Espaço coworking, não licenciado como cozinha industrial, causa transtornos na cidade

Segundo Pedro Luiz Côrtes, as dark kitchens usam uma situação não prevista na lei, de agregar, em um único local, dezenas de cozinhas, como se fossem causar um pequeno impacto, o que não corresponde à realidade

 01/04/2022 - Publicado há 2 anos
Problemas de barulho, fumaça, gordura, mau cheiro, acúmulo de resíduos e trânsito são problemas relatados por moradores dos bairros onde esse tipo de estabelecimento está instalado – Foto: Freepik
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Com o crescimento da demanda pelos serviços de delivery de comida em São Paulo, surgiram as “dark kitchens” (cozinhas fantasmas), um modelo de negócio que agrega, em um único imóvel, dezenas de cozinhas que atendem apenas por serviços de entrega. Essas cozinhas têm se instalado em bairros residenciais para ficarem próximas dos clientes, mas os mesmos reclamam de uma série de inconvenientes gerados, como barulho, mau cheiro e aumento do trânsito.  

O professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, Pedro Luiz Côrtes, fala em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, que esses empreendimentos optaram por atuar exclusivamente por sistema de delivery para reduzir custos e que são licenciados como espaços de coworking, e não como uma cozinha industrial. “Na prática, eles [restaurantes] usam uma situação não prevista na lei, que é você agregar, em um único local, dezenas de cozinhas. Cada uma com a sua licença de trabalho específica, como se fosse causar um pequeno impacto, mas a soma da ação de todas elas causa o transtorno equivalente ao de uma cozinha industrial”, informa. 

Pedro Luiz Côrtes – Foto: IEA-USP

Além dos problemas de barulho, fumaça, gordura, mau cheiro, acúmulo de resíduos e trânsito percebidos pelos moradores de bairros que comportam as cozinhas fantasmas, Côrtes alerta também sobre as más condições de trabalho para os motoboys e cozinheiros: “Há relatos de que sequer tem banheiro para os motoboys. E é um trabalho que começa logo cedo, de manhã, e vai até de madrugada, até o último cliente fazer um pedido. Então não há um descanso, e inclusive isso se mantém no final de semana. É praticamente um turno de 20 horas por dia, sete dias por semana”.  

Como resolver

Para solucionar o problema, o professor sugere mudar as formas de licenciamento e fiscalizar como um todo os empreendimentos: “Tem que ser dada uma atenção especial às questões de fumaça e gordura por parte da fiscalização ambiental. Barulho é uma fiscalização da Prefeitura”. Ele afirma que a Prefeitura de São Paulo precisa desenvolver um protocolo antes de licenciar essas cozinhas para verificar detalhadamente quais são os impactos que elas podem gerar e até evitar que outras formas de coworking acabem surgindo e gerando mais inconvenientes.

“E uma outra questão fundamental é verificar as condições de trabalho, não só dos motoboys, mas também das pessoas que estão [trabalhando] nessas ‘dark kitchens’, para ver se realmente as condições de trabalho, de higiene, são adequadas”, atenta Côrtes. “Às vezes, a gente recebe um produto bem-feito, [mas] a gente não sabe como foi processado. A que custo social aquilo foi produzido”, complementa.  

Para conhecer mais sobre o trabalho do professor Pedro Luiz Côrtes, confira seu canal no YouTube O ambiente é o nosso meio: https://www.youtube.com/channel/UCzyNho5qUZRCTsn637VZXrg 


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