Exposição Mulheres Egressas do Sistema Carcerário (2018) – Foto: Divulgação/Museu pra Quem?

Museu pra Quem? dá espaço para grupos minoritários contarem suas histórias

Por meio de exposições imersivas baseadas em histórias de vida, projeto de alunos da USP busca usar a empatia como forma de desconstruir preconceitos e gerar oportunidades

04/08/2021

Os museus são espaços de cultura e lazer, onde as histórias de uma ou mais sociedades podem ser preservadas e contadas ao público. Mas, para além da exposição de itens valiosos e quadros renomados, de quem são as narrativas contadas?

Incomodados com a falta de espaço que alguns grupos minorizados têm nesses locais, estudantes universitários membros da Enactus — entidade internacional de empreendedorismo social que tem grupos na USP — construíram o Museu pra Quem?, um projeto de exposições audiovisuais imersivas que usa a empatia como ferramenta para desconstruir preconceitos. 

Desde 2017, o museu convida pessoas pertencentes a grupos minoritários e marginalizados para compartilharem suas histórias de vida, num espaço onde elas possam ser ouvidas. “A gente acredita que todas as histórias merecem estar nos museus. Se nos museus tradicionais essas histórias não ocupam espaço, elas são mais que bem-vindas dentro do nosso Museu pra Quem?”, conta Vinícius Esteves, estudante de Relações Internacionais e coordenador do projeto.

Ao todo, foram realizadas oito exposições presenciais pela cidade de São Paulo, em que egressos do sistema carcerário e mulheres empreendedoras puderam contar suas histórias. Em decorrência da pandemia, em 2020, o projeto precisou mudar o formato e as mostras passaram a ser feitas por meio das redes sociais.

Nessa dinâmica, foram publicadas histórias sobre professores na pandemia, orgulho LGBTQIA+, saúde mental, racismo, artes. “A parte mais importante foi que, com esse investimento na atuação das redes sociais, a gente continuou impactando vidas e estabelecendo pontes de empatia, mesmo que a distância”, conta Vinícius.

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Vinícius Esteves, coordenador do projeto Museu pra Quem? – Foto: Arquivo pessoal

O museu recebe grande apoio da comunidade universitária e cresce mais a cada ano. Em junho, foi vencedor da 2ª edição do Prêmio Diversidade USP, realizado pela Frente Poli Pride, coletivo LGBTQIA+ da Escola Politécnica (Poli) da USP. Atualmente, o projeto está se desvinculando da Enactus e pretende se tornar uma entidade estudantil de cultura e, a partir do próximo ano, qualquer estudante da USP poderá participar.

Vídeo sobre o projeto piloto do Museu pra Quem? sobre egressos do sistema carcerário, realizado em 2017 no Parque Villa-Lobos. À direita, história do ator Junior Pontes, nas redes sociais do projeto. Ele conta sobre o valor do teatro na sua história e como tudo aconteceu na pandemia.

Exposições do Museu pra Quem? antes da pandemia – Foto: Divulgação/Museu pra Quem?

“A gente vive numa sociedade em que a empatia é como se fosse uma pré-habilidade que todo mundo já nasce com e não se questiona sobre. Mas, na verdade, a empatia é uma habilidade que você vai desenvolvendo”, conta Vinícius. Ele ainda destaca que viu o museu como um espaço cultural em que pudesse desenvolver ainda mais a a escuta ativa, a empatia e o conhecimento de mundo. “Não são tantas as situações, dentro da nossa sociedade extremamente desigual, em que a gente tem oportunidade de sair da nossa bolha e estar presente em um projeto que questiona a desigualdade social, de espaços de fala e de escuta. Para mim, participar do museu é um presente. Eu acho que, de todas as coisas que eu faço na minha vida, é a que mais me toca”, afirma.

Material de divulgação do museu nas redes sociais – Foto: Reprodução/Instagram

Exposição Mulheres Empreendedoras (2019) – Foto: Reprodução/Museu pra Quem?

A voz dos uspianos da periferia

Em 2021, o foco da exposição serão jovens estudantes da USP que vivem em zonas periféricas da cidade de São Paulo. A mostra deve ocorrer virtualmente, por meio do site do projeto, entre os meses de novembro e dezembro. As histórias devem discutir questões de acesso, permanência e resistência dentro do espaço universitário. Antes da exposição, os colaboradores devem participar de uma série de encontros, onde podem conhecer e se aproximar mais da iniciativa.

Imagens e áudios das histórias contadas nas exposições anteriores estão disponíveis no site do Museu. Mais informações e novas iniciativas do projeto podem ser encontradas no Instagram (@museupraquem) e no Facebook (Museu pra Quem?).