Cobrança por produtividade na pandemia pode levar à síndrome de burnout

Segundo Maria da Conceição Uvaldo, a intensificação da rotina de trabalho, o medo do desemprego e da covid-19 propiciam o esgotamento mental

 21/01/2021 - Publicado há 3 anos
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Estresse constante, exaustão mental, fadiga, dores de cabeça são sintomas comuns da síndrome de burnout /Stress – Foto: bayleejgarner

A cobrança por resultados e produtividade em meio à pandemia pode aumentar os casos de síndrome de burnout no País. Cerca de 30% dos brasileiros sofrem com a doença, segundo a International Stress Management Association do Brasil (Isma). Especialista informa que estresse constante, exaustão mental, fadiga, dores de cabeça e musculares e irritabilidade são os sintomas mais comuns da síndrome do esgotamento profissional, causada principalmente pela alta tensão no trabalho.

Maria da Conceição Uvaldo, do Serviço de Orientação Profissional (SOP) do Instituto de Psicologia (IP) da USP e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional (Labor) da USP, explica que a síndrome de burnout causa a sensação de que toda a energia que se tinha foi sugada para o trabalho. “O mundo do trabalho hoje é muito assim. Te suga, te provoca o tempo todo a dar mais e mais. Isso acontece não só em empresas tradicionais, mas em empresas ditas modernas, com horários flexíveis, e que acabam tendo exigências até maiores do que as mais tradicionais.”

A psicóloga acredita que a pandemia tem feito as pessoas trabalharem mais, seja presencial ou remotamente, e isso, somado ao medo do desemprego, da covid-19 e da cobrança por produtividade, pode levar à exaustão mental: “E agora, neste momento, em que as condições de trabalho especiais que a pandemia tem nos obrigado, faz com que essas sensações, esses sintomas, esse burnout aumente”, e complementa: “Temos ficado em casa e trabalhado em casa, portanto, esses tempos se misturam. O tempo de não trabalho praticamente deixa de existir, seja porque nos sentimos compelidos a trabalhar mais devido ao medo do que pode acontecer, do desemprego, da empresa ir mal, então acabamos trabalhando demais, seja porque também esse trabalho se sobrepõe às atividades domésticas – todos nós estamos trabalhando muito mais”.

É fundamental que as empresas realizem ações para garantir que seus funcionários se sintam acolhidos no retorno após a pandemia. Na visão da especialista, o ambiente de trabalho não pode ser símbolo de exigência desmedida, mas, sim, um local de reencontro: “As pessoas têm que voltar de forma que se sintam acolhidas, que o ambiente de trabalho não seja o ambiente que remeta à falta, à exigência. É preciso ser cuidadoso no retorno, cuidar das pessoas. Prepará-las é fundamental para evitar tanto a síndrome de burnout como outras. As empresas e os RHs têm uma responsabilidade enorme de tornar esse retorno saudável e cuidar dos seus funcionários”.

 


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