A professora Raquel Rolnik comemora a boa notícia que representa o achado de um quilombo na região do Bixiga, o que ocorreu durante as obras da linha 6 do Metrô. Ela explica que se trata de um processo natural, durante o licenciamento de grandes obras, realizar um trabalho de escavação arqueológica no local. “Mas a coisa mais importante é que, ao começar e anunciar as obras do Metrô, um movimento importante de moradores do Bixiga e do movimento negro de São Paulo começou a chamar a atenção para que as obras do Metrô e a futura linha do Metrô estão exatamente em cima de uma região que nasce como um quilombo e que, de acordo com o movimento, permanece como um dos principais territórios negros da cidade de São Paulo hoje e, a partir daí, começou a pressionar e exigir que todo um cuidado fosse feito ao se fazer a prospecção arqueológica e muito mais ao se pensar o impacto dessa obra para o Bixiga e para a cidade de São Paulo”, diz a colunista.
O fato é que a empresa de arqueologia encontrou novas evidências que podem realmente levar a constatar a presença desse quilombo naquele lugar, na região do Saracura, onde hoje se tem a Avenida Nove de Julho. “Ao fazer isso, o Iphan de São Paulo decidiu encaminhar para o Ministério da Cultura, mas também para a Fundação Palmares, que é o órgão do governo responsável pelo processo de certificação dos quilombos, para o Ministério de Igualdade Racial, para o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, para que também se posicionem institucionalmente sobre esse caso, porque agora não se trata mais de simplesmente fazer o rito burocrático necessário, administrativo, para poder liberar uma obra, mas, sim, de reconhecer a existência de um ciclo arqueológico, de reconhecer a existência de um quilombo mas, sobretudo, também, de reconhecer a persistência desse território negro na cidade de São Paulo, particularmente na região do Bixiga”, explica Raquel Rolnik.
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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