“Gestão da Petrobras configura conflito de agências, divergências entre acionistas e gestor”

Para Pedro Luiz Côrtes, é necessário um modelo de gestão capaz de evitar um conflito entre acionistas e os interesses da população

 26/02/2021 - Publicado há 3 anos
Edifício sede da Petrobras no centro do Rio de Janeiro – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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As questões referentes à Petrobras continuam em aberto. A forma de gestão das empresas públicas de capital aberto e os aspectos ambientais envolvendo os combustíveis precisam ser discutidos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor da Escola de Comunicações e Artes e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, Pedro Luiz Côrtes, comenta o assunto.

Para o professor, o problema é mais amplo do que vem sendo considerado. “Na gestão de empresas públicas de capital aberto, que é o caso da Petrobras, configura-se o chamado conflito de agências, uma divergência de interesses entre acionistas e o gestor. O governo, como maior acionista e gestor, deve priorizar o retorno sobre investimento dos demais acionistas. Entretanto, o governo foi eleito para proteger o interesse de toda a população e isso, em geral, não coincide com o interesse dos acionistas”, explica.

Quando a Petrobras aumenta o preço dos combustíveis, está preservando o interesse dos acionistas. Quando ela decide congelar, durante algum tempo, o preço dos combustíveis, está atendendo aos interesses da população. É necessário que haja um modelo de gestão capaz de evitar esse tipo de conflito. “Em meu entendimento, isso não passa por uma renúncia fiscal, como o governo vem realizando. Ou seja, abrir mão de alguns impostos na tentativa de manter o preço do óleo diesel em patamares mais baixos”, afirma Côrtes.

Os biocombustíveis, uma ótima alternativa aos combustíveis fósseis, têm sido deixados de lado, o que prejudica esse setor e deixa o País dependente da importação de derivados de petróleo e da oscilação internacional do preço dos combustíveis, explica o professor. A preocupação crescente com a sustentabilidade diz respeito também aos combustíveis. Muitos países proibirão a venda de automóveis novos movidos a gasolina nos próximos anos e optarão por fontes de energia alternativas. “Em poucas décadas, a indústria petrolífera vai perder a importância que tem hoje”, diz.

As discussões sobre o futuro da nossa matriz energética e as políticas de preço também envolvem essa mudança de padrão das fontes de energia no mundo. “Infelizmente, essas discussões não ocupam a Câmara dos Deputados e o Senado”, finaliza o professor.


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