial, é o desprezo absoluto pelos direitos humanos”, finaliza a colunista.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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