Edição, substantivo feminino

Homens continuam sendo maioria no mercado editorial e mulheres ainda ficam um pouco na penumbra, destaca Marisa Midori

 08/12/2023 - Publicado há 7 meses
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Na última coluna do ano eu gostaria de homenagear todas e todos os profissionais do mundo do livro, do editor aos livreiros, do revisor ao designer, do autor ao mediador de leitura, isso sem esquecer os ilustradores, bibliotecários, curadores de feiras, festas, festivais… enfim, o ecossistema do livro tem se tornado cada vez mais rico e diversificado, embora seja necessário lançar luz sobre uma parcela muito significativa dessas pessoas que concorrem para a criação e promoção do livro e da leitura no País. E é por esse motivo que eu homenageio os profissionais do livro celebrando a publicação de Mulheres que Editam, organizada por Cecília Castro, Ana Elisa Ribeiro e Samara Coutinho (um belo volume da Editora Entretantas).                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

Eu conheci a Samara aqui em São Paulo – aliás, meu exemplar é autografado – e fiquei muito animada com o trabalho, ou melhor, os trabalhos que essas meninas de Minas Gerais têm realizado em termos de pesquisa sobre o mercado editorial, desvelando personagens, questões, informações que ainda não foram bem equacionadas ou mesmo investigadas. 

É preciso lançar luz sobre as editoras e todas as profissionais que desbravam dia a dia um setor que por séculos foi muito masculino. Desde o pequeno mundo da tipografia da Europa do Antigo Regime, o que se observa, nos levantamentos historiográficos, é a hegemonia de trabalhadores, de operários homens que dominam a produção desde os trabalhos gráficos até o gerenciamento da produção e venda dos livros. É verdade que muitas mulheres, sobretudo as viúvas, foram as principais responsáveis pela continuidade de famílias de impressores-editores que sobreviveram durante séculos no ramo livreiro. Mesmo no Brasil, no século 19, as viúvas não raro assumiam os negócios de seus falecidos esposos, o que nos faz crer que elas já atuassem no mundo do livro. No entanto, à sombra dos maridos. 

Mas neste livro não há espaço para sombras e silêncios. Os verbetes são todos dedicados às mulheres do livro. Como se lê no prefácio, “é um livro lacunar, mas gritantemente aberto aos gestos que agreguem e preencham”. São 125 verbetes que reconstroem os perfis de 125 mulheres que romperam as barreira do silêncio e do esquecimento para mostrar que o fazer editorial, em todas as suas dimensões, é, também, uma tarefa feminina. Afinal de contas, edição é um substantivo feminino.

Um feliz 2024 para todos.


Bibliomania
A coluna Bibliomania, com a professora Marisa Midori, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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