Hospital da USP em Bauru capacita profissionais em fonoterapia intensiva

Iniciativa promovida pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais com apoio da organização filantrópica Smile Train reuniu pacientes e fonoaudiólogos de todas as regiões do País

 20/12/2022 - Publicado há 1 ano
Fonoaudióloga Melissa Antoneli, residente do HRAC, e paciente participante durante sessão – Foto: Divulgação/HRAC

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Durante duas semanas, uma iniciativa reuniu em Bauru, em São Paulo, pacientes com fissura labiopalatina e fonoaudiólogos das cinco regiões do Brasil, com o objetivo de oferecer capacitação especializada aos profissionais sobre as melhores e mais modernas práticas e protocolos de tratamento, além de favorecer a reabilitação da fala das crianças e adolescentes atendidos.

As Semanas de Fonoterapia Intensiva foram realizadas no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, no período de 21 de novembro a 2 de dezembro, atendendo pacientes com idade entre 5 e 15 anos, dos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

“Os pacientes receberam duas sessões de fonoterapia por dia, de uma hora cada, sendo uma de manhã e outra à tarde. Também receberam orientações para mais dois treinos diários com a família, de acordo com o que foi trabalhado no dia. Quatro pacientes participaram, com 20 sessões cada, totalizando 80 sessões realizadas nesse período”, explica a fonoaudióloga Melissa Zattoni Antoneli, chefe técnica da Seção de Fonoaudiologia do HRAC.

Também participaram oito fonoaudiólogos que já atuam ou estão começando a atuar na área de fissura labiopalatina. Os profissionais são oriundos dos Estados do Pará, Roraima, Bahia, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Paraná. A Smile Train, maior organização filantrópica de fissura labiopalatina do mundo e parceira do HRAC, concedeu apoio para a vinda dos oito fonoaudiólogos a Bauru.

Segundo Melissa, “os profissionais participantes receberam material teórico previamente e foi ministrada aula de abertura com apresentação dos casos. Além do foco de capacitação e de assistência, a iniciativa tem também um viés acadêmico, visto que há participação de todos os residentes da área de Fonoaudiologia”.

“Esse é um projeto de capacitação e atualização piloto. A intenção é oferecer edições anuais, com um número maior de sessões e a abertura para profissionais de outros países participarem”, acrescenta a fonoaudióloga.

O projeto é coordenado pela Seção de Fonoaudiologia do HRAC, em parceria com a Smile Train. A iniciativa conta ainda com o apoio da Superintendência e do Departamento Hospitalar, além de profissionais das áreas de Cirurgia Plástica, Psicologia e Serviço Social e de professores do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, as professoras Maria Inês Pegoraro-Krook e Jeniffer de Cássia Rillo Dutka, coordenadoras do Programa de Fonoterapia Intensiva, e também a professora Ana Paula Fukushiro.

Aula de abertura com apresentação dos casos – Foto: André Boro/HRAC

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Imersão

A fonoaudióloga Mônica Melo de Carvalho atende pacientes com fissura labiopalatina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, no Serviço de Referência em Fissuras e Anomalias Craniofaciais (Sfac) da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.

Em 2019, ela e outras duas profissionais do Sfac participaram do Curso de Anomalias Congênitas Labiopalatinas promovido pelo HRAC. “Participamos do curso teórico-observacional de prótese de palato e ficamos entusiasmadas com a experiência e apaixonadas pelo Centrinho e pela qualidade dos profissionais que encontramos. De imediato cogitamos participar de algum curso voltado para terapia intensiva de fala para pacientes com fissura e fiquei muito feliz pela oportunidade de realizá-lo agora”, relata Mônica.

“Tive uma experiência riquíssima. Saí com uma visão mais ampla em relação às possibilidades de terapia fonoaudiológica para pacientes com fissura, bem como melhor percepção dos recursos que posso utilizar daqui em diante. A terapia fonoaudiológica com uso do CPAP [aparelho de pressão positiva contínua nas vias aéreas], o uso da nasofaringoscopia para biofeedback e cada recurso utilizado na terapia intensiva foram muito enriquecedores para a minha prática com fissurados. Saber que vou poder colaborar ainda mais para o tratamento dos pacientes do meu Estado é sensacional”, destaca a fonoaudióloga.

Débora Fragoso e a filha Isabella Zini – Foto: Tiago Rodella/HRAC

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Fonoaudiologia pela filha

A garota Isabella Maria Carneiro Zini, 6 anos, de Coronel Domingos Soares, no Paraná, foi uma das pacientes que participaram das Semanas de Fonoterapia Intensiva. Nascida com sequência de Pierre Robin (condição que apresenta fissura palatina e outras alterações), Isabella passou por várias hospitalizações nos primeiros anos de vida.

“Tive uma gestação de risco e a Isabella nasceu prematura, com 35 semanas. Ficou três meses em UTI, teve sepse. Sem contar toda a dificuldade para respirar e se alimentar, por conta da Pierre Robin. Tive que parar de trabalhar. Passamos por períodos bem difíceis”, recorda a mãe, Débora Carneiro Fragoso, 30 anos.

“Mas temos superado tudo isso. Hoje a Isabella está bem e se desenvolvendo como as outras crianças. Sou muito grata a Deus, a todos os profissionais do Centrinho, ao meu marido e à minha mãe que sempre apoiaram, e a todas as mães dos grupos que conversamos, que tanto nos fortalecem”, afirma.

A garota faz acompanhamento fonoaudiológico para reabilitação da fala. A dificuldade para encontrar uma fonoaudióloga habilitada e especializada em pacientes com fissura no interior do Paraná motivou Débora, inclusive, a iniciar neste ano a graduação em Fonoaudiologia, para ajudar no desenvolvimento da filha e, futuramente, até de outras crianças com alterações semelhantes.

“Eu vinha idealizando trazer a Isabella para ter essa oportunidade, porque na minha região não há profissionais que tenham a experiência que as fonoaudiólogas do Centrinho têm com os problemas de fala por conta da fissura. E foi maravilhoso, a realização de um sonho. Ver ela percebendo a diferença dos sons, sabendo como deve fazer e apresentando melhora. E ainda mais com as fonoaudiólogas que conhecem ela desde bebê e fazem esse acompanhamento com tanto amor e carinho”, ressalta Débora.

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Texto: Tiago Rodella, Assessoria de Imprensa do HRAC

 


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