Por meio da inteligência artificial é possível transmitir informações e instruções às pessoas de como sair do local onde acontece um incêndio – Foto: Pixabay

Inteligência artificial e internet das coisas podem salvar vidas em situações de emergência

Paulo Miyagi comenta estudo realizado pela Escola Politécnica, o qual demonstra que o avanço tecnológico dos sistemas de segurança prediais é essencial para salvar vidas

 31/01/2023 - Publicado há 1 ano

Texto: Redação

Arte: Rebeca Fonseca

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O dia 27 de janeiro deste ano marcou dez anos da tragédia da Boate Kiss, a catástrofe que ceifou 242 vidas e deixou cicatrizes não apenas no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, mas no Brasil inteiro. Esse é um exemplo extremo do que a negligência e falta de preparo, treinamento e boas condições de segurança podem causar. Nesse cenário, um estudo comprovou que o avanço da automação de sistemas de segurança é determinante para que as pessoas saiam ilesas e vidas sejam salvas. 

O uso de tecnologia possibilita novas soluções que contribuem para a segurança das pessoas em prédios, em casos de emergência, mais especificamente em incêndios. “A ideia é ter um programa computacional que consiga replicar as decisões do ser humano. Se tiver qualquer situação de emergência, fumaça ou alguma coisa, as pessoas recebam a devida instrução de como poder sair desse local ou evitar o problema”, diz Paulo Miyagi, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e Sistemas Mecânicos da Escola Politécnica da USP e membro do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos. 

Por meio da inteligência artificial, é possível transmitir informações e instruções às pessoas de como sair do local onde acontece o incêndio. De outro lado, muitas coisas vão estar conectadas e recebendo informações por meio da internet das coisas, o que permite uma coleta de dados e uma maior eficiência no combate às emergências. 

Uso prático

Miyagi explica que prédios geralmente possuem vários sensores de movimento e temperatura que podem ser aprimorados com essas tecnologias. “Numa fase inicial, em que algum desses sensores detecta aumento de temperatura ou alguma fumaça, alguma coisa acima do normal, esse sistema coleta as informações. [Assim], a inteligência artificial é utilizada para identificar se aquilo pode ser um princípio de incêndio ou princípio de alguma coisa mais grave”, diz. Automaticamente, os sistemas de ar condicionado e de portas começam a ser acionados de forma que o fogo não se alastre, a fumaça seja redirecionada e as pessoas sejam gradativamente avisadas das ações que devem ser tomadas.  

Por meio desse estudo, feito em laboratório dentro da Escola Politécnica da USP, em conjunto com alunos da graduação e pós-graduação, “ficou comprovado que, se você conseguir passar as informações na hora certa, com algum tipo de treinamento, algum tipo de instrução, em qualquer situação de emergência que a gente simulou, a chance de todo mundo poder sair sem nenhum problema é de mais de 80%”, explica o professor.

Isso significa que, usando inteligência artificial e a internet das coisas, existe uma chance de quase 100% das pessoas envolvidas em situações de emergência saírem ilesas. O fato de ser possível uma ação coordenada e praticamente simultânea por conta da internet facilita que todos sejam avisados e possam receber instruções claras e eficientes de evacuação. Caso contrário, como é a situação dos prédios de hoje, não vai haver instrução e a situação pode piorar, com quase 80% de chance de alguém sair machucado, diz o professor. 

Paulo Miyagi – Foto: Arquivo Pessoal

Imprescindível é ter gente treinada para dar apoio. “Todo mundo hoje usa muito smartphone, né? Usa para entretenimento. Mas a gente realmente poderia aproveitar e usar isso de uma forma mais eficiente. Num prédio a gente não tem treinamento nenhum, mas, se houver uma emergência, o smartphone pode ser usado para a gente ensinar qual que é a melhor saída”, explica Miyagi. “Você teria, por exemplo, o número de celular dos seus funcionários e imediatamente poderia ser disparada uma mensagem de alerta”, complementa. Esse é um exemplo de como mitigar o prejuízo das emergências.

Custo de implementação

Do ponto de vista econômico, se há produção em massa, o custo cai. Individualmente, o custo pode ser elevado. “A gente está falando de segurança, quer dizer, qual o custo disso, né?”, lembra o engenheiro. Hoje, muitas das tecnologias, que antes eram vistas como caras, tornaram-se acessíveis por conta do aumento do uso. Além disso, uma boa estrutura de comunicações, softwares e algoritmos é um investimento de longo prazo e fundamental nos dias atuais. “A tecnologia está evoluindo. A tendência é que o sistema se modernize. Qualquer sistema novo de segurança já tem que considerar esse tipo de ambiente e usar melhor isso. Quer dizer, ele já está fazendo uma modernização para o entretenimento, então dá para garantir uma segurança”, diz. 

Porém, ele lembra que “a inteligência artificial não vai poder ser usada e explorada se a gente não estiver no mesmo nível. A gente tem que estar tão preparado quanto as máquinas”, finaliza Miyagi. 

 


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