Intenção do governo de mudar proporção de votos na Eletrobras pode gerar impactos

Na avaliação de Pedro Luiz Côrtes, caso o governo consiga uma decisão favorável, poderia gerar uma série de ações na justiça, além de criar uma instabilidade entre as empresas que são acionistas da Eletrobras 

 12/05/2023 - Publicado há 12 meses
A lei de desestatização foi feita para reduzir a chance de que algum grupo privado assumisse o controle da empresa, que é estratégica para o País – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Logo da Rádio USP

O governo federal deseja ampliar sua participação no Conselho da Eletrobras. Mesmo com 43% das ações, ele detém apenas 10% dos votos, assim como os demais sócios majoritários. Esse número foi definido nas discussões sobre a privatização da empresa e, para mudar a proporção dos votos, o governo solicitou à Advocacia Geral da União (AGU) que entrasse com ação no Supremo Tribunal Federal. 

Esse máximo de 10% consta na Lei 14.182/21, chamada de lei de desestatização da Eletrobras. Segundo Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, “[a lei] foi feita para reduzir a chance de que algum grupo privado assumisse o controle dessa empresa, que é estratégica para o País, então é o conceito de corporação: nenhum sócio tem uma quantidade muito grande de votos, exatamente para evitar que ele tenha uma predominância no conselho”. 

Discussões sobre a privatização 

Na análise de Côrtes, a solicitação do governo pode gerar impactos internos: “A privatização da Eletrobras, goste-se dela ou não, foi amplamente discutida no Congresso e eu particularmente acredito que vai ser difícil reverter isso no STF; caso o governo consiga uma decisão favorável, isso na verdade poderia gerar uma série de ações na justiça e vai criar uma instabilidade entre as empresas que são acionistas da Eletrobras”. 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Para ele, uma saída possível seria alterar pontos específicos, os chamados “jabutis”, incluídos na privatização: “Por exemplo, a obrigatoriedade de construir gasodutos para termelétricas localizadas em regiões distantes, sem que isso fosse fruto de um planejamento estratégico. Ou seja, termelétricas a gás serão construídas em determinados locais onde não há infraestrutura de distribuição de gás e ficará por conta do governo a construção desses gasodutos. Esse é um exemplo de um dos jabutis que foram colocados na lei. O foco, eu acredito, deveria ser na elaboração de uma política energética que priorizasse essa geração elétrica a partir de fontes renováveis”. 

O professor explica que as medidas mais recorrentes são pontuais e estão longe de constituírem políticas energéticas e políticas públicas: “Eu não vejo chance de sucesso nesse pleito do governo, exatamente por conta disso criar uma instabilidade jurídica e, enquanto isso, nós perdemos a oportunidade ou deixamos de olhar para frente para criar políticas públicas que façam diferença daqui para frente”. 

Desarticulação 

A composição do conselho da Eletrobras já está posta, o que faz com que a tentativa de mudá-la com a ação do Supremo Tribunal Federal seja ineficaz, como argumenta Côrtes: “A chance de tentar mudar isso via STF, eu considero particularmente uma tentativa já de cara infrutífera, não me parece que o STF vai dar um parecer favorável a esse pleito. Como eu disse, isso cria uma insegurança jurídica”. O especialista complementa que o debate com o Congresso deveria prevalecer: “Isso tem que ser discutido no Congresso, com o Congresso, em projetos de lei amplamente debatidos, onde o governo tem a garantia de que os seus pleitos serão pelo menos minimamente atendidos ou aprovados. Tentar via STF é de certa forma desprezar o que foi feito no Congresso, sem articulação política e sem conversa”.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.