Trocar refeições por lanches, até em tempos de inflação, pode causar deficiência alimentar

As nutricionistas Patrícia Campos Ferraz e Luciana Cisoto Ribeiro recomendam evitar o consumo na rua de lanches e salgadinhos, já Paulo Feldmann diz que há pouco dinheiro no bolso do brasileiro para a compra de alimentos

 10/08/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 16/08/2022 às 12:06
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Os lanches devem ser evitados por serem alimentos ricos em gordura e ultraprocessados  – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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Patrícia Campos Ferraz – Foto: Arquivo Pessoal

O trabalhador tem trocado refeições por lanches, salgadinhos, pastéis ou outros alimentos, normalmente ricos em gordura e ultraprocessados. Só para se ter uma ideia, um almoço em São Paulo não sai por menos de R$ 40, já o lanchinho custa até R$ 15. Dados recentes apontam que o preço das refeições fora de casa subiu em média 21%. Em tempos de inflação alta dos alimentos, essa troca não tem efeito apenas no bolso, mas principalmente na saúde, pois, via de  regra, lanches são menos nutritivos e pouco saudáveis.

A nutricionista Patrícia Campos Ferraz, da Faculdade de Saúde Pública da USP, especialista em biologia funcional e molecular, explica o risco que esses alimentos causam à saúde. A crise diminuiu o consumo de proteína de origem animal. Uma ótima oportunidade de valorizar outros produtos, como, por exemplo, o ovo, um alimento que acaba sendo palatável para todos os bolsos e gostos. “O ovo é uma excelente opção, porque tem proteína e ferro, além de vitamina B12 em boas quantidades também, talvez não tanto quanto a carne, mas em excelentes quantidades, e tem um excelente custo-benefício, é um alimento muito versátil, que apresenta muitas formas de preparo”, diz Patrícia.

Alteração de hábitos

Luciana Cisoto Ribeiro – Foto: Arquivo Pessoal

A nutricionista Luciana Cisoto Ribeiro,  professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e pesquisadora na área de saúde pública de vulneráveis, explica que parte dessas mudanças na alimentação fora de casa tem a ver também com a alteração nos hábitos de vida. “Eu acredito que não só a crise leva a essa troca de refeições por lanchinhos, eu diria que, principalmente, as mudanças no estilo de vida. Hoje em dia, as pessoas trabalham muito distante das residências, devido às mudanças nas famílias, não tem mais quem prepare, quem cozinhe os alimentos em casa”,  avalia Luciana.

A deficiência alimentar pode resultar em várias doenças e a principal delas é a obesidade. O excesso de peso tem inúmeras consequências, como o diabete, colesterol alto e doenças cardíacas. As duas especialistas convergem na mesma direção: prepare sua refeição em casa e evite as comidinhas de rua.

Momento ruim para a economia

Em relação ao alto preço dos alimentos, segundo o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA/USP),  isso se deve a um conjunto de fatores, que vão desde a safra até a escassez de oferta de produtos, mas ele vê  uma luz no fim do túnel com o aumento do  Auxílio Brasil, que teve um reajuste de 50% no valor, o que beneficia as classes menos favorecidas. Por outro lado, a redução no preço dos combustíveis não deve chegar aos alimentos, já que o grande desconto ficou  no preço da gasolina e não com o diesel, responsável pelo transporte dos  produtos da cesta básica.

O País deve continuar a viver esse  momento de recessão em 2023, em função das recentes promessas de governo que foram feitas e que vão precisar ser cumpridas no próximo ano, como é o caso do ICMS.  Apesar de o Brasil ter vivido um período de hiperinflação, nos anos 80,  a situação era diferente da atual, isso porque naquela época as pessoas tinham emprego e não passavam fome como ocorre atualmente. 

Fome atinge 33 milhões

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

 As pessoas que passam fome no Brasil somam 33 milhões diariamente, ou seja, 15% da população brasileira; com isso, o número de brasileiros que passam fome é maior que a porcentagem mundial. Além disso, existe a insegurança alimentar, ou seja, a incerteza em não se saber se haverá comida nas próximas 48 horas . 

Junto a tudo isso  soma-se o desemprego: 10 milhões de desempregados,  40% da força de trabalho do País está sem renda e consequentemente não tem como se alimentar . O professor Paulo Feldmann diz que “esses são alguns dos desafios que  o próximo governo deve enfrentar, e a situação só deve melhorar para o brasileiro em 2024, depois da aprovação de reformas e negociações políticas”, finaliza. Ouça abaixo a entrevista do professor Feldmann:

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