Parceria entre ciência e música pretende ajudar na preservação do Cerrado paulista

O álbum “Vento do Cerrado” reúne improvisações no sax com paisagens sonoras da Estação Ecológica de Itirapina gravadas pelo Laboratório de Acústica e Meio Ambiente da Escola Politécnica da USP

 07/12/2022 - Publicado há 1 ano
Lobo-guará, objeto de pesquisa do Laboratório de Acústica e Meio Ambiente da Poli-USP – Foto: Arquivo pessoal

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A devastação florestal em São Paulo é expressiva: antes da ocupação da área pelos desbravadores ocidentais, o Cerrado cobria 33% do território de São Paulo, de acordo com o site Rede Cerrado; índice que caiu para 18,2% do território no início do século 20. “Cem anos depois, resta menos de 1%. Da pequena porção remanescente, menos de 20% está protegida em unidades de conservação ou reservas legais”, como informa o site da entidade, criada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Brasil em 1992, conhecida como Eco-92 ou Rio 92. “Foram 27,9 milhões de hectares de vegetação nativa perdidos entre 1985 e 2021”, informou o Mapbiomas acerca de um estudo nacional realizado a partir de dados do satélite Landsat, que mostram que em 2021 apenas metade do Cerrado (53,1%) ainda está coberta por vegetação nativa, revelando ainda o avanço da soja sobre a floresta.

Para lembrar da importância desse bioma e registrar a diversidade local, uma parceria entre ciência e música pretende auxiliar na preservação do meio ambiente da região. Inspirado pelas pesquisas do professor Linilson Padovese, coordenador do Laboratório de Acústica e Meio Ambiente (Lacmam), do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica (Poli) da USP, o músico e jornalista Roger Marza acaba de lançar Vento no Cerrado (distribuição pela Tratore). O novo álbum, disponível neste link, reúne improvisações no sax alto com paisagens sonoras da Estação Ecológica de Itirapina, gravadas pelo laboratório da USP, que entre outubro de 2021 e janeiro de 2022 realizou estudos sobre o comportamento do lobo-guará na região.

Das sete músicas do álbum, cinco são dessa área de 2,3 mil hectares que está localizada entre os municípios de Itirapina e Brotas. “O Cerrado ocupava uma área grande em São Paulo e virou várias manchinhas. Uma delas é em Itirapina, outra está em Águas de Santa Bárbara e Assis. Até no município de São Paulo tem manchinhas de Cerrado. E a Estação Ecológica de Itirapina, assim como Assis e Águas de Santa Bárbara, dentre outras, visa a manter esse bioma, que está completamente envolvido por atividades agropecuárias”, diz Padovese.

O professor Linilson Padovese instalando gravador no Cerrado paulista – Foto: Arquivo Pessoal
O músico Roger Marza retrata a beleza e fragilidade da região – Foto: Adriana Costa

O álbum

Com uma arte sonora classificada como biojazz ou biomúsica, Vento do Cerrado traz uma sinfonia de pássaros, abelhas, alguns sons do vento e aulidos do lobo-guará, em gravações feitas no dia 17 de novembro de 2021 – os cantos dos pássaros foram todos gravados em uma sequência do amanhecer, enquanto os sons do lobo-guará foram captados por volta das 23 horas. Também é possível ouvir o som do trem de carga em vários momentos pela manhã, além de um som muito baixo de música de uma festa à noite, em baladas nos condomínios que circundam a Estação Ecológica. O Lacmam espalhou gravadores em seis pontos da área, mas o disco utiliza somente o som gravado próximo à represa do Broa.

O cientista assina as cinco músicas com sons dessa área, como Vento do Cerrado, Trem da Manhã, Bico de Pena, Nas Asas de um Passarinho e Semeador de Árvores. Esta última improvisação livre é feita em homenagem ao lobo-guará, que por se alimentar de frutos da região e andar longas distâncias dispersando as sementes, é conhecido como o semeador de árvores. O estudo em Itirapina está em processo de análise, ainda sem uma previsão para a divulgação. O Lacmam também estuda os sons do Cerrado em Assis e Águas de Santa Bárbara a fim de avaliar a biodiversidade de espécies animais, outro trabalho em fase de análise.

Já a música Chapada dos Guimarães traz a gravação de sons de pássaros que Marza fez no centro do município mato-grossense em 2019, quando trabalhou no projeto Caminhos da Safra, da revista Globo Rural. A improvisação livre de dois minutos é um protesto do músico contra as constantes queimadas do Cerrado da Chapada e o avanço da urbanidade. Uma outra música, Visto de Cima, foi gravada em Americana, cidade natal do artista, realizada em homenagem à sua mãe.

Para conferir os sons do álbum Vento do Cerrado acesse https://tratore.ffm.to/ventodocerrado .

 

Com informações da Assessoria de Imprensa do músico


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