Mesmo com saída de Trump, imprensa deve estar atenta ao papel fiscalizador

Carlos Eduardo Lins da Silva acredita que o governo de Donald Trump estimulou uma postura crítica da imprensa e aponta como negativo um arrefecimento desse espírito no governo Biden

 29/03/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 05/04/2021 as 10:45

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O início de 2021 veio com uma marca negativa para os principais jornais norte-americanos. Comparados janeiro e fevereiro, The Washington Post e o The New York Times perderam, respectivamente, 26% e 17% das visitas únicas a seus sites. Comparando fevereiro de 2020 com o mesmo mês em 2021, as quedas foram de 7% e 16%. A tendência aparece há quase três meses da posse do novo presidente Joe Biden e em um momento de recrudescimento da pandemia em solo estadunidense.

O jornalista e professor Carlos Eduardo Lins da Silva explica essa mudança em sua coluna Horizontes do Jornalismo: “Isso era mais ou menos esperado e não se deve só à saída de [Donald] Trump do governo, porque o ano passado principalmente foi um ano cheio de notícias, além das notícias provocadas pelo Trump. Teve eleição, que é sempre um momento em que as pessoas procuram mais informações em veículos de comunicação, teve a pandemia, que fez com que muita gente fosse procurar os veículos jornalísticos, e agora as coisas, pelo menos nos EUA, estão mais calmas em termos de pandemia e acabaram em termos de pandemônio provocado pelo Trump”.

O professor Lins da Silva esclarece apontando que o governo de Donald Trump, marcado muitas vezes pelas distorções e ataques à imprensa, reforçou uma postura combativa dos jornais. “Em geral, quem procura a informação independente procura também a informação crítica, e uma das coisas positivas do governo Trump para a imprensa foi a de que ele acabou atiçando esse espírito crítico a um nível bastante elevado. Isso é bom para imprensa, para a sociedade e para a democracia.”

Com a chegada de Joe Biden ao poder, notou-se que o tom crítico não é tão intenso. Lins da Silva enxerga com preocupação: “Acho que voltar atrás e tratar o presidente Biden como a corporificação do bem e não questioná-lo nos seus eventuais erros é negativo para a imprensa e vai prejudicar ainda mais essa trajetória descendente de circulação que se está verificando nos Estados Unidos”.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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