A cobertura vacinal foi uma das principais responsáveis pela estabilização da doença em nível mundial -Fotomontagem: Moisés Dorado / Jornal da USP

Pandemia de covid-19 foi marcante por todos os aprendizados que deixou

Aluisio Cotrim Segurado e Gonzalo Vecina Neto fazem um balanço do legado da covid-19, destacando os pontos positivos e os negativos e o importante papel da ciência no enfrentamento da doença

 09/05/2023 - Publicado há 12 meses

Texto: Redação

Arte: Simone Gomes

Na última sexta-feira (5), membros da OMS (Organização Mundial da Saúde) se reuniram para rebaixar o nível mais alto de alerta sobre a covid-19, suprimindo a doença da categoria emergencial. Essa declaração, no entanto, não decreta o fim definitivo da pandemia. No Brasil, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, se pronunciou e pediu reforço dos governos para continuar a imunização da população. 

“A partir dessa declaração oficial da Organização Mundial da Saúde, há uma mudança do status internacional de reconhecimento da doença, que na verdade guia as ações internacionais dos órgãos gestores de saúde pública. Quando a doença estava considerada uma emergência sanitária de importância internacional, havia então a necessidade dos organismos internacionais coordenarem uma resposta articulada dos diferentes países numa situação emergencial”, explica Aluisio Cotrim Segurado, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, infectologista que participou do Comitê de Crise do Hospital das Clínicas em plena pandemia e Pró-Reitor de Graduação da USP.

O professor define pandemia como “as doenças cuja incidência acrescida têm uma distribuição global, elas não estão concentradas exclusivamente em uma região do mundo, mas, ao contrário, espalham-se por todos os continentes”.  Passada a situação emergencial, Cotrim afirma que “felizmente essa situação foi superada após três anos e hoje o que nós observamos é a expressiva redução mundial do número de casos, do número de hospitalizações, do número de óbitos por covid e da necessidade de utilização de UTIs, então não há mais necessidade de mantermos esse status de alerta internacional conhecido como emergência sanitária de importância internacional”. 

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Aluisio Augusto Cotrim Segurado - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Vacinação 

A cobertura vacinal é tida como uma das principais responsáveis pela estabilização da doença em nível mundial: “Num primeiro momento, a população humana era totalmente suscetível ao coronavírus, era um vírus novo, uma doença que chamamos emergente e que, portanto, encontrava hospedeiros totalmente desprotegidos. Com o passar do tempo, a comunidade científica internacional reagiu a partir do reconhecimento desse novo vírus e foi capaz, em um tempo também recorde, de desenvolver as vacinas capazes de induzir uma resposta protetora”, esclarece Cotrim.

O professor ainda lembra que o Brasil apresentou altas taxas de mortalidade, totalizando 10% do número de óbitos mundiais, mas que, agora, a situação será diferente: “As infecções, embora possam continuar a acontecer, não induzirão uma doença grave, porque a população encontra-se protegida no nosso país” e complementa que “[os casos] não pressionarão os serviços de saúde da forma como aconteceu em 2020 e 2021”. 

O especialista aponta que novas variantes do vírus continuam surgindo, mas que isso não representa perigo: “As novas variantes que continuam surgindo, e devem continuar surgindo, porque isso faz parte da evolução natural dos vírus, elas são variantes derivadas da ômicron, que são suficientemente cobertas pelos insumos vacinais de que dispomos hoje”. 

Cotrim destaca a importância das pesquisas feitas pela Universidade de São Paulo no período mais crítico de enfrentamento da pandemia: “Nós tivemos mais de 300 grupos de pesquisa envolvidos em responder às diferentes questões relativas à pandemia de covid-19. E, como você sabe, os grandes desafios do mundo moderno exigem uma pesquisa que seja transdisciplinar. Não é possível hoje resolver questões relativas aos complexos dilemas da nossa sociedade com uma visão disciplinar fragmentada, é preciso reunirmos profissionais de diferentes áreas, pesquisadores com diferentes saberes para que a gente possa dar respostas mais efetivas, e isso a Universidade de São Paulo pode ofertar, dada sua dimensão e a excelência dos seus quadros”, finaliza. 

Aprendizados

O professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP e ex-diretor da Anvisa, comenta que a pandemia de covid-19 foi muito marcante por todos os aprendizados que foram deixados para os indivíduos. Entre eles, o especialista reforça as lições do que foi feito de errado: “O Brasil representa cerca de 3% da população mundial, mas registrou 11% das mortes em todo o mundo. Esse número revela que cometemos muitos erros durante essa pandemia”.

É importante lembrar que, o aparecimento de novas pandemias pode acontecer e, por esse motivo, devemos aprender a lidar com elas de forma mais racional do que foi feito nos últimos três anos. “Chegou a hora de entendermos, por exemplo, que medicamentos milagrosos não funcionam e não solucionam nenhum dos problemas que apresentamos. Produzir essas medicações custa dinheiro, então temos que deixar a ciência dirigir os caminhos que devem ser tomados”, explica Vecina Neto.

 

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Professor Gonzalo Vecina Neto - Foto: Reprodução/FSP-USP

Além disso, o professor reforça também que as vacinas têm um papel essencial no combate à pandemia. Elas devem ser devidamente testadas e compreendidas pela população como uma forma adequada de enfrentar os micro-organismos. Assim, apesar de não dominarmos todas as tecnologias, devemos usar aquelas a que conseguimos ter acesso. 

O professor reforça ainda a importância de entendermos que as vacinas de reforço apresentam um papel essencial para a proteção em maior grau. Por isso, devemos levar em conta também a necessidade de vacinarmos primeiro parcelas da população que são mais vulneráveis, uma vez que grande parte da população periférica, por exemplo, continuou saindo de suas casas durante a pandemia para garantir a sua subsistência. 

Outro ponto que precisamos considerar é como as vacinas foram e seguem sendo fundamentais para a solução da questão.  “Não existe vacinação sem convocação. Temos que avisar as pessoas onde existem vacinas e estar preparados para vaciná-las. As unidades de saúde precisam ter um esquema de funcionamento adequado, isso depende de planejamento e comunicação”, adiciona Vecina Neto. A venda de soluções milagrosas para a pandemia, por interesses econômicos próprios, também foi um dos desafios que os profissionais da saúde tiveram que enfrentar para garantir a segurança populacional.


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