Presença de água em asteroides não representa a existência de outras formas de vida

Especialistas Jane Gregório-Hetem e Roberto Dell’aglio Dias da Costa comentam a descoberta de moléculas de água na superfície dos asteroides Iris e Massalia

 Publicado: 04/04/2024
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Água congelada – Foto: Leonhard Niederwimmer – Pixabay
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Um grupo de cientistas norte-americanos encontrou pela primeira vez moléculas de água na superfície de asteroides. A equipe, liderada pela pesquisadora Anicia Arredondo, utilizou o Observatório Sofia, da Nasa, para observar os asteroides Iris e Massalia e o achado pode ajudar os cientistas a explicar a origem da substância no surgimento de planetas rochosos, como a Terra, e em outros astros.

Importância

Roberto Dell’Aglio Dias da Costa – Foto: Reprodução/Lattes

Segundo o professor Roberto Dell’aglio Dias da Costa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo, a água está presente em diversos objetos espaciais, como em Europa e Ganimedes, luas de Júpiter que possuem mais água que a Terra. Ele afirma que essa nova descoberta demonstra que a substância pode estar presente também em corpos celestiais de menores dimensões.

De acordo com o docente, uma grande parte da água presente na Terra foi obtida na chamada “era do bombardeamento”, período há cerca de 4 bilhões de anos em que uma imensa quantidade de asteroides e cometas colidiu com planetas do sistema solar. À época, a temperatura da Terra era extremamente elevada para reter o líquido, portanto, foram necessários esses eventos externos para a obtenção da substância.

“É importante ressaltar que essa água encontrada não está no estado líquido, ela está no formato de gelo. Muita coisa ainda precisa ser entendida e estudada para que se entenda completamente o ciclo completo da água no sistema solar, de onde ela veio, como ela se distribui e como se redistribui”, analisa.

Descoberta

Jane Gregório Hetem – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Conforme Jane Gregório-Hetem, professora do IAG, a técnica observacional utilizada pelos cientistas foi a mesma utilizada para a evidenciação de água na Lua, em que a característica espectral é observada em um comprimento de onda de seis micrômetros (µm), que é específico da molécula de água.

Para a professora, o novo achado também surpreende por causa do material formador de Iris e Massalia, o silicato, responsável pela composição de cerca de 90% da crosta terrestre. Objetos desse tipo são conhecidos como não hidratados por serem compostos de materiais refratários e, devido à sua formação muito próxima do Sol, a presença de água em sua estrutura é considerada extremamente difícil.

“Todos os componentes do Sistema Solar foram formados a partir de um mesmo material, nebulosa solar, e isso inclui tanto o Sol, a Terra e todos os outros planetas do nosso sistema, assim também como os corpos menores, como as luas, os asteroides e os cometas. As alterações na composição química de cada um desses astros vão depender da forma que eles evoluíram e como eles se distribuíram, ou seja, a que distância eles se encontram ao redor do Sol”, explica.

Água em Marte

Roberto Costa explica que moléculas de água já foram encontradas em outros objetos espaciais, como em Marte, mas em formatos diferentes. Enquanto a água nos asteroides foi descoberta na superfície, a substância está presente nas calotas polares do planeta vermelho, que  são compostas majoritariamente de dióxido de carbono (CO2) congelado, o qual costuma-se utilizar na Terra como gelo seco.

Ele conta que, apesar das novas descobertas, o ciclo da água no Sistema Solar ainda tem muito a ser estudado. “Marte tem na sua superfície marcas de erosão, mostrando que já houve água líquida na superfície, mas essa água não existe mais. Então, qual é o ciclo completo da água no sistema solar? Muito ainda precisa ser entendido nessa área”, esclarece.

Vida fora da Terra?

Para Jane Gregorio-Hetem, a presença de água em outros astros não representa necessariamente a existência de outras formas de vida fora da Terra. Ela afirma que ainda são necessários estudos mais aprofundados no tema a partir do aprimoramento das técnicas observacionais existentes, as quais podem contribuir para a análise de outras moléculas, inclusive mais complexas que a água.

“Encontrar água nesses asteroides não garante que a gente tenha a existência de outras formas de vida. Embora a água esteja sempre relacionada às formas de vida que nós conhecemos, são ainda necessários estudos para identificar e também caracterizar os outros ambientes astrofísicos que possam conter outros tipos de moléculas”, explica.


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