Projeto da USP treina futuros profissionais da saúde para o atendimento humanizado

Iniciativa da Faculdade de Medicina da USP, o projeto MadAlegria leva alunos para atender em hospitais de forma lúdica e animada

 11/08/2022 - Publicado há 2 anos
Projeto MadAlegria teve início em 2012 e já formou centenas de voluntários – Foto: Divulgação/FMUSP

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Toda semana, às quarta-feiras, por volta das sete da noite, alunos de medicina, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, enfermagem e outras áreas da saúde se reúnem em uma sala da Faculdade de Medicina (FM) da USP para aprender a contar histórias e como se tornar bons palhaços. Eles participam do projeto MadAlegria, uma atividade de extensão da faculdade voltada para a humanização das relações interpessoais no ambiente hospitalar. Seu objetivo é auxiliar na formação de profissionais que valorizem a empatia, o acolhimento e a simetria na relação com o paciente.

“Temos alunos muito tímidos, que sentem uma grande pressão quando se tornam graduandos em relação a jornada de estudo e de trabalho”, diz a professora Elizabeth Gonçalves Ferreira, coordenadora do MadAlegria. “Temos também os extrovertidos, que se forem extrovertidos demais, precisam de ajuda para focar essa energia”, avalia.

Criado em 2010, o projeto abre vagas para novos membros uma vez por ano, quando é realizado um breve curso de apresentação aos interessados. Em seguida, os participantes decidem se tentarão seguir o caminho de palhaço de hospital ou contador de histórias. Só então eles passam pelo processo seletivo, que consiste em uma introdução em carta ou vídeo seguida de uma entrevista.

Trata-se de um trabalho voluntário que prepara os alunos para atenderem semanalmente, por pelo menos um ano, no Hospital das Clínicas (HC) e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

“O MadAlegria tem um formato que tenta, dentro da estratégia de Humanização, fazer com que o aluno vivencie conceitos, ao invés de apenas falar deles”, diz a coordenadora. Ela ressalta que, para não se tornar um termo esvaziado de sentido, a humanização deve ser realizada na prática, levando o ser humano ao centro da tomada de decisão dos profissionais médicos.

“A sensação de onipotência é muito perigosa na área da saúde porque induz a erros e coloca o profissional em uma assimetria com o paciente”, explica. “Ao sensibilizar-se pelo enfermo, é possível enxergar melhor o universo dele e perceber a responsabilidade que se possui com a vida.”

Formação de turma do MadAlegria- Foto: Divulgação/FMUSP
Participantes da palhaçaria – Foto: Divulgação/FMUSP

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Durante as visitas aos hospitais, os pacientes sempre têm a opção de negar a presença dos voluntários, que devem aprender a lidar com essa rejeição. Quando a conexão entre os dois se estabelece, entretanto, pode acabar em uma experiência transformadora.

Elizabeth, que também passou pelo curso de formação do MadAlegria, lembra de um atendimento realizado junto com uma aluna no Icesp. Durante o encontro com uma mulher que se encontrava inconsciente e era acompanhada pela família, as duas decidiram cantar uma música. Baixinho, respeitando a energia do lugar, elas harmonizavam quando, para surpresa de todos, a voz recém desperta da paciente se juntou ao coro. “Isso fica com o aluno para o resto da vida”, diz.

Dentro do ambiente hospitalar, onde comportamentos físicos, códigos de vestimenta e de conduta podem se tornar tão rígidos, o projeto busca fomentar novos meios de interação entre pacientes, familiares, profissionais e equipe médica. As aulas contam com treinos de comando corporal, fala, olhar, empatia, linha de raciocínio e improviso e são ministradas por profissionais das áreas de artes e humanidades.

O MadAlegria prioriza estudantes da USP e da área da saúde, mas também aceita pessoas de outros cursos e instituições, assim como quem já não estuda mais ou nunca frequentou a universidade. “Muitos chegam com ideais de altruísmo, de fazer o bem ao próximo e se doar”, diz Elizabeth. “Mas com o tempo, percebem que foram eles que receberam do projeto, dos pacientes e dos atendimentos.”

Aula para os voluntários na FMUSP – Foto: Divulgação/FMUSP
Professoras de narração de histórias durante o curso introdutório – Foto: Divulgação/FMUSP

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Humanização na prática

A humanização da Medicina representa uma mudança de paradigma na prestação de cuidados médicos a fim de oferecer um atendimento mais completo aos pacientes. Sua prática envolve a educação e o treinamento dos profissionais de saúde, bem como intervenções que tornem a experiência da hospitalização mais agradável ao paciente.

“O conceito de humanização está intimamente ligado ao cuidado do paciente como um ser único que precisa ser ouvido e atendido de forma ética e respeitosa, levando em conta todas as suas dimensões psíquicas, emocionais, físicas, culturais, espirituais e sociais”, diz Maria Helena Sponton, coordenadora de humanização do Icesp.

Os quartos de internação do Icesp costumam receber alunos do MadAlegria semanalmente, deixando o ambiente mais sereno, interessante e alegre, além de servir como ponte para socialização. “Os colaboradores também se sentem acolhidos, aprendendo novas histórias e estratégias lúdicas”, diz Maria Helena. Para ela, o treinamento humanizado contribui para aprofundar a experiência do paciente como centro do cuidado. “O projeto torna seus futuros profissionais mais humanos e empáticos, sabendo ouvir e falar com os pacientes em seus momentos difíceis de dor, angústia e medo”, avalia.

Impacto no hospital e na sala de aula

De acordo com dados internos do Núcleo Técnico e Científico de Humanização (NTH), que atua na FM e no HC, em 2021, o Hospital desenvolveu 619 ações fora da rotina de trabalho envolvendo aspectos como educação, acolhimento, arte e cultura popular, promoção de autocuidado, entre outros, alcançando quase 2 milhões pessoas entre pacientes e colaboradores.

Já na Faculdade de Medicina, a professora Izabel Cristina Rios, coordenadora do NTH, avalia que “o investimento na área se tornou mais efetivo a partir de 2017, quando a Diretoria Executiva e a Chefia de Gabinete criaram o Eixo Humanização FM”. A iniciativa agregou atividades no âmbito do ensino médico, pesquisa em saúde, extensão universitária e gestão dos serviços de ensino superior relacionadas ao tema.

Outra ação importante, segundo a coordenadora, foi o enquadramento da humanização como uma das bases estratégicas definidas no projeto pedagógico do curso de medicina, junto à integração, internacionalização, excelência no ensino e pesquisa, sustentabilidade e inovação, guiando assim todas as ações educativas realizadas na Faculdade.

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Fonte: Assessoria de Comunicação da FMUSP

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