Incertezas rondam o cenário da indústria nacional

O professor Carlos Vian repercute dados do “Boletim de Conjuntura Industrial do Setor Metal-Mecânico” e argumenta que, apesar da expectativa de melhora, ainda restam dúvidas a respeito do desempenho da indústria

 23/11/2022 - Publicado há 1 ano
A indústria automobilística é uma das que estão registrando um pequeno crescimento – Foto: Wikipédia
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O Boletim de Conjuntura Industrial do Setor Metal-Mecânico relativo ao mês de outubro mostra uma expectativa de melhora por parte do indicador de confiança empresarial. Porém, o professor Carlos Vian, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, pontua alguns fatores internos que influenciam uma certa moderação pelos empresários: “Existe uma expectativa de que talvez as coisas possam melhorar para o ano que vem, mas a gente ainda está vivendo as incertezas: a incerteza da eleição, agora incerteza do período de transição. Tudo isso afeta, de uma certa maneira, o desempenho da indústria”.

Vian ainda analisa o nível da produção segundo dados do boletim: “Nós estamos vivendo, em termos de acompanhamento de produção, uma situação relativamente estável nos últimos meses. Tivemos uma baixa muito grande da produção industrial em geral com a pandemia, depois tivemos uma certa recuperação. Mas, quando a gente olha para alguns indicadores, por exemplo, para a utilização de capacidade, alguns setores crescem um pouquinho, caem no mês seguinte, mas a tendência é de uma relativa estabilidade“.

Antecedentes

Por mais que a pandemia, a política chinesa de “covid zero” que dificulta a importação de matérias-primas e componentes, a guerra da Ucrânia — que trouxe graves problemas sociais e energéticos — e fatores internos façam uma grande diferença na produção industrial, alguns problemas nesse setor já eram vistos: “A gente já tem alguns problemas específicos do setor industrial há algum tempo pela situação de adoção de uma estratégia de internacionalização um pouco maior, de inserção nas cadeias produtivas globais. Como muitos setores se tornaram importadores de certos componentes, desnacionalizando a produção interna, a opção era comprar o componente importado, fabricado na Ásia principalmente, e montar aqui”, analisa o professor.

Carlos Vian – Foto: Cepea/Esalq-USP

A pandemia mostrou que o risco de uma grande internacionalização ocorre quando se depende demais das importações. Porém, para Vian, a nacionalização, ou seja, o combate à desindustrialização nacional, não ocorre de forma rápida: “Quando acontece algum problema lá, a gente tem problemas aqui, só que essa nacionalização não acontece de forma rápida. Estamos vendo alguns movimentos no setor de componentes eletrônicos. Até mesmo o governo já sinalizou uma tentativa de atrair alguma fábrica para a gente começar a ter uma certa produção interna, mas isso é algo que demora. Até identificar alguém interessado em fazer um projeto, a instalação é algo que demora de três a quatro anos. A gente vai começar, provavelmente, a ver o movimento de retomada da produção em alguns setores para equilibrar essa inserção da composição interna e produtos importados”.

Expectativas

“Um setor que cresce um pouco é o que a gente chama de bens duráveis, que engloba automóveis, eletroeletrônicos em geral. A meu ver, ele está sendo puxado um pouco pela conjuntura desses próximos meses: está entrando na Copa, então teve um certo movimento de compra de alguns tipos de produto; a oferta de automóveis melhorou um pouco. Mas isso mostra uma certa melhora nesse setor especificamente, os outros ainda continuam com o desempenho relativamente baixo”, analisa o professor.

A inflação é uma grande preocupação da economia brasileira e isso não é diferente no âmbito industrial. Vian comenta sobre preços indexados, isto é, aqueles que aumentam anualmente como pedágio, contas de luz, água e realimentam o processo inflacionário. “[A inflação] É um fantasma. A gente tem um medo de ela voltar a acelerar, como aconteceu no passado. Hoje a gente está olhando e vendo que tem uma certa tendência de a inflação se manter. Isso é um problema que afeta o nosso poder de compra, a gente está vivendo um momento de baixo crescimento econômico, o orçamento das empresas já está apertado”, acrescenta Vian.

Todos esses fatores, sejam eles internos ou externos, influenciam no desempenho da produção. O professor ressalta: “Realmente é uma preocupação como vai ser esse desempenho da produção a partir do ano que vem, a tentativa de resolver esses problemas Esperamos que, com a entrada do novo governo, a gente comece a ter algumas medidas um pouco mais efetivas para atacar algumas dessas questões. Esperamos que as coisas melhorem”.


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