Equipe da Poli trabalha a distância para projetar carro de corrida

O objetivo é criar um protótipo para participar da Fórmula SAE, que reúne anualmente estudantes de engenharia de todo o mundo

29/05/2020

David Ferrari

Reinventar se tornou uma palavra comum durante o período de distanciamento social por conta da pandemia da covid-19 e ela cabe bem quando se fala no caso da equipe Poli Racing. Trata-se de um projeto de extensão da Escola Politécnica (Poli) da USP que representa a Universidade na Fórmula SAE, competição com equipes formadas por estudantes de engenharia em um desafio que avalia a criação de protótipos de um minicarro de corrida, semelhante ao kart. A edição deste ano da competição está marcada para novembro e o grupo da Poli precisou buscar alternativas para continuar seu planejamento. As adaptações vão desde a reestruturação das metodologias de ensino, dirigidas aos novos ingressantes do grupo, inclusão de aulas ministradas a distância, até um maior acompanhamento dos testes computadorizados.

“Estamos elaborando uma série de videoaulas sobre alguns tópicos da equipe, que vão desde a nossa história até mesmo como pensa um engenheiro, para que os novos integrantes possam se sentir como parte da equipe”, destaca o coordenador de marketing da Poli Racing, Rafael Lacerda. Essa adaptação foi necessária porque todo ano a equipe trabalha a formação de novos alunos, que entram por meio de um processo seletivo, que este ano foi feito a distância. Os aprovados são divididos em subsistemas; depois participam de um processo de ensino que mostra o funcionamento, conceitos fundamentais a serem aplicados durante as fases de projeto, produção e avaliação, além de aulas dos softwares utilizados nos testes do protótipo. 

Clique e confira no vídeo como foi a temporada 2019 da Poli Racing, mostrando todas as fases do protótipo, desde o início com a parte de projetos até a competição de Fórmula SAE Brasil

Recalculando rota...

Normalmente, o trabalho da Poli Racing tem algumas fases: elaboração do projeto do carro, testes com o veículo do ano anterior para o reaproveitamento de alguns componentes, montagem e construção dos componentes do protótipo, além dos testes finais com o modelo produzido. De acordo com Rafael, o tempo total da produção é de dez a 11 meses, começando em janeiro e indo até novembro, quando ocorre a Fórmula SAE. 

No cronograma inicial, a equipe previa que a fase da elaboração do projeto iria até meados de maio. É nesse momento que se projeta como o carro será, quais os componentes que o integrarão e como será o seu desempenho. Como as atividades têm sido a distância, por home office, essa fase tem recebido maior atenção, afinal não é necessária a presença física para realizar os testes computadorizados. 

Por meio de simulações em softwares, os construtores conseguem criar um protótipo mais eficiente. “O objetivo é ter o melhor projeto e a maior quantidade de dados possíveis. Esses dados são muito importantes para uma das provas que acontecem na competição, que é a prova de design”, explica Rafael. Ela avalia o projeto do carro, a escolha dos componentes e os dados obtidos a partir das simulações. 

A Poli Racing decidiu ampliar o acompanhamento dos subsistemas. Os integrantes da entidade são divididos em Aerodinâmica, Chassis, Eletrônica, Freios, Powertrain, Suspensão, Manufatura e Marketing. Agora, cada coordenador desses subsistemas deve produzir pequenos relatórios para mostrar quais têm sido os progressos. Segundo Rafael, esse acompanhamento mais rigoroso contribui para que a equipe consiga ser eficiente mesmo a distância.

Como funciona a Fórmula SAE

A Fórmula SAE é a maior competição universitária do mundo entre estudantes de engenharia que ocorre em diversos países. A versão brasileira reúne alunos das principais universidades de engenharia do país, como USP, Unicamp e UFABC. Na competição de 2019, mais de 60 instituições de ensino superior participaram. 

Cada equipe deve produzir um protótipo de um veículo que é semelhante ao kart. Na avaliação, são diferenciadas as etapas estática e dinâmica. Na estática, há quatro critérios de avaliação:

inspeção técnica, que é uma análise para saber se o veículo atende aos critérios técnicos e de segurança para poder participar da competição (não vale pontos) – caso não atenda, a equipe é eliminada;

avaliação de custos e manufatura, que consiste na avaliação e precisão dos relatórios que mostram os custos para a produção de quatro veículos por dia (vale 100 pontos);

apresentação do protótipo a empresários, enfatizando a qualidade da apresentação do projeto e o poder de convencimento da equipe (vale 75 pontos);

e
projeto design do modelo, que avalia o veículo e analisa os testes feitos com os carros (vale 150 pontos).

Na etapa dinâmica, os critérios são:

aceleração, que é a performance do carro em um trecho retilíneo de 75 metros e deve ser completado, no mínimo, em 5,8 segundos (velocidade média superior a 46km/h) (vale 75 pontos);

skid pad
, que avalia o desempenho do veículo no trecho de curva (vale 50 pontos);

autocross
, que analisa a dirigibilidade e conforto do protótipo em meio a cenários comuns, como aceleração e frenagem, sendo avaliado o tempo decorrido em um percurso de 805 metros, composto por retas e curvas (vale 150 pontos);

enduro
, que avalia o desempenho geral do veículo, como confiabilidade e durabilidade, percorrendo 22 km em trecho misto, composto por retas e curvas, além da eficiência do veículo (no total, vale 400 pontos).

Sobre a Poli Racing

A equipe Poli Racing foi fundada em 2008 por estudantes da Escola Politécnica da USP. Voltada a contribuir na formação dos estudantes de Engenharia, a entidade consegue aplicar conceitos estudados durante a formação acadêmica à prática através da criação do protótipo. A iniciativa auxilia no desenvolvimento intelectual e científico dos alunos. O time atualmente é composto de mais de 60 pessoas, porém sem restrição de cursos. Qualquer estudante da USP pode participar.

Apesar da Fórmula SAE ter sido criada em 2005, somente quatro anos depois a equipe participou pela primeira vez da competição. Em sua estreia, alcançou a 6ª colocação geral, melhor resultado de uma estreante no desafio. A sua melhor participação ocorreu em 2013, quando ficou na primeira colocação em eficiência energética, além de ter conquistado a 5ª posição na classificação geral do mesmo ano. Na última participação, a equipe alcançou o 11º lugar no geral.

Equipe Poli Racing 2019 - Foto: Divulgação/Poli Racing

Não há requisitos para participar da Poli Racing. O processo seletivo ocorre semestralmente e qualquer aluno pode pleitear uma vaga na entidade. “Fazemos uma palestra institucional, onde apresentamos a equipe, o projeto e a competição, depois temos as entrevistas com os interessados em participar; seguimos com dinâmicas em grupo, aulas teóricas dos subsistemas que eles tiverem interesse e por último as aulas práticas”, explica Rafael Lacerda.

Para mais informações acesse www.poliracing.com