Plano bem estruturado poderia alavancar desenvolvimento da indústria no País

Segundo Paulo Feldmann, é necessário planejar e definir o papel do Estado no tocante a esse impulso em direção à industrialização, que deve priorizar setores que possam explorar fontes renováveis de energia

 23/05/2023 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 12/06/2023 às 11:25
O enfraquecimento industrial no País apresenta-se como reflexo do problema do ambiente de negócios no território nacional – Foto: Pixabay
Logo da Rádio USP

O desenvolvimento industrial no Brasil apresentou um regresso nos últimos anos. A questão reflete os históricos de países emergentes, que demonstram que é raro retornar ao avanço tecnológico uma vez que ele é pausado. Hoje, segundo análise realizada pelo Banco Mundial, o Brasil não se encontra nem mesmo entre os 17 principais produtores industriais do mundo. Além disso, a manufatura, que representava a quarta parte do PIB nacional, hoje não chega a atingir os 9%. 

Segundo o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP e pesquisador na área de política industrial da Universidade Fudan (China), no mundo, o Brasil é o país que mais se desindustrializou. Os motivos para isso ter acontecido são diversos e afetam outras áreas de políticas públicas brasileiras. 

Histórico 

O especialista comenta que é necessário compreender os motivos para isso ter acontecido, uma vez que o enfraquecimento industrial no País apresenta-se como reflexo do problema do ambiente de negócios no território nacional. Como exemplo, temos a logística de transportes no Brasil que, por ser rodoviária, além de cara, é pouco funcional. O País também apresenta uma carga tributária muito alta, que prejudica o desenvolvimento interno do setor industrial, e a qualidade da mão de obra ainda não atende às demandas necessárias.

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

O maior problema para a questão, no entanto, parece estar no fato de que não criamos nenhum apoio ou diferenciação para as empresas brasileiras. “Todos os países do mundo têm medidas, incentivos e formas de apoio às suas empresas locais. O Brasil é o único país que não apresenta esses incentivos”, adiciona Feldmann. É também interessante notar que o aparato legal brasileiro não auxilia os industriais, uma vez que mesmo as filiais estrangeiras são consideradas brasileiras quando localizadas dentro do País.

Para solucionar a questão, é fundamental protegermos as empresas locais. O professor comenta que ações são necessárias “para elas competirem em pé de igualdade com as estrangeiras”. Além disso, o Brasil precisa de um plano industrial bem estruturado, a formação deste foi postergada devido à crença de que o mercado resolveria a situação gradativamente, o que não aconteceu, por isso, é necessário planejar e definir o papel do Estado. 

Mudança 

Existem alguns setores que devem ser priorizados para alavancar o plano industrial em questão. Segundo Feldmann, alguns setores do passado não apresentam uma recuperação viável, mas reforça que o Brasil tem uma característica única: a abundância de fontes renováveis para geração de energia. 

O maior empecilho para o desenvolvimento dessas áreas, hoje, se encontra na ausência de conhecimento para a fabricação dos materiais necessários para o funcionamento dessas energias. Assim, o Brasil fica refém da exportação de materiais e equipamentos de outros países, quando poderia estar produzindo. Além disso, ele se apresenta como uma das maiores potências sustentáveis do mundo, mas o desenvolvimento de diferentes áreas deve ser incentivado para que isso ocorra. 

É importante destacar também que promover o setor industrial não significa que o setor agrícola vai ser deixado de lado, mas que uma nova área, que pode auxiliar no desenvolvimento social do País, vai apresentar mais atenção do setor público. Outro destaque importante para a temática é a necessidade de levar esse plano de forma duradoura, sendo importante entender que ele não deveria ser mantido por um único governo. 

 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.