Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 90% dos brasileiros adultos passaram por alguma perda ou extração de dente permanente e cerca de 14 milhões perderam todos os dentes da arcada. O professor Paulo Frazão, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que entre as mulheres esse dado é ainda maior: uma em cada quatro mulheres brasileiras já perderam metade da arcada dentária. No Nordeste, região com maior incidência de perda de dentes, um em cada três já perderam metade da arcada.
Segundo conta Rodrigo Elias de Oliveira, pesquisador do Instituto de Biociências da USP e especialista em Periodontia (estudo da gengiva), as principais causas para a perda de dentes são três: “Fora o trauma, ou seja, uma pancada forte ou uma agressão, as duas doenças que levam a pessoa a perder os dentes são a tradicional cárie e a periodontite, doença na gengiva”.
O pesquisador explica que a cárie é um problema que pode acontecer desde o começo da vida, também com maus hábitos de higiene bucal, mas a periodontite costuma acontecer a partir da vida adulta, o que explica porque é mais comum ver pessoas mais velhas apresentando falta de dentes.
Mas o especialista explica que tanto a cárie quanto a doença periodontal podem ter fatores genéticos: “São doenças multifatoriais, elas dependem de vários fatores e em alguns o indivíduo tem como interferir, em outros não. O que ele não pode interferir pode estar ligado à genética e ancestralidade desse indivíduo, formato do dente ou mesmo a produção salivar”.
Reposição do dente perdido
Depois que o dente cai, existem algumas opções de substituição. O paciente pode utilizar uma prótese, ou dentadura fixa, ou pode utilizar uma prótese móvel, aquela que apresenta uns ganchinhos e arames para poder ser retirada, higienizada e recolocada.
A solução mais eficiente é o implante dentário, que parafusa o dente postiço diretamente na mandíbula. É um procedimento mais complexo, que pode durar alguns meses, dependendo do processo de recuperação do paciente, mas que requer menos manutenção. Mas, mesmo parecendo melhor, Elias de Oliveira explica que o implante não é mais adequado em todos os casos: “Ele tem um risco, como qualquer outro tratamento. Mas até pelo fato de ser mais caro, ele não é necessariamente o melhor. Às vezes uma prótese é mais rápida, mais acessível economicamente e também funciona” explica Oliveira.
Segundo ele, o mercado de próteses dentárias não opera numa lógica de procurar o que é melhor para o paciente: “Ele não está preocupado com a eficiência, muito menos no cliente. Andando pelas ruas de grande movimento na cidade de São Paulo, você vai ver um monte de propaganda de implante e a preços às vezes bem baratos, mas mesmo esses casos ainda não são acessíveis a qualquer pessoa”, completa.
Cobertura do SUS
O professor Paulo Frazão explica que os implantes dentários dificilmente são cobertos pelo Sistema Único de Saúde: “São poucos os municípios brasileiros que oferecem esse tipo de tratamento no SUS. O tratamento mais acessível pelo SUS é a confecção de prótese dentária para substituir os dentes perdidos e existem mais de 1.200 centros de especialidade odontológica distribuídos pelos municípios”, expõe Frazão.
Para Oliveira, o preço dos implantes poderia ser menor para ser mais acessível à população, mas a atenção da saúde pública deve estar voltada principalmente para a prevenção de problemas dentários: “Se tivéssemos um processo de cuidado e de acompanhamento das pessoas com maior frequência, com campanhas do governo e da sociedade civil para prevenir a perda dentária, não precisaríamos ficar pensando se vai colocar prótese ou implante. A gente fica um passo à frente”.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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