Produção de energia elétrica a partir de rejeitos aumenta a eficiência da indústria de celulose

Setor reaproveita o licor negro, biomassa de origem florestal. Mato Grosso do Sul desponta como o maior produtor de energia a partir desse subproduto no País

 17/10/2023 - Publicado há 7 meses     Atualizado: 20/10/2023 as 9:45
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O licor negro é classificado como uma biomassa de origem florestal de alto teor energético – Fotomontagem: Jornal da USP – Imagens: brgfx/Freepik, macrovector/Freepik e studiogstock/Freepik

 

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A geração termelétrica de energia pode ser obtida a partir dos mais diversos combustíveis, incluindo os renováveis e os não renováveis. Um exemplo é a indústria de celulose e papel, que aumentou a eficiência de seus processos por meio do uso dos rejeitos para geração de energia. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de celulose. O setor faz o aproveitamento energético por meio da recuperação química do licor negro, que é um subproduto do processo Kraft, o mais utilizado no País para a produção de celulose. Hoje, existe até mesmo o aproveitamento da própria matéria-prima, que é dispensada, assim como cavacos de madeira, restos de raízes, folhagens e cascas. 

“No processo Kraft, o ganho é multiplicado porque os químicos inorgânicos são restaurados e podem ser novamente incorporados ao processo. Isso evita o descarte e ainda libera calor para a cogeração de vapor e eletricidade”, diz Fernando de Lima Caneppele da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. O Kraft consiste no cozimento da madeira em um digestor, que separa a fibra da lignina utilizando o licor branco, que é uma solução de soda e sulfeto de sódio. O subproduto desse processo é a lignina agregada na forma de licor negro, junto à soda e ao sulfeto de sódio. Esses reagentes podem ser recuperados, o que aumenta a eficiência de todo o processo e ainda diminui o impacto ambiental e libera energia.

Licor negro

Fernando Lima Caneppele – Foto: Arquivo Pessoal

O licor negro é classificado como uma biomassa de origem florestal de alto teor energético. Ao ser queimado, libera calor que produz vapor para o processo e gera eletricidade. O uso do licor pode tornar o processo autossuficiente. Além disso, o excesso de eletricidade é injetado nas linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN), diz Caneppele. A maior parte da matriz energética brasileira é hídrica, com 55% da produção. Por sua vez, a biomassa é responsável por 8,76% da produção de energia elétrica nacional. O País possui 127 estabelecimentos que utilizam biomassa de origem florestal para geração de energia, com uma potência outorgada de 4.493.859,8 kW, segundo dados da Aneel. 

“O Estado do Mato Grosso do Sul (MS) é o maior produtor de energia a partir do licor negro, com três empreendimentos localizados na cidade de Três Lagoas, o que faz dessa cidade a maior produtora do País”, diz Caneppele. Com a instalação de um novo empreendimento, em Ribas do Rio Pardo (MS), é esperado que o Estado ocupe o primeiro lugar em pouco tempo. Já são 22 empreendimentos em operação que utilizam o licor negro, com uma potência outorgada total de 3.307.000 kW. 

*Estagiária sob supervisão de Paulo Capuzzo

texto alterado em 18/10 – 16h23


Boletim Energia Sustentável

Produção: Cinderela Caldeira, Alessandra Ueno, Julia Galvão, Guilherme Castro Sousa
Apresentação e Coprodução: Ferraz Jr.
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