Novo laboratório da USP estuda circulação de papéis históricos e suas mudanças ao longo do tempo

Criado neste ano, laboratório da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP usa a tecnologia para estudar documentos em suporte de papel com auxílio de pesquisadores das áreas de História, Letras (Filologia), Física e Química

 30/11/2023 - Publicado há 5 meses
Exemplo de marca d’água presente em papéis desde o século XIII; a imagem original ao canto foi destacada para a melhor visualização da marca d’água – Foto: Renan Braz e Thais Morimoto/Acervo Embira

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Por Eliana Bento e Thais Morimoto*

Desde o século 13, as marcas d’água estão presentes nos papéis, garantindo sua procedência e qualidade. Cavalo, cruz, coroa, partes do corpo e outros elementos constituíam o processo de produção do papel, a fim de identificar o fabricante. O resultado desse método deu origem ao que chamamos de marca d’água, de certa forma, única, o que, junto a outros elementos, garantia a autenticidade do papel. Essas marcas d’água são um dos eixos de análise do Embira, laboratório criado em 2023 com sede na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. 

O grupo também pesquisa outras características que constituem a materialidade dos documentos, além de tentar entender as implicações do papel na sociedade. “O laboratório estuda e analisa documentos históricos com diferentes marcas d’água, pertencentes a arquivos brasileiros e portugueses, para identificar a produção, o uso, a circulação de papéis e suas mudanças ao longo do tempo”, explica o professor Phablo Roberto Marchis Fachin, coordenador do Embira. 

Por meio do trabalho do laboratório, evidencia-se como o papel é um objeto de diferenciação social. “Grande parte dos testemunhos escritos preservados em papel foi produzida por apenas uma pequena parcela da sociedade, justamente aqueles que, por estarem em uma posição privilegiada, trataram de compor uma história apenas sob seu ponto de vista”, declara o professor. 

Acervo do Embira contém vários documentos de papel antigos – Foto: Thais Morimoto/FFLCH

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Origem do Embira

O laboratório nasceu a partir de um trabalho de longa data com intensa atividade de pesquisa interdisciplinar, envolvendo pesquisadores do Instituto de Física, do Museu Paulista e da FFLCH, de acordo com Fachin. Uma dessas atividades é desenvolvida no âmbito de um Acordo de Cooperação entre a FFLCH e a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência da Cidade de São Paulo. Por meio do laboratório também se analisam manuscritos de diversos acervos, entre eles, o do Museu Republicano Convenção de Itu, do Arquivo Público do Estado de São Paulo e do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, para oferecimento de cursos e atividades de pesquisa. 

Marca d’água presente em Manuscrito de 1640 – Freguesia de Veçadas – Foto: Thais Morimoto/Acervo do Embira – FFLCH

O laboratório reúne pesquisadores das áreas de História, Filologia, Conservação, Restauro e Física. “O trabalho realizado por meio do Embira também se sustenta no próprio tripé da Universidade de São Paulo: Ensino, Pesquisa e Extensão”, acrescenta o professor. As atividades do laboratório fazem parte do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, na Graduação e na Pós-Graduação, dialogando com as disciplinas ministradas nas áreas de Filologia e de Língua Portuguesa. Segundo Fachin, essa união “potencializa o modo de olhar os textos, acolhendo alunos de diferentes níveis em seu corpo de pesquisadores e promovendo atividades que alcançam a comunidade externa, a sociedade em geral”.

O nome Embira surgiu a partir de um documento de 1809 que aborda a fabricação e uso do papel no Brasil, até então uma novidade no País. “Remeto huma amostra do papel bem que não alvejado, feito em primeira experiência da nossa embira”, está escrito na carta de Frei Vellozo ao Conde de Linhares, de 22 novembro 1809. Embira é “uma forma de constituir um elo entre a história de fabricação de papel no Brasil e a natureza do laboratório”. 

O Embira conta também com um acervo próprio composto atualmente de documentação datada do século 14 ao 20, abrangendo diferentes tipologias documentais, entre cartas, procurações, certidões e outros. Além disso, conta com equipamentos para análise documental e oferecimento de oficinas. Sua inovação está tanto no uso de equipamentos para ampliar o estudo dos textos escritos quanto na abordagem interdisciplinar e interinstitucional das questões postas pelos manuscritos. 

Equipamentos do laboratório para pesquisas – Foto: Thais Morimoto/FFLCH

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Atualmente, a equipe do Embira é formada pelos professores Fachin (coordenador), Maria Aparecida de Menezes Borrego (História/Museu Paulista) e Márcia de Almeida Rizzutto (Física), e pelos discentes Elisa Silveira Martins (Letras), Gabriel Henrique Furtunato Silva (História), Igor Alexandre Silva Cassemiro (História), Jean Gomes de Souza (História), Juliana Bittencourt Bovolenta (Física), Lucas Albertini Leal (História) e Regina Jorge Villela Hauy (Letras), além da colaboradora técnica Wanda Gabriel Pereira Engel (Física). 

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*Da Assessoria de Comunicação da FFLCH-USP


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