“O combate ético por excelência no Brasil é o combate à fome e à miséria”

Para isso, diz Renato Janine, os meios mais adequados são aqueles que inibam a corrupção, que se apresenta como outro grande problema ético do Brasil

 Publicado: 10/04/2024

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Segundo Renato Janine Ribeiro, o Brasil sofre com dois problemas éticos: a corrupção e a miséria. “De modo geral,  o pensamento conservador proclama corrupção como principal alvo e procura, de uma forma totalmente contrária às evidências, colocar a corrupção como se fosse obra de governos progressistas ou da esquerda, isso não aconteceu só no Brasil”. O colunista observa que o combate à corrupção é um combate a um meio que traz problemas sérios para o funcionamento do Estado brasileiro. Já o combate à miséria está ligado a um fim ético importante, “que é dar dignidade a todas as pessoas, não deixar ninguém morrer de fome, não deixar ninguém sucumbir à miséria, então há uma diferença: quando se combate a fome, se está num patamar mais alto, ético, do que o combate a um instrumento que é mal usado, como no caso da corrupção”.
O colunista argumenta que o combate à fome e à miséria é algo relativamente novo no Brasil e menciona isso como algo sistemático desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, “mas isso não é senão um tema que tem saído muitas vezes da caridade. Outros governos também falaram em combater a fome, mas eles faziam isso por meio da caridade ou de instrumentos, eles próprios suscetíveis de corrupção”. Janine Ribeiro exemplifica seu ponto de vista com a cesta básica. Em tempos passados, nos casos de crises de natureza socioeconômica, como as secas no Nordeste e outros eventos climáticos ou não climáticos, “era muito comum o governo fornecer cestas básicas cuja chegada ao beneficiário final passava em grande parte pelos prefeitos e deputados, servindo assim de moeda de troca política”.
A situação mudou a partir da criação do Bolsa Família: “Quando entra o Cadastro Único no fim do governo Fernando Henrique e o Bolsa Família já no governo Lula, nós temos uma coisa muito mais criteriosa; se, no cruzamento do CPF do beneficiário, se notar que ele não precisa, ele não vai receber o recurso. É isso que tem que ser feito; agora, também é necessário haver uma gestão criteriosa disso, lembremos que, no governo Bolsonaro, o Auxílio Emergencial foi pago a funcionários públicos, foi pago a pessoas de alta renda, ou seja, eles deixaram de fazer o mínimo, que é cruzar os CPFs; então vejam, o combate ético por excelência no Brasil é o combate à fome e à miséria, é dar dignidade a todos; para isso, os meios mais adequados são os meios que inibam a corrupção; esses meios são em boa parte favorecidos hoje pelos cruzamentos da internet, isso pode ajudar. Não temos de jogar uma causa contra a outra, mas temos que ficar muito atentos à manipulação política do tema da corrupção, como foi feito, aliás, pelo pessoal da Lava Jato”.

Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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